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Súmula do Atletiba relata falha de credenciamento; 4º árbitro critica vídeo

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em Curitiba (PR)

20/02/2017 18h24

O árbitro Paulo Roberto Alves Júnior relatou na súmula do clássico entre Atlético-PR e Coritiba que profissionais contratados pelos dois clubes para a transmissão do jogo via internet estavam sem credenciamento e identificação dentro do gramado. De acordo com o relato, a permanência deles gerava “insegurança para iniciar a partida e feria o regulamento da competição”.

Na súmula, o árbitro relata que dirigentes dos dois clubes entraram no gramado para pedir que a partida fosse iniciada.

“Que o Sr. Mauro Holzmann (Diretor de Marketing do CAP), juntamente com a sra. Tatiana Ribeiro (diretora de comunicação do CAP) compareceram ao setor de credenciamento, pois jornalistas não credenciados queriam entrar e não foi liberada sua entrada, isto foi explicado para eles que sem o credenciamento dentro do prazo o qual deveria ter sido realizado no site da FPF, na quinta-feira anterior ao jogo, os profissionais não poderiam ficar no entorno do gramado. Ao que ele disse que "os profissionais entrariam e que a partida teria transmissão SIM". Após isso o diretor de marketing do CAP ainda indagou qual seria a posição da supervisão de imprensa caso os profissionais adentrassem ao gramado. Ao que ela respondeu que orientaria os NÃO CREDENCIADOS a se retirarem do entorno do gramado e caso isto não acontecesse, a partida não poderia ser iniciada e ainda seria feito um relatório de toda a situação”, escreveu o árbitro na súmula.

O documento chega a citar o técnico Paulo Autuori, do Atlético-PR. No relato, o treinador teria saído do banco de reservas e ido em direção à equipe não credenciada dizendo: “ninguém sai desse local”. A frase teria sido ouvida e repassada ao trio de arbitragem pelo 4º árbitro, Rafael Traci.

Traci, inclusive, foi um dos protagonistas de um vídeo que aumentou a polêmica no domingo (19). Nele, o 4º árbitro diz textualmente ao vice-presidente do Coritiba José Fernando Macedo: "[A ordem]...vem do próprio presidente Hélio Cury. O pessoal não pode transmitir, por que não é a detentora do campeonato. É isso que a gente recebeu de informação. Se continuar eles (sic) dentro do campo nós não podemos iniciar a partida”.

A súmula ignora o flagrante da declaração do quarto árbitro. Em contato exclusivo com o UOL Esporte, Traci sintetizou o episódio como algo seletivo: “Não tenho nada a declarar. Vamos deixar isso para frente. Não vou falar nada. O vídeo é editado, só aparece o que as pessoas querem. Não vou dar bola pra isso, não”.

Em entrevista ao UOL Esporte nesta segunda-feira (20), o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Hélio Cury, negou que tenha se comunicado com Rafael Traci. "Mostra o despreparo dele. Primeiro que eu não falei com ele, tenho que falar com meu observador, com o presidente da comissão. Nunca com o quarto árbitro".

Assim como a Federação Paranaense, a Globo negou qualquer interferência no cancelamento da partida. De acordo com a emissora, não existe contrato com Atlético-PR e Coritiba para transmitir o Estadual em 2017.

''O Grupo Globo não tem contrato vigente com Atlético-PR e com o Coritiba nesta edição do campeonato paranaense. Portanto não temos interferência na decisão dos clubes e da Federação de não realizar a partida. Entendemos que cabe aos clubes dispor livremente dos direitos nos jogos em que se enfrentam, e estávamos cientes inclusive da transmissão via Internet'', afirmou a emissora por nota.

Os árbitros foram orientados pela assessoria jurídica da Associação de Árbitros a não falarem sobre o episódio. Mesmo assim, a reportagem do UOL Esporte conseguiu também um contato com o árbitro central, Paulo Roberto Alves Jr., que foi curto sobre a possibilidade de a ordem para a não-realização da partida ter saído de Hélio Cury por causa dos direitos de TV, com base no flagrante citado acima. “Não ouvi nada sobre isso. [O que aconteceu] É o que foi relatado em súmula. Isso vai pra tribunal, temos a orientação de não falar.”

O Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná agora aguarda uma possível denúncia da procuradoria. O presidente do TJD-PR, Leandro Rosa, pediu pressa na condução do caso. “Eu avisei a procuradoria, direcionei um pedido especial para que saia o mais breve possível. Se oferecer a denúncia o processo vem pra mim, recebo eventualmente e se for o caso, designo para julgamento. Precisa se analisar primeiro qual o ilícito e a quem caberia. Não posso entrar nisso, pois essa análise é da procuradoria”, disse.

Atlético, Coritiba, dirigentes dos clubes Federação Paranaense, e o conjunto de arbitragem podem ser denunciados no Artigo 203 do CBJD, que prevê de multa (R$ 100 a R$ 100 mil), perda de pontos em favor do adversário – o que não se aplica – e até mesmo exclusão dos envolvidos da competição.

O jogo foi remarcado pela FPF para a quarta-feira de cinzas, 1 de março, 20h, na Arena da Baixada. Nos bastidores, os clubes confirmam que mantém o interesse em transmitir o jogo pela Internet.

Entenda o caso

Sem acordo com a TV Globo para a negociação dos direitos de transmissões de suas partidas no Campeonato Paranaense, Atlético-PR e Coritiba acertaram a transmissão via internet do clássico do último domingo (19). Antes de a bola rolar, porém, a Federação Paranaense alegou problemas de credenciamento dos envolvidos pela transmissão.

Os clubes se negaram a jogar sem a transmissão e a partida não aconteceu. Jogadores dos dois times entraram em campo de mãos dadas para se despedir da torcida e voltaram ao vestiário logo depois. A torcida na Arena Baixada gritou "vergonha" e protestou contra a FPF e a Rede Globo.

Confira a súmula completa

“Segue abaixo relato discriminativo dos fatos ocorridos e que não permitiram a realização da partida entre as equipes do clube Atlético Paranaense e Coritiba Foot Ball Club, no estádio Joaquim Américo pela 5a rodada do Campeonato Paranaense da 1a divisão 2017

Quando retornamos para o vestiário, após nosso aquecimento no gramado fomos informados pela Sra. Julia Abdul Hak (supervisora de imprensa da FPF) que havia pessoas não credenciadas gramado, as quais iriam trabalhar na transmissão da partida. A mesma informou que a deveria ser iniciada enquanto aqueles jornalistas não credenciados estivessem naquele local. Ato continuo, a sra. Julia Abdul relatou-me uma situação ocorrida alguns minutos antes, no setor de credenciamento da imprensa para trabalhar no jogo, consoante segue abaixo:

“Que o Sr. Mauro Holzmann (Diretor de Marketing do CAP juntamente com a sra. Tatiana Ribeiro (diretora de comunicação do CAP) compareceram ao setor de credenciamento, pois jornalistas não credenciados queriam entrar e não foi liberada sua entrada, isto foi explicado para eles que sem o credenciamento dentro do prazo o qual deveria ter sido realizado no site da FPF, na quinta feira anterior ao jogo, os profissionais não poderiam ficar no entorno do gramado. Ao que ele disse que "os profissionais que a partida teria transmissão SIM.” Após isso o diretor de marketing do CAP ainda indagou qual seria a posição da supervisão de imprensa caso os profissionais adentrassem o gramado. Ao que ela respondeu que orientaria os NÃO CREDENCIADOS a se retirarem do entorno do gramado e caso isto não acontecesse a partida não poderia ser iniciada e ainda seria feito um relatório de toda esta situação.

A Sra. Julia ainda nos relatou que neste momento o Sr. Mauro Holzmann asseverou que os credenciados iriam ao gramado de qualquer jeito. Informou-nos ainda a supervisora de que estes jornalistas acabaram adentrando ao entorno do gramado por outro mas não pelo principal, onde todos os profissionais credenciados entraram.

Repiso que esta informação foi repassada pela Sra. Julia Abdul, pois estávamos no gramado em trabalho de aquecimento para a partida.

