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Palmeiras x Corinthians: O bar que transforma rivalidade em união

Bar do Ari e Miriam reúne palmeirenses e corintianos em dérbi - Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira
Bar do Ari e Miriam reúne palmeirenses e corintianos em dérbi Imagem: Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira

09/04/2018 10h34

“Sem mundial! Sem mundial” era o grito que os alvinegros soltavam alguns minutos após a bola de Rodriguinho encostar nos fios da rede do goleiro Jailson. Enquanto isso, na mesa ao lado, os palmeirenses lamentavam o repentino tento corintiano. As cervejas desciam geladas para as mesas que abrigavam os torcedores dos dois times.

Em tempos de torcida única nos estádios paulistas, o Bar do Ari e Miriam, localizado na Zona Norte de São Paulo, se resguarda como um templo sagrado do dérbi paulistano, reunindo a maior rivalidade do estado em um lugar só. A rua Valentim Bouças, no bairro do Tremembé, fica lotada de fanáticos de ambas as torcidas.

“Aqui já é uma raiz, é uma tradição, aqui é só família, é palmeirense, são paulino, tem de tudo. E aqui não tem confusão”, diz Rogério, corinthiano de 45 anos que frequenta o local. Após a penalidade cobrada por Maycon, selando a glória alvinegra, o torcedor caçoava um amigo rival enquanto o abraçava. “Quando perde é facil dizer que é paulistinha, né?”

Bar do Ari e Miriam reúne palmeirenses e corintianos - Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira - Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira
Imagem: Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira

O BAR

Ari e Miriam são casados há mais de 25 anos. Depois de algumas tentativas de empreendimentos na região, conseguiram a tacada certeira. O bar foi fundado há 12 anos e abriga, no mesmo espaço, tanto torcedores do Corinthians como do Palmeiras, times dos donos. Em dias de jogo, fica difícil transitar pela rua, que costuma ficar lotada.

Na parede em frente ao bar, flamulam incessantemente dois bandeirões, um de cada time. Sempre hasteadas em dia de jogo, as bandeiras foram um presente dos frequentadores, que se uniram e as fizeram coletivamente, aos donos do bar.

Junto dos pais trabalha Ari Filho, 24, que desequilibrou a rivalidade. Palmeirense fanático e formado em Gestão Esportiva e Lazer, logo começará a trabalhar no Allianz Parque. Perguntado sobre a escolha de seu time, ele nos conta: “Meu pai diz que quando eu era pequeno, ele colocou duas camisetas na minha frente, uma verde e uma branca, mas as duas eram do Palmeiras”.

Palmeirenses e corintianos se reúnem para assistir dérbi em bar - Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira - Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira
Imagem: Paulo Victor Ribeiro e Yuri Ferreira

O JOGO

Enquanto na cozinha a produção dos pedidos ia a mil, ao lado de fora do bar a galera estava aflita. Misturados, os torcedores gritavam a cada lance de perigo. Curiosamente, torciam para os times e para o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza, ator de peso no espetáculo. Durante os oito minutos em que o árbitro se decidia sobre a validade do pênalti que Dudu sofreu, o Bar parou para entender o que estava acontecendo. E torcer pela decisão mais favorável pro seu time.

Enrolado na bandeira de seu time do início ao final da partida, um jovem torcedor palmeirense não conteve sua raiva quando o pênalti foi cancelado. E sua indignação não parou mais desde então. Entre xingamentos e lamentações, somente esteve em paz durante o intervalo do jogo.

Depois da ineficiente pressão que o time de Roger Machado colocou no Corinthians durante o segundo tempo, os pênaltis chegaram. E como de praxe, quando chega esse momento, as superstições tomam a cabeça dos torcedores. Os alvinegros e palestrinos se misturavam virados de costas para a televisão. E até a esperança que o chute de Fagner para a fora deu não mudou os palmeirenses supersticiosos.

Porém, quando Maycon converteu a última cobrança e confirmou o título, já não havia mais pra quem rezar. Enquanto os alviverdes choravam, desolados no meio da rua, os alvinegros explodiam em comemoração ao título. Entre abraços, tirações de sarro e muita gritaria, a paz reinava na rua. Os palmeirenses diziam que era só o “paulistinha”, os corinthianos voltavam a gritar: “sem mundial”. Mas independente da taça a ser disputada, o dérbi tem sempre um lugar: o Bar do Ari e Miriam.