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Renato Mauricio Prado

Olha o Alonso, Neymar!

Neymar domina a bola no peito durante treino da seleção brasileira - AFP PHOTO / Nelson Almeida
Neymar domina a bola no peito durante treino da seleção brasileira Imagem: AFP PHOTO / Nelson Almeida

26/06/2018 13h04

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Sonhei que o piloto espanhol Fernando Alonso, bicampeão mundial de F-1, estava na Rússia. No meu sonho, ele ia jantar num badalado restaurante de Moscou e - que coincidência! - lá se encontrava com Neymar e Bruna Marquezine. Abraços efusivos pra lá e pra cá, juras de admiração recíproca e acabavam sentados na mesma mesa:

- Sou seu fã, Neymar!

- Eu também sou seu fã, dom Fernando!

O papo rolou fácil, centrado em futebol e corridas de automóvel e, após algum tempo e várias taças de vinho, o homem das Astúrias disparou:

- Sabe que quando vejo o desenrolar da sua carreira, me lembro muito da minha, craque?

- Que isso? Ainda tenho que comer muito feijão com arroz...

- Não, não, é sério. Presta atenção.

Neymar e Marquezine prestaram.

- Como você, comecei a ter sucesso muito cedo. Em 2005, me tornei o campeão mundial mais jovem da história e, no ano seguinte, ganhei o bi. O mundo parecia aos meus pés. Foi aí que comecei a me perder...

A analogia preocupou Neymar e Bruna, que, incomodados, se ajeitaram em suas cadeiras, esperando o que vinha pela frente.

- Tornei-me um cara mimado, cheio de vontades, que desprezava os críticos e que não admitia ser contrariado. Fui para a McLaren, na época a melhor escuderia do circo, e fiz biquinho, ao perceber que um moleque inglês, o Lewis Hamilton, você sabe, podia ser tão rápido quanto eu. Dividi a equipe em duas e o resultado foi que perdemos um título ganho para a Ferrari, com o Kimi Raikkonen.

Mimado, biquinho, dividir a equipe? Neymar não gostou e ia se manifestar, mas um discreto beliscão que Bruna tratou de lhe dar por debaixo da toalha de mesa, fez com que continuasse apenas a ouvir. E Alonso continuou:

- Saí da McLaren, voltei pra Renault e continuei bancando a prima-dona. Pior, me meti numa tremenda tramoia que acabou com a promissora carreira de um brasileiro, o filho do Piquet, obrigado a bater de propósito, em Cingapura, para que eu ganhasse a corrida. Pensa que tive alguma crise de consciência? Que nada! Eu queria era ganhar! A qualquer preço.

Mais um gole de vinho e o piloto prosseguiu:

- Queria tanto que fui para a Ferrari, atrás de títulos, e lá me tornei o pesadelo de outro compatriota seu, o Felipe Massa. Imagina, no dia em que ele fazia um ano de um sério acidente e liderava a corrida, pronto para ganhar, exigi que a equipe o fizesse me dar passagem. Lembra disso? Eu lembrei, quando você não deixou o Cavani bater aquele pênalti, em jogo do Paris Saint-Germain...

A essa altura o ambiente já estava pra lá de pesado. Dom Fernando percebeu e não quis se estender as analogias. Mas fez questão de um conselho final:

- Amigo, não se torne, como eu me tornei, o cara mais odiado no seu meio. Todos reconhecem que ainda sou o melhor piloto da Fórmula-1, mas faz tempo que nenhum piloto talentoso quer ser meu companheiro e nenhuma equipe de ponta quer me contratar. E meus sonhos de ultrapassar as marcas do Schumacher foram por água abaixo. O que me resta agora é correr em outras categorias, como o turismo, em Le Mans, e a Fórmula-Indy, nos EUA. Você não quer acabar a carreira na Liga Americana, quer?

Já se levantando, Alonso concluiu:

- Então, sempre que os nervos vierem à flor da pele, que der vontade de resolver tudo sozinho, que o impulso for se jogar dramaticamente ao chão e etc., lembra de mim. Bancar a prima-dona, fazer beicinho, chorar em campo e brigar com os juízes e com todo mundo que lhe faz críticas na imprensa ou nas redes sociais só piora a situação. Você já está brigando até com seus amigos, como o Thiago Silva! Não faz isso, não seja como eu fui.

Abraços de despedida, pra lá e pra cá, e um recado final:

- Vou ficar de olho, hein? Estou torcendo por uma final entre Brasil e Espanha. Aí, se acontecer, me perdoe, vou torcer contra! Ah, a conta está paga. E a sessão de “análise” foi de graça. Sejam felizes!

Acordei pensativo. Que pena que não foi real...

Renato Mauricio Prado