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Tinga se emociona e diz sentir preconceito ao andar com sua mulher loira

Do UOL, em São Paulo

16/02/2014 12h34

O meio-campista Tinga, do Cruzeiro, fez um desabafo e disse que sente preconceito racial não só quando joga futebol, mas também no dia a dia. Relatou esse ter tipo de sentimento quando vê olhares tortos quando anda ao lado de sua mulher, que é loira.

Em entrevista à TV Globo, emocionado e com olhos marejados, disse que o preconceito ocorre não só no Peru, mas também no Brasil, onde sente que não só negros, mas também pessoas de classes mais baixas são preteridas em relação a quem tem melhores condições econômicas.

“As pessoas olham quando chego com minha esposa, ninguém conhece minha história. Ninguém sabe (como é a relação), e num olhar você sente que as pessoas pensam ´olha o negão com uma loira´. Isso eu sinto toda hora", falou em entrevista ao programa Esporte Espetacular.

“Todo mundo fala da situação que ocorreu lá (no Peru), mas isso tem todo dia. Em um simples olhar das pessoas, tem toda hora no nosso país, não só racial, mas social, que é até maior. Se você tem condições boas, é famoso, conhecido, ninguém diz não. Sou um cara que nunca me empolguei no futebol. Nunca me empolguei com vitórias e conquistas. Não tem como me abalar com coisas pequenas”, continuou.

O jogador disse que seus dois filhos, Davis, de 11 anos, e Dani, de seis, ficaram chateados com o episódio e o mais novo não quis nem ir à escola. Mas ele conta que usou disso para educar suas crianças para que não sejam pessoas preconceituosas.

“Falei pra ele (Dani) ir no colégio porque as crianças gostam dele. E pra quando ele ver qualquer questão de preconceito, seja sexual ou racial, que lembre do pai porque será importante para o seu crescimento.”

Tinga foi alvo de racismo da torcida do Real Garcilaso, na última quarta-feira, durante a estreia na Libertadores, quando a equipe celeste foi derrotada por 2 a 1. O evento comoveu todo país e as personalidades do meio do futebol, que manifestaram apoio ao jogador de diversas formas.

Toda a repercussão do caso fez com que a Conmebol se mobilizasse. Tanto que a entidade sul-americana já abriu uma investigação preliminar sobre o caso e deve instaurar um processo nos próximos dias. Segundo o presidente do Tribunal Disciplinar da entidade, Caio César Vieira Rocha, o julgamento deve ocorrer em duas semanas.

Além dos torcedores, os jogadores e o técnico Marcelo Oliveira também manifestaram apoio ao volante e aguardam por punições. “Em relação ao Tinga foi um assunto bastante debatido pela importância e esperamos que haja punição na mesma proporção”, comentou o técnico Marcelo Oliveira.