Após isso, foi realizado todo o protocolo, ou seja, entrada dos clubes e equipe de arbitragem em campo, execução dos hinos estadual e nacional e realização do sorteio com os capitaes. Entrementes, já havia um esforço do delegado da sr. Fabio A. Gomes e Sra. Julia Abdul Hak, no sentido de retirar as pessoas nao credenciadas do entorno do campo, para o início da partida no horário previsto, contudo, neste momento novamente o sr. Mauro Holzmann disse textuamente que a equipe transmissão não deixaria o local onde se encontrava, isto é, o entorno do gramado.

Com efeito, foi solicitado pelo 4° árbitro, Sr. Rafael Traci, junto ao Tenente Brito (Comandante do Policiamento do campo), para que este fosse até a equipe não credenciada, exigindo sua saída, vez que havia 18 (dezoito) não credenciadas e não identificadas no entorno do campo, gerando insegurança para iniciar a partida e ferindo o regulamento da competição. O Sr. Mauro Holzmann, que se encontrava próximo, disse ao tenente que ninguém sairia do local onde se encontravam. Mesmo assim houve inúmeras tentativas através de diálogo entre o delegado da partida equipe de arbitragem, supervisora de imprensa da FPF e comando do policiamento. porém sem êxito.

Também devo ressaltar que vários dirigentes de ambas as equipes adentraram ao campo de jogo, entre eles os identificados: Atlético Paranaense – Sr. Luiz Emed (Presidente); Marcio Lara (vice-presidente) Mauro Holzmann (diretor de marketing): Dra. Regina Bortoli (jurídico) Da equipe do Coritiba Foot Ball Club, Sr. José F. De Macedo (vice-presidente) Ernesto Pedroso (ex-vice-presidente); Alex Brasil (diretor de futebol), Rafael Zucon (supervisor de futebol); Rodrigo Weinhardt (setor de comunicação). Todos solicitando que a partida fosse iniciada.

Os dirigentes citados acima foram orientados que a partida seria iniciada somente após a retirada aquelas pessoas não credenciadas, sendo que após o pedido do Comando Policial, os mesmos se recusaram a sair entorno do campo de jogo, além de serem incentivados pelos dirigentes citados, para não deixarem o local se encontravam. Neste momento, o Sr Paulo (técnico do clube Atlético Paranaense), saiu do seu banco de reservas e foi em direção a equipe não credenciada dizendo: "ninguém sai desse local.” Frase ouvida e repassada pelo 4° árbitro, Sr. Rafael Traci.

Decorrido o prazo de 30 minutos conforme reza o regulamento, o Maior Emerson (comandante geral do policiamento), adentrou ao campo de aproximou da equipe de arbitragem, onde nesse momento se encontrava próximo o sr. Luiz Emed (Presidente do CAP), tentando remover a ideia do dirigente de manter aqueles elementos no entorno do campo de jogo, o Major alegou que seria interessante ouvir a determinação do arbitro, vale dizer, que ele pedisse para aqueles não credenciados saírem dali alegou ainda que presidente deveria utilizar o bom senso, pois do contrário, se a polícia militar fosse tentar tirar à força aqueles jornalistas, poderia haver um grande tumulto em funçao do enorme público presente ao estádio e que estavam descontentes com toda aquela situação, porém novamente o Dirigente do CAP não deu ouvidos ao Comandante e não quis retirar os não credenciados.

Com isto e já passados 30 minutos do horário inicial da partida, de acordo com o regulamento, houve nova tentativa no intuito de retirar a equipe credenciada para que a partida fosse iniciada. Neste momento, o Sr. Luiz Emed (Presidente do CAP), informou para a arbitragem que a equipe sem credenciamento não deixaria aquele local. Diante desta colocação, o quarteto de arbitragem, com base no regulamento da competição, bem como informação recebida pela Supervisora de lmprensa da Federação Paranaense de Futebol, decidiu não dar início a partida, retirando-se do campo de jogo.

Curitiba/PR, 19 de fevereiro de 2017.”