Nem só de golaços, craques e histórias redentoras vive o maior torneio de futebol do mundo: pela taça, vale tudo.
Dentro e fora de campo, antes do pontapé inicial ou após o apito final, de batalhas dentro das quatro linhas a incidentes diplomáticos, as polêmicas da Copa já abalaram o orgulho e o bom senso de muita gente.
Arquivo/EFE
A bola é minha
A final da Copa de 1930 teve uma picuinha infantil. Era época ‘romântica’ do futebol e o torneio não tinha bola oficial. Então, o anfitrião Uruguai e a Argentina se recusavam a usar o material do rival. A solução? 45 minutos com uma bola, 45 com outra.
Arquivo/Folha Imagem
Agressão à BBC
Bicampeões mundiais, os brasileiros superaram o complexo de vira-lata diagnosticado por Nelson Rodrigues. E foram além: para a Copa de 1966, os dirigentes da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, ancestral da CBF) desenvolveram um complexo de grandeza.
Arquivo/Folha Imagem
Os cartolas viam em qualquer ação dos ingleses, donos da casa, uma tentativa de sabotar a busca pelo tri. Durante a preparação da seleção, uma equipe da BBC que veio ao país ver os treinos foi acusada de espionagem. Rolou até agressão no estacionamento.
Felipe Dana/AP
Café ou chá
As desavenças entre brasileiros e ingleses envolveram até mesmo duas bebidas tradicionais dos dois países. Quando avisados de que seria instaurado controle antidoping, os cartolas da CBD, em tom paranoico, questionavam se o café estava proibido.
Arquivo Folha
Na nossa opinião, o chá é um estimulante mais forte que o café.
Então, se nossos jogadores não
puderem tomar café, os ingleses
deveriam ser proibidos de tomar
chá durante o torneio.
Carlos Nascimento, supervisor técnico da seleção brasileira, na época
Google
Soy loco por ti América
A rixa entre sul-americanos e europeus
chegou ao ápice em 1966, com Inglaterra x
Argentina, pelas quartas, um dos duelos mais
violentos das Copas
The Telegraph
Não foi bem um jogo de
futebol, mas um
incidente internacional.
relato do jornal The Observer, sobre o confronto
The Observer
Rattín, o capitão argentino, foi expulso e levou nove minutos para ser retirado de campo. Após a vitória inglesa, um argentino agrediu o árbitro e outro urinou nos túneis. Já o atacante Ortega cuspiu no rosto de Harry Cavan, vice-presidente da Fifa (e inglês).
Allsport Hulton/Archive
Pancadaria em verde-amarelo
O Brasil também esteve envolvido em quebra-pau
homérico: a “Batalha de Berna” contra a
Hungria, em 1954, na Suíça. Pilhada, a seleção
encarou aquela partida como uma “final
antecipada”, dando e recebendo pontapés. Até o
classudo Nilton Santos foi expulso.
AP
O clima só piorou ao apito final, com derrota por
4 a 2. Teve jornalista brasileiro agredindo um
policial suíço, em imagem que virou capa da
revista “Paris Match”.
Reprodução Paris Match
O craque Puskás, lesionado e fora de jogo, deu uma
garrafada no zagueiro Pinheiro, que teve a testa
aberta. Já o técnico Zezé Moreira atirou uma
chuteira no rosto do ministro húngaro Gustav
Sebes. Nenhum brigão foi punido pela Fifa.
AFP
Um tempo de 72 minutos
A imprensa não foi lá muito criativa ao retratar
os embates campais em Copas do Mundo.
Em 1962, os donos da casa chilenos e os italianos,
após uma guerra campal interminável, fizeram um
primeiro tempo de 72 minutos!. A partida ficou
conhecida como… “Batalha de Santiago”.
Reprodução
A Itália perdeu a calma quando Mario David foi
expulso após dar voadora em Leonel Sánchez.
Detalhe: antes, o mesmo Sánchez, filho de
boxeador, havia acertado um soco em Humberto
Machio, quebrando seu nariz. Nem advertência
recebeu. O Chile venceu por 2 a 0.
