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Estrela do Shakhtar, Marlos foca na Champions. Mas não esquece o São Paulo

Marlos Shev - Florion Goga/Reuters - Florion Goga/Reuters
Técnico da Ucrânia, o ex-atacante e ídolo Shevchenko ganhou muitos elogios de Marlos
Imagem: Florion Goga/Reuters

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

21/02/2018 04h00

Marlos está diferente, premiado e muito mais maduro. A começar pelos cabelos quase 100% grisalhos que ele finalmente assumiu, mas a mudança também passa por um crescimento como atleta. Enquanto pensa em um retorno ao Brasil, no entanto, o meia precisa focar no presente: nesta quarta-feira (21), às 16h45, tem a missão de guiar o Shakhtar Donetsk à vitória contra a Roma.

“É uma equipe italiana muito respeitada na Europa e extremamente tática, tem a marcação como seu forte. Nós temos um time que tem um ataque muito forte, que mantém a posse de bola e tem intensidade. Acredito que nós temos condição de fazer um grande jogo e, quem sabe, conseguir uma vitória”, disse o jogador, ainda tímido aos 29 anos, ao UOL Esporte.

Tímido só nas entrevistas, vale ressaltar; dentro de campo, Marlos está brilhando na seleção ucraniana, que passou a defender desde que se naturalizou em setembro do ano passado, e no próprio Shakhtar, onde atua desde 2014/2015. Na atual temporada, já fez 13 gols e deu 9 assistências em 27 partidas.

Marlos - Sergiy Kozlov/AP - Sergiy Kozlov/AP
Imagem: Sergiy Kozlov/AP

Desempenho que o fez ser eleito como o melhor jogador da Ucrânia em 2017 e dono do gol mais bonito do ano (veja o lance acima). Além disso, no último jogo antes do duelo contra os italianos na Liga dos Campeões, foi o grande nome da goleada por 5 a 0 sobre o Chornomorets, com dois gols e três assistências.

“Acredito que é um momento da minha vida e da minha carreira que está sendo muito especial. Estou em um grande clube, onde aprendi a ser um atleta. Acredito que esse momento é o melhor da minha carreira e da minha vida pessoal”, avaliou Marlos, que é muito respeitoso ao falar sobre Alisson, goleiro brasileiro da Roma que terá que enfrentar.

“Vive um grande momento e é um grande goleiro. Já fez um grande trabalho no Brasil e está fazendo um grande trabalho na seleção brasileira. Não é à toa que é um homem de confiança de Tite. Sabemos da importância que ele tem na equipe, assim como os outros jogadores da Roma, que são muito fortes física e tecnicamente. Vai ser um jogo muito difícil”, acrescentou.

Carinho pelo São Paulo permanece

Uma breve análise nos comentários do Instagram de Marlos mostra o quanto as torcidas do Brasil se interessam pelo seu futebol, em especial a do São Paulo. Aos 29, ele não tem um retorno ao Brasil como prioridade para o futuro próximo, mas disse acreditar que poderia assumir um papel importante em uma equipe brasileira. Inevitavelmente, o Tricolor se mostra como opção.

Marlos - João Neto/VIPCOMM - João Neto/VIPCOMM
Imagem: João Neto/VIPCOMM

“O São Paulo é um clube que eu teria um interesse muito grande se fosse voltar para o Brasil. Se o clube tivesse o interesse, eu assimilaria muito bem. Eu tenho muita admiração. Se houvesse o interesse de ambas as partes, seria um passo muito grande para um acerto”, afirmou. “Aprendi a ter um carinho muito grande. Fico feliz de algumas pessoas terem esse reconhecimento de que eu evoluí como atleta. Se hoje eu voltasse, seria muito diferente. Seria um jogador totalmente diferente.”

“Hoje eu estou preparado para chegar em um clube do Brasil e ser um líder de uma equipe, de ser extremamente importante. Coisa que no São Paulo não tive a oportunidade de fazer pela idade, pelo momento em que saí do Coritiba. Tudo era muito novo. Hoje eu acredito que é diferente, já estou preparado para assumir um cargo importante em qualquer equipe que eu vá. Tenho a cabeça muito boa, experiência em competições internacionais”, voltou a afirmar.

Apego pela Ucrânia pesa contra retorno ao Brasil

Marlos prêmio - divulgação - divulgação
Imagem: divulgação

Apesar de se mostrar receptivo nas respostas anteriores, Marlos não vê uma volta ao país como provável por um motivo simples: o mesmo sentimento competitivo que o motiva para o jogo desta quarta, contra a Roma.

“É difícil dizer, porque hoje eu jogo uma Champions League. Abrir mão dessas competições para voltar para o Brasil é difícil... Mas é óbvio que um dia eu penso em voltar, jogar em um grande clube”, disse o meia.

Não é segredo que Marlos também é muito apegado ao Shakhtar e à própria Ucrânia, país que abriu os braços para ele na sociedade e na seleção. “Eu tenho um carinho muito grande pelo Shakhtar, que me acolheu muito bem. Sou muito feliz aqui dentro, é muito difícil jogar em outro clube na Ucrânia. Peguei um amor muito grande pelo clube, pelas cores do Shakhtar. Dificilmente abriria mão disso para jogar em outro time daqui”, comentou.

O brasileiro só tem elogios para a experiência sob o comando de Shevchenko, famoso ex-atacante ucraniano e atual técnico da seleção local. “Me ajudou muito no país, foi a pessoa que teve diretamente o interesse de que eu participasse da seleção. Comecei a falar com ele muito antes de me naturalizar. Tenho uma admiração muito grande não só pelo que fez no futebol, mas pelo que fez comigo. Tem um coração muito bom”, exaltou.

Embora não consiga se sentir tão ucraniano quanto brasileiro, Marlos foi abraçado pela seleção do leste europeu. “Eu tenho o respeito de todas as pessoas da Ucrânia, até por tudo o que fiz pelo país e pelo Shakhtar. Na seleção não é diferente. Eles sabem o jogador que eu sou, então a aceitação foi muito boa. A naturalização foi uma forma de agradecer ao país pela forma que me recebeu”, afirmou.

Quando questionado sobre o que faria se pudesse voltar ao passado e mudar qualquer coisa, o meia foi categórico. “Quando você é menino e sai do seu país, você tem uma preocupação muito grande. Mas eu não mudaria nada do que fiz, tive a escolha certa”, respondeu.

Marlos não é mais um menino, como fica claro pela resposta acima e pelo tom de seus cabelos, mas a fase atual indica que ainda tem muita bola pela frente. “Eu comecei a ficar grisalho muito novo, com 21 anos já tinha muito cabelo branco. É herança dos meus pais. Antigamente eu pintava, fazia coisa para esconder. Hoje eu assumi mesmo, não tento mais mudar. Deixo do jeito que tá, natural. Vai continuar assim até o fim da minha carreira, vou fazer o quê?”, divertiu-se.