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Crise argentina coloca pressão sobre "ricos" brasileiros na Libertadores

Jogadores do Atlético Tucumán, que tem folha salarial dez vezes inferior ao gasto do Palmeiras - @ATOficial/Twitter
Jogadores do Atlético Tucumán, que tem folha salarial dez vezes inferior ao gasto do Palmeiras Imagem: @ATOficial/Twitter

Do UOL, em São Paulo

07/03/2017 12h00

Agendado para esta terça-feira (07), o início da fase de grupos da Copa Libertadores de 2017 será especial para times de Argentina e Brasil, países com mais títulos na história da principal competição de clubes do continente. De um lado, a maior crise da história da modalidade. De outro, elencos recheados de estrelas, salários astronômicos e um contingente jamais visto no torneio.

Até por isso, há um elemento de pressão extra sobre os brasileiros. Há casos como o Palmeiras, que teve folha salarial de R$ 10 milhões mensais na última temporada. O time alviverde vai debutar em duelo com o Atlético Tucumán, time argentino que gastou pouco mais de R$ 1 milhão a cada 30 dias de 2016.

A comparação não é cruel apenas nesse duelo. O Flamengo também vai estrear na quarta-feira (08), contra o San Lorenzo, no Maracanã. O estádio estará lotado – mais de 40 mil ingressos já foram vendidos – para ver nomes como Diego e Guerrero com a camisa rubro-negra. Para o rival, a ordem é defender. “É um dos [rivais] mais difíceis. Eles jogam bem, e nós temos de ter cuidado com os atacantes. Vamos atacar com paciência e inteligência”, avisou Paulo Díaz, defensor da equipe argentina, em entrevista ao jornal “Olé”.

A preocupação do San Lorenzo com o Flamengo tem a ver com a questão técnica, evidentemente, mas também escancara o atual momento dos argentinos. Sem jogos oficiais desde dezembro do ano passado, os vizinhos sul-americanos encontram-se mergulhados em uma das maiores crises de sua história.

O futebol argentino está parado por dívidas dos clubes com jogadores. Na última quinta-feira (02), uma reunião na sede da AFA (Associação de Futebol da Argentina) acabou sem qualquer desfecho positivo para o futebol local. A rodada que estava agendada para o último fim de semana foi postergada para o próximo, mas ainda não há qualquer convicção de que os jogos sejam realizados.

A crise argentina foi deflagrada pela morte de Julio Grondona, cartola que comandou a AFA com mão de ferro durante anos. A eleição para a presidência do órgão, realizada no fim de 2015, acabou com empate entre Luis Segura e Marcelo Tinelli – cada um teve 38 sufrágios. O único problema: havia apenas 70 votantes.

No dia 24 de fevereiro, a AFA mudou seu estatuto e deixou a cargo do colégio de advogados de Buenos Aires a definição dos candidatos habilitados em eleições da entidade esportiva – essa atribuição era anteriormente do comitê de ética da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). A Fifa rechaçou o novo modelo e ameaçou suspender a entidade, o que pode até afetar a seleção argentina, que ainda tenta classificação para a Copa do Mundo de 2018. Ainda não houve solução para o impasse.

Em meio ao caos político e econômico, as quatro divisões do futebol argentino estão paradas. Alguns clubes devem a seus jogadores há mais de cinco meses, e o governo ainda não repassou à AFA os US$ 33 milhões referentes à rescisão do contrato de cessão dos direitos e mídia do Campeonato Argentino. Os atletas pedem que esse dinheiro seja repassado diretamente a eles.

O San Lorenzo e o Godoy Cruz, adversário do Atlético-MG na primeira rodada da fase de grupos, farão na Libertadores as primeiras partidas em 2017. O Estudiantes, rival do Botafogo na próxima terça-feira (14), disputou apenas amistosos até agora.

A crise dos argentinos é especialmente relevante por questões técnicas. O país venceu as edições de 2014 (San Lorenzo) e 2015 (River Plate) da Libertadores, e ainda que o atual detentor da taça seja o colombiano Atlético Nacional, a tradição dos rivais sempre preocupa os brasileiros, que não ficam com o título desde 2013 (Atlético-MG).