Reprodução
Jogo de compadres
Nem sempre a temperatura esquentou em razão
de violência. Houve pactos de não-agressão que
também geraram uma gritaria que só. A
Alemanha esteve envolvida em alguns desses
casos. O mais emblemático foi a vitória sobre a
Áustria por 1 a 0 em 1982.
AP
O placar foi precisamente aquele que os vizinhos
precisavam para avançar à segunda fase,
eliminando a surpreendente Argélia – que havia
batido a Alemanha por 2 a 1 na estreia. Jornais
da Europa toda, inclusive alemães, trataram a
partida como uma vergonha.
AP
É uma desgraça e não tem nada
a ver com futebol. Nem todo fim
justifica os meios
Eberhard Stanjek, comentarista do canal alemão ARD
Torcedores protestaram à frente do hotel da
seleção em Gijón. E o que os atletas fizeram?
Jogaram bexigas d’água em suas cabeças...
AP
A Fifa não pôde tomar nenhuma providência
contra Alemanha e Áustria. Mas, a partir do
México-1986, os jogos encerrando grupos foram
realizados de forma simultânea. Uma tentativa
de inibir tramoia – ou de pelo menos reduzir as
chances de que acontecessem.
FIFA via Getty Images
O homem mais procurado
Se juiz é pressionado em qualquer pelada, não
seria em Copa do Mundo que eles seriam
poupados. O título de árbitro mais infame cabe
ao equatoriano Byron Moreno, após Coreia do
Sul x Itália em 2002. Os donos da casa
venceram por 2 a 1.
AP Photo/ELise Amendoia
Na prorrogação, Moreno anulou o que seria o “gol
de ouro” de Tommasi. O equatoriano foi capa em
todos os jornais italianos. Quatro meses depois,
seria banido pela Fifa. Em 2010, virou
oficialmente caso de polícia ao ser preso nos
EUA com 6kg de heroína.
Reprodução
Conspiração revelada
Nem sempre o que rola no gramado está às
claras. Há incidentes que só vêm à tona anos
depois. Como o caso da “água batizada” entregue
pelo massagista da seleção argentina ao lateral
Branco em duelo pelas oitavas de final da Copa
de 1990, na Itália.
Reprodução
Miguel di Lorenzo deu ao brasileiro água
contaminada por soníferos. O jogador, principal
cobrador de faltas da seleção, sentiu os efeitos
no final do primeiro tempo e só melhorou na
segunda etapa. A história demorou a ser
revelada, por Maradona, com deboche.
Getty Images
Nenhum ser humano ia imaginar
que ia ter uma trapaça dessa.
Fiquei sabendo depois de três
meses. O Ruggieri [zagueiro
argentino] me falou. Depois do
jogo eu falei, todo mundo ironizou.
O cara quando perde não tem
razão, não é?
Branco, que sofreu o golpe
Getty Images
Vale tudo?
O “doping” de Branco foi involuntário e
prejudicial ao seu rendimento. Na história das
Copas, porém, há espaço considerável para se
especular sobre o uso planejado de substâncias
que melhorem o desempenho dos atletas. O
exame antidoping só começou em 1966.
Allsport Hulton/Archive
Em 1962, no Chile, o legendário Alfredo Di
Stéfano, argentino naturalizado espanhol, falou
abertamente a respeito do uso dos chamados
estimulantes. Em sua concepção, não havia
problema nenhum. A declaração, partindo de
quem veio, gerou incômodo generalizado.
AFP PHOTO
Campeãs sob suspeita
AP
Alemanha 1954
Faxineiros suíços que faziam limpeza do estádio
de Berna, palco da vitória alemã por 3 a 2 sobre
a Hungria, encontraram ampolas quebradas no
vestiário dos campeões. Documentário do canal
alemão ARD afirmou, em 2004, que alguns
jogadores usaram estimulantes.
AP
Argentina 1978
O jornal inglês “Sunday Times” denunciou que a
federação argentina, anfitriã, burlou os testes
antidoping. Os jogadores usavam anfetamina,
mas outros homens, contratados só para fazer
xixi no lugar dos atletas, que eram testados.