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"Herdeiro de Iniesta", baixinho do Monaco é obstáculo à Juve na Champions

Thomas Lemar, meia-atacante do Monaco - Pascal Guyot/AFP
Thomas Lemar, meia-atacante do Monaco Imagem: Pascal Guyot/AFP

Do UOL, em São Paulo

03/05/2017 04h00

Não é exagero dizer que Andrés Iniesta mudou a história do futebol. Forjado nas canteras do Barcelona, o meio-campista de 32 anos passava longe de ser unanimidade quando chegou aos profissionais. Era uma opção ao brasileiro Ronaldinho Gaúcho, titular dos catalães no lado esquerdo do ataque, e disputava minutos com o francês Ludovic Giuly. A história começou a mudar quando houve uma reformulação no elenco, e o baixinho ganhou espaço em outro setor. Dividindo com Xavi Hernández a armação, criou uma simbiose que enfileirou taças na galeria blaugrana e sustentou o momento mais prolífico da seleção espanhola em todos os tempos. Foi Iniesta, aliás, o autor do gol do título na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

Xavi, 37, já deixou o Barcelona e a seleção espanhola. Iniesta ainda não encerrou seus ciclos nessas equipes, mas tampouco tem registrado desempenhos condizentes com os anos de auge. Entre o ocaso de um e a rota descendente de outro, é natural que surjam candidatos a herdeiros de tudo que os dois armadores se tornaram. Nesta quarta-feira (03), o Monaco apostará fortemente em um desses nomes: Thomas Lemar, francês de 21 anos, é o cérebro da maior surpresa entre os semifinalistas da Liga dos Campeões, que receberá a Juventus às 15h45 (de Brasília).

A comparação entre Iniesta e Lemar não é fortuita. Ambos são baixinhos – o espanhol tem 1,71m, e o francês mede 1,70m –, atuam como armadores e conseguem conciliar qualidade no toque de bola com enorme repertório de dribles. O meia do Monaco é o jogador de sua equipe que mais distribuiu passes na Liga dos Campeões da atual temporada (357, com 84% de acerto).

O próprio Lemar já falou abertamente sobre o quanto enxerga Iniesta como um modelo. Assim como o espanhol, o jogador do Monaco enfrentou problemas por causa da altura. Nascido em Guadalupe, território ultramarino da França no Caribe, o meio-campista chegou a ser rechaçado em escolinhas por ser baixo demais.

A trajetória de Lemar só mudou graças a Philippe Tranchant, que visitou Guadalupe em 2008 para acompanhar as atividades da Solidarite Scolaire Academy. O meio-campista tinha 12 anos, era notadamente menor do que seus companheiros de escolinha, mas desfilava um nível técnico que chamou atenção do observador.

Tranchant indicou Lemar ao Caen, que contratou o jogador em 2010. O próprio observador chegou a trabalhar novamente com o meio-campista, mas como técnico nas categorias de base do time francês.

Assim como Iniesta, Lemar também sofreu por um amadurecimento tardio para os padrões do futebol. Nas duas primeiras temporadas como profissional, teve poucas oportunidades – foi titular em apenas seis partidas do Campeonato Francês 2014/2015, por exemplo.

Curiosamente, a trajetória de Lemar mudou justamente num dos jogos em que ele foi relegado ao banco de reservas. Em abril de 2015, o meio-campista disputou apenas 26 minutos do embate contra o Monaco. Foi o suficiente para chamar atenção do time do principado, que aceitou desembolsar 4 milhões de euros (R$ 13,79 milhões) pelo atleta.

O preço baixo tem relação direta com o fato de Lemar não ser unanimidade no Caen daquela época. Nem mesmo a saída de Kante, que havia deixado a equipe para ser um dos destaques do surpreendente time inglês Leicester, abriu espaço para a promessa.

O início de Lemar no Monaco voltou a registrar elementos do que o meio-campista havia tido como trajetória no Caen: desempenho errático, com bom nível em alguns compromissos e pouca sequência entre os titulares. Na época, o técnico Leonardo Jardim chegou a dizer que o francês “não estava preparado, mentalmente e fisicamente, para fazer algo como 40 partidas numa temporada”.

Aos poucos, porém, Lemar foi derrubando estereótipos e desconfianças. Na atual temporada, tornou-se o responsável pelo ritmo do meio-campo do Monaco. É o principal articulador de uma equipe de vocação extremamente ofensiva.

A atual temporada já é a melhor da carreira de Lemar sob qualquer aspecto. O francês já bateu recordes pessoais de minutos em campo, passes tentados, passes concluídos, chutes a gol, assistências e bolas nas redes. Marcou 19 vezes em toda a carreira profissional, e 13 aconteceram nesta campanha.

Em novembro, Lemar debutou na seleção francesa. Depois disso, conseguiu levar o Monaco à semifinal da Liga dos Campeões e despertou cobiça de todos os principais clubes da Europa. Enquanto o atacante Kylian Mbappé, 18, desponta como mais assediado da equipe na próxima janela de transferências, o armador é visto por uma série de equipes como alguém que oferece um pacote raro e menos valorizado.

Lemar não é o único candidato ao legado de Iniesta. Há outros nomes com perfil similar, como o meio-campista italiano Marco Verratti, 24, do Paris Saint-Germain – o armador é outro fã declarado do espanhol. A três partidas do término da Liga dos Campeões, o camisa 27 do Monaco tem uma enorme oportunidade de ganhar pontos nessa corrida pelo status de herdeiro de seu ídolo.