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Real sobe de nível em campanha do bi, evita "sufocos" e fortalece Zidane

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

04/06/2017 04h00

A conquista do Real Madrid na Liga dos Campeões, com vitória por 4 a 1 sobre a Juventus na final, foi a primeira vez que um mesmo time conseguiu dois títulos seguidos desde que o torneio ganhou a nomenclatura atual, na edição 1992/93. Só que a conquista não foi importante só pelo feito inédito. O modo como a equipe de Zinedine Zidane triunfou mostrou evolução coletiva de um ano para o outro e fortaleceu o treinador.

Se no título do ano passado o Real sofreu para controlar seus jogos e passou por vários sufocos na fase de mata-mata, a situação foi totalmente diferente em 2017, mesmo diante de adversários mais fortes. Com quase os mesmos titulares, o time parou de apostar tanto na velocidade para atacar e encontrou um equilíbrio maior para defender.

Na campanha do título de 2016, o Real só teve vida mais fácil nas oitavas de final, diante da Roma (vitórias por 2 a 0 nos dois jogos). Nas quartas, perdeu o jogo de ida para o Wolfsburg por 2 a 0 e precisou de uma reviravolta heroica no Bernabéu, vencendo por 3 a 0 com três gols de Cristiano Ronaldo.

Na semi, mais dificuldade: dois jogos sem brilho com o Manchester City, que só não terminaram ambos 0 a 0 por causa de um gol contra de Fernando no Bernabéu, que deu a vaga ao Real. Na decisão, muito suor para empatar por 1 a 1 com o Atlético de Madri e vencer nos pênaltis.

Em toda essa trajetória, mesmo com o título, o Real várias vezes foi dependente do contra-ataque e da bola parada para conseguir abrir as defesas rivais, e teve problemas defensivos com um meio-campo espaçado e pouco ajudado pelos atacantes. Além disso, Cristiano Ronaldo, com problemas de desgaste físico, foi praticamente anônimo nas partidas finais. Tudo isso mudou de um ano para o outro.

Amadurecimento tático e gestão do elenco

Cristiano - Darren Staples/Reuters - Darren Staples/Reuters
Mais poupado durante a temporada, CR7 foi decisivo na reta final da Champions
Imagem: Darren Staples/Reuters

Com uma temporada a mais de experiência no comando de um time de ponta e respaldado pela conquista da Liga dos Campeões do ano passado, Zidane mostrou nítida evolução. O Real de 2016/17 foi um time que controlou seus adversários, teve variações, soube o momento certo de acelerar e teve muito mais força coletiva, no ataque e na defesa.

O caminho no mata-mata da Liga, colocado lado a lado com a do ano passado, mostra isso. Duas vitórias por 3 a 1 sobre o Napoli despacharam o time italiano nas oitavas de final; nas quartas, em um duelo duríssimo contra o Bayern de Munique, o Real venceu fora por 2 a 1 e em casa por 4 a 2, na prorrogação.

Foi o único susto maior da campanha, contra um time da elite mundial, mas foi também o ponto onde Zidane começou a mostrar seu amadurecimento na parte tática. Sem o lesionado Bale, apostou em Isco e não insistiu no 4-3-3, mudando o sistema para um 4-4-2. Isco foi meia-atacante com a bola e voltou para formar uma linha rígida de marcação no meio-campo sem ela. As excelentes atuações do meia espanhol neste ano foram um dos achados do treinador para melhorar o Real como time.

Na semifinal, o mesmo Atlético de Madri que havia dado tanto trabalho na decisão do ano anterior. Mas o domínio do Real foi gritante desta vez. A equipe envolveu completamente o rival no jogo de ida e venceu por 3 a 0 no Bernabéu, tanto que, mesmo com a derrota por 2 a 1 na partida de volta no Vicente Calderón, em nenhum momento deu a impressão de que perderia a vaga.

A evolução atingiu seu ápice na final contra a Juventus. Diante de um time que havia sofrido só três gols durante toda a Liga dos Campeões, o Real fez quatro. E Cristiano Ronaldo, de novo, foi decisivo. O camisa 7 marcou nada menos que dez gols nos últimos cinco jogos da campanha.

Cristiano, aliás, foi tão letal na reta final da temporada justamente por causa de outro acerto de Zidane: a rotação inteligente do elenco. Normalmente avesso a ser substituído, desta vez o astro português aceitou reduzir seu papel em jogos menos importantes para estar 100% no momento de levantar os troféus. Jogou cerca de 500 minutos a menos que na temporada passada, e ele mesmo admitiu que dosar seu tempo em campo, aos 32 anos, foi fundamental.

Zidane não conseguiu agradar a todos os jogadores com o sistema de rodízio – James Rodríguez, por exemplo, ficou fora até do banco da final da Champions e provavelmente deixará o clube. Mas o crescimento do Real Madrid bicampeão mostra que, além de ter jogadores que estão entre os melhores do mundo em todas as posições, o clube caminha para consolidar também um craque de terno no banco de reservas.