Topo

Decepcionado como auxiliar, Carille quase deixou Corinthians no fim de 2016

Fábio Carille no Corinthians, em 2010: auxiliar e interino virou ponto forte - Fernando Santos/Folhapress
Fábio Carille no Corinthians, em 2010: auxiliar e interino virou ponto forte Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Dassler Marques e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

05/05/2017 04h00

Os planos para se tornar treinador estavam muito vivos na cabeça de Fábio Carille no ano passado. Se hoje está prestes a vencer o Campeonato Paulista e seguir os passos de Mano Menezes e Tite, campeões pelo Corinthians nos últimos dez anos, em dezembro ele imaginava que a carreira de técnico começaria fora do Parque São Jorge. Em pouco tempo, tudo mudou a favor dele, auxiliar do clube desde 2009 e escolha que se mostrou certeira e, de certa forma, evitou que Carille ficasse mais uma vez no quase.

A mudança foi no fim de 2016, quando Carille era só um membro da comissão técnica do time que fez água no Campeonato Brasileiro. Depois de diversas breves oportunidades como interino, ele via a direção correr atrás de treinadores renomados para o ano seguinte e, decepcionado, fez planos de deixar o clube. Essa é só uma das dez histórias que o UOL Esporte conta sobre o treinador alvinegro, um dos grandes personagens do Corinthians que disputa a final do Paulista.

Em 1995, depois de se destacar pelo XV de Jaú como lateral esquerdo, ele chegou ao Corinthians, permaneceu por quatro meses e foi embora sem sequer estrear. Deixou lembranças com Zé Elias, Vítor e Elivélton, companheiros de elenco na ocasião, além do então treinador Eduardo Amorim. Quis o destino que Carille voltasse ao mesmo clube para escrever suas páginas, de fato. Abaixo, veja histórias de Fábio Carille jovem, jogador, auxiliar e treinador, enfim.

Tite abraçou Carille e se desculpou por não leva-lo à seleção

Carille flertou com a ida à seleção duas vezes. Primeiro na era Mano, quando ainda era inexperiente e entendeu as razões. Já na segunda, ao lado de Tite, esperava uma oportunidade, mas a escolha foi por Sylvinho. Fábio participou de uma reunião semanas depois em que ouviu do técnico as razões e compreendeu. Eles chegaram a se abraçar. "O mais difícil no futebol é escolher os 11, na seleção, numa comissão, mais ainda. Ele tinha qualidade para estar aqui", diz Cléber Xavier, auxiliar de Tite.

Em 2016, Carille cogitou deixar Corinthians para voo solo

Diferentemente de auxiliares que assim permanecem a vida toda, Carille sempre teve planos de virar treinador. No último ano, embora não tenha admitido publicamente, esperava ter sido efetivado. Na queda de Oswaldo de Oliveira, o presidente Roberto de Andrade descartou o nome de quem viria a escolher. Carille, decepcionado de início, fez consultas a agentes e vislumbrou sair para trabalhar em outra equipe.

"Ele sempre vinha dizendo que estava pronto para iniciar a carreira de treinador", conta Joaquim, pai de Fábio. "Talvez seria esse ano, talvez seria em outra equipe. Se não fosse esse ano, ou quem sabe no outro, acho que ele sairia do Corinthians para começar por outra equipe. Ele sentia que estava próximo, mas como ficou bastante tempo no Corinthians, se sentiu muito bem e era muito querido, talvez se sentisse em casa e se acomodou um pouco", explica o pai, com menção ao fato de que Carille adiou uma saída do Parque São Jorge.

Amigo de colégio e de ataque virou cunhado de Carille

Carille (terceiro em pé da esq para dir) e Mazer (sexto da esq para dir em pé) no time da Usina São Geraldo, em 1986 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Carille (terceiro em pé da esq para dir) e Mazer (sexto da esq para dir em pé) no time da Usina São Geraldo, em 1986
Imagem: Arquivo Pessoal

Mazer e Fábio se conheceram aos quatro anos de idade em Sertãozinho e começaram a jogar futebol juntos aos nove. "No salão, ele era muito bom de bola. Éramos os artilheiros do time em Sertãozinho. Sempre convivemos na casa dele e ele na minha. Nessa época, se tinha cinco, seis ou dez, todos comiam na casa dele, uma comida simples. Tivemos uma infância muito bonita", recorda.

Mazer era o craque da turma, foi jogar no Comercial e parou aos 23 anos. Fábio seguiu carreira e ganhou o Brasil como jogador, auxiliar e técnico, mas eles seguiram unidos. Pela amizade e porque Mazer se casou com a irmã do treinador corintiano. "O que ele está vivendo é emocionante para todos nós. Fábio é amigo de todos, sempre foi uma pessoa observadora e focado no que queria. Conseguiu por mérito mesmo. Nunca vi ele alterado. Se perguntar para os 25 da nossa turma, todos vão dizer o mesmo", atesta.

Lateral, Carille chegou ao Corinthians e saiu sem jogar

Em 1995, aos 22 anos, Carille chegou do XV de Jaú para atuar no Corinthians, que havia sido campeão paulista e da Copa do Brasil com Eduardo Amorim. Voltou em 1997, mas jogou muito pouco. "Chegou para avaliações e acabou emprestado. Vieram outros jogadores do interior com ele, depois o Corinthians emprestou para pegar experiência. Comigo, ele treinou e não jogou. Até era para ele ficar, mas como o time estava engrenado, saiu para ver se voltava depois", conta o então técnico.

