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Peça-chave no Paulistão, Olim investigou crime brutal e é aliado de Datena

Antônio Assunção de Olim: delegado, deputado estadual e presidente do TJD - Leandro Moraes/UOL
Antônio Assunção de Olim: delegado, deputado estadual e presidente do TJD Imagem: Leandro Moraes/UOL

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

17/04/2018 04h00

Uma figura que esteve no centro de momentos marcantes do Campeonato Paulista não é jogador, técnico, árbitro ou mesmo dirigente. Antônio de Assunção Olim, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP), é um delegado de polícia e deputado estadual que não tinha relação com o mundo do esporte até poucos anos atrás. Aliado político e amigo do apresentador José Luiz Datena, ele ganhou notoriedade ao investigar o famoso assassinato da advogada Mércia Nakashima em 2010.

Nesta terça-feira (17), Olim preside no TJD o inquérito aberto sobre a final do Campeonato Paulista, que pretende apurar se houve interferência externa na decisão do árbitro Marcelo Aparecido de voltar atrás na marcação de um pênalti de Ralf, do Corinthians, sobre Dudu, do Palmeiras. O clube alviverde alega ter provas da ilegalidade e cogita até a impugnação da partida.

Policial que não liga para futebol

Olim entrevista - Leandro Moraes/UOL - Leandro Moraes/UOL
Delegado Olim dando entrevista sobre o caso Mércia Nakashima em 2013
Imagem: Leandro Moraes/UOL

Delegado desde 1990 e formado em direito, Olim está acostumado a comandar investigações, mas só passou a ter contato com futebol em 2012, quando ingressou no TJD como presidente da 1ª Comissão Disciplinar. À época, ele havia trabalhado no caso de maior repercussão de sua carreira, que culminou na prisão do policial reformado Mizael Bispo e do vigia Evandro Bezerra pelo assassinato da advogada Mércia Nakashima, que morreu afogada ao ser trancada dentro de um carro na represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo.

Em meio a uma movimentação da Federação Paulista de Futebol no sentido de estabelecer uma imagem de independência do TJD, Olim foi eleito presidente do tribunal por aclamação em 2016. Pessoas próximas afirmam que o delegado não gosta de futebol, não torce por nenhum time e nem sequer participa de discussões de amigos sobre o tema.

Nas redes e páginas oficiais do delegado na internet, o espaço dado à sua função como presidente do TJD é quase inexistente. Praticamente todas as postagens fazem referência à sua atuação na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde ele é deputado estadual pelo Partido Progressista (PP).

Criticado por "falar demais", virou político

Olim Doria - Divulgação/Facebook Delegado Olim - Divulgação/Facebook Delegado Olim
Deputado estadual, Olim (à esq.) apoiou campanha de João Doria à prefeitura
Imagem: Divulgação/Facebook Delegado Olim

Afeito a entrevistas e aparições na imprensa desde a década de 1990, Olim já admitiu ter sido alvo de críticas dentro da polícia por "falar demais". Depois do caso Mércia, porém, o delegado soube usar a popularidade a seu favor e se elegeu deputado estadual pelo PP em 2014. Ele foi o quinto mais votado no estado de São Paulo, com 195.932 votos.

Com uma plataforma política baseada em segurança pública, o deputado apoia bandeiras como a redução da maioridade penal e o fortalecimento das polícias. A relação próxima com Datena, aliás, quase rendeu uma candidatura a vice-prefeito de São Paulo. Em 2016, quando o apresentador se filiou ao PP e cogitou se lançar para a disputa na capital paulista, Olim completava sua chapa. Datena acabou desistindo de participar da eleição, alegando que as denúncias de corrupção contra o partido pesaram na decisão.

Alvo de palmeirenses na internet

Olim e Reinaldo - Rodrigo Corsi/FPF - Rodrigo Corsi/FPF
Olim com o presidente da FPF, Reinaldo Bastos (centro), e o deputado Itamar Borges
Imagem: Rodrigo Corsi/FPF

Nas redes sociais, Olim ganhou a antipatia de torcedores do Palmeiras por causa da demora do julgamento do goleiro Jailson, que foi expulso em clássico com o Corinthians em 24 de fevereiro e punido pelo TJD com três jogos de suspensão só em 19 de março. O delegado insistiu em julgar todos os casos relacionados a palmeirenses em uma única sessão, o que acabou atrasando a sentença do jogador alviverde pelo lance do cartão vermelho – ele também havia sido denunciado por declarações ofensivas contra a arbitragem, assim como Dudu e Felipe Melo.

Outra rusga com o Palmeiras aconteceu mais recentemente, após o clube acionar o TJD pela polêmica da final. Olim afirmou que o Alviverde não poderia pedir impugnação do jogo porque não havia pago uma taxa de R$ 9 mil que seria necessária. O time rebateu dizendo que havia apenas pedido a instauração de inquérito, o que não exigia o recolhimento prévio de custas.

Mais uma vez protagonista, Olim vai agora comandar a colheita de depoimentos do inquérito instaurado para apurar as supostas irregularidades da arbitragem na final do Paulistão. Em uma mudança de discurso em relação ao previsto na semana passada, a intenção do presidente do TJD é ouvir já nesta terça-feira todas as sete pessoas solicitadas pelo Palmeiras para esclarecer o caso, o que possibilitaria ao tribunal chegar a uma decisão em sessão na próxima segunda (23).