Colega de Corinthians, Zé Elias deu chuteira a Carille em 95

"Eu lembro que ele era muito quieto, ele não falava nada, era tímido", relembra o ex-volante. "Ele estava me olhando, sabe quando você percebe? Aí eu peguei e falei 'toma aí a chuteira, não tem problema, fica com ela'. E ele pegou. Recentemente, conversei com ele e ele falou 'lembra de mim? Poxa, você me deu a chuteira'. Eu falei 'era você o lateral esquerdo com aquele cabelinho (risos)? Ele chegou com o time já montado, ficou difícil".

Vítor e Elivélton levaram Carille para fazer a festa em loja

Carille nos tempos de jogador: esteve no Corinthians, mas não jogou - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Carille nos tempos de jogador: esteve no Corinthians, mas não jogou
Imagem: Arquivo Pessoal

Titular do Corinthians campeão da Copa do Brasil e do Paulista em 1995, o lateral Vítor, de passagens vitoriosas também por Vasco e São Paulo, foi outro a ajudar Carille nos poucos meses de Parque São Jorge. "Fui no Corinthians no ano passado falar com o Alessandro [gerente], pedir uma camisa para um evento. Carille comentou comigo: 'se eu falar uma coisa, você não vai acreditar. Você e o Elivélton me levaram na Mizuno, na loja, me mandaram escolher os tênis e as chuteiras que eu quisesse'. Eu não me lembrava, mas fico feliz, é uma forma de retribuir o que os mais velhos fizeram por nós'. O Carille disse que é agradecido com a gente até hoje e não se esquece", comentou.

Carille era lateral de estilo europeu nos anos 1990

Sidnei Lobo, ex-volante de SP e Flu, entre outros, conheceu Carille no Paraná Clube em 1996. Logo viraram amigos de unir famílias. "Ele nunca tinha ganhado nada [foi campeão estadual no Paraná], e do meu lado fiz ele jogar (risos). Ele só queria defender, eu empurrava ele para frente (risos). O Fábio era perfeito na linha de quatro, lateral de estilo europeu que cumpria a função. Desde essa época foi muito interessado", recorda Sidnei, que reencontrou o amigo no mesmo clube, em 2002.

Na chegada como auxiliar, Carille nem viajava com o time

Mano, Sidnei e Carille: dupla levou atual treinador ao Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Mano, Sidnei e Carille: dupla levou atual treinador ao Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

A ideia de um segundo auxiliar técnico no Corinthians surgiu na Série B de 2008. Sidnei Lobo, o auxiliar de Mano Menezes, indicou Carille, com quem jogou no Paraná e que havia recebido para estágio no Grêmio. O crescimento da comissão enfrentou resistência na direção, mas Mano venceu a disputa. Carille nem viajava: só treinava os mais jovens e outros que não iam às partidas. "Era calmo, leal, não é um perfil fácil de se encontrar", conta Sidnei.

Ele hoje vê Carille como alguém que, ao lado de outros colegas como Zé Ricardo, do Flamengo, pode mudar a percepção sobre a imagem de técnico no Brasil. "São profissionais que entram no mercado e dão uma resposta muito boa. Uma classe de jovens", diz. Cléber Xavier, que dividiu comissão no Corinthians com Carille na época de Tite, concorda. "Há gente se preparando para ser treinador e evoluindo. Quem está no comando, a imprensa, precisa de menos torcedores e mais profissionais", pede.

Andrés queria Zé Augusto como interino em 2010

Carille em passagem como interino em 2010: primeira opção era Zé Augusto - Alex Carvalho/UOL - Alex Carvalho/UOL
Carille em passagem como interino em 2010: primeira opção era Zé Augusto
Imagem: Alex Carvalho/UOL

O Corinthians vivia crise com a saída de Adílson Batista e precisava definir um interino: o então presidente Andrés Sanchez escolheu Zé Augusto, das divisões de base e que fora treinador na campanha do rebaixamento, mas no vestiário do Pacaembu foi convencido por Fábio, como todos realmente o conheciam. Na entrevista, foi perguntado sobre Carille e respondeu: "quem é Carille?". Com ele, segurou um 0 a 0 com o Guarani em Campinas e estancou a crise para Tite chegar.

Cléber Xavier, auxiliar de Tite: "é um cara de verdade"

"Tem o perfil que a gente gosta, um cara de verdade que fala pela frente. Eu sou mais sociável, ele tem um perfil mais quieto. Gosto desse tipo de pessoa", conta o auxiliar que dividiu comissão. Cléber se lembra de 2015, antes de Corinthians 2 x 0 Santos, no Brasileiro. Na reunião de véspera, Carille disse que quebraria o protocolo e não ia encher atletas com mais vídeos. "Já sabem tudo, não vou mostrar nada a eles. Tite perguntou se tinha certeza, ele disse que sim. Fizemos um grande jogo".

Pai do treinador do Corinthians também sentou no banco

Carille (agachado à direita) e o pai Joaquim, de bigode - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Carille (agachado à direita) e o pai Joaquim, de bigode
Imagem: Arquivo Pessoal

Joaquim Carille, pai de Fábio, depois de jogar por equipes do interior paulista, trabalhou como treinador por um período em categorias de base. Chegou, inclusive, a comandar a equipe sub-20 do Sertãozinho. "Meu estilo era mais ou menos igual ao do meu filho. Sempre tratei todos na base da educação. Nunca fui de gritar, não precisa disso. Acho que o Fábio herdou isso de mim. Esse negócio de ser treinador está no sangue [risos]", contou Joaquim, que em torneios amadores de futsal chegou a dirigir o filho.