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Copa 2018

Pai de Tréllez conta como foi estar em dois álbuns e não ir à Copa do Mundo

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

22/03/2018 04h00

Jhon Jairo Tréllez viralizou no Twitter em março. O motivo? Uma mensagem publicada no dia 14 de março.

Nela, o ex-atacante da seleção colombiana brincava com suas figurinhas nos álbuns das Copas do Mundo de 1990 e 1994 – ele ficou fora dos dois torneios. A postagem bem-humorada de Tréllez ganhou retuítes de 4,5 mil usuários do site, além de ter recebido quase 14 mil curtidas.

Mesmo com a brincadeira, o ex-jogador lamenta a ausência nas convocações do técnico Francisco Maturana para os dois Mundiais. Ainda assim, garante: não guarda qualquer mágoa do treinador.

“Estes momentos me chatearam. Foi triste, uma decepção muito grande. Estive nas eliminatórias, fiz todo o processo com a seleção... Bem, foram as decisões do professor ‘Pacho’ Maturana, entendi assim. Assim como ele me deu a oportunidade de jogar na seleção, também podia dizer quando eu não deveria fazê-lo. Não guardo rancor contra ele e nunca reclamei sobre o tema. Do contrário: aprecio-o muito e respeitei sempre o que dizia”, contou Jhon Jairo Tréllez em entrevista ao UOL Esporte.

E as figurinhas? O ex-atacante lembra brincadeiras dos fãs – e também ri.

“É que sempre era certeza de que eu ia, e nas duas vezes fiquei sem ir. Hoje eu lembro e dou risada, porque os torcedores vivem dizendo: ‘Tréllez, você não foi às Copas do Mundo, mas eu tenho você nos meus álbuns’. Isso já passou. Essas histórias precisam ser lembradas com alegria, não com amargura”, completa.

Jhon Jairo Tréllez na Colômbia em 1994 - Al Bello/Allsport/Getty Images - Al Bello/Allsport/Getty Images
Jhon Jairo Tréllez defendeu a Colômbia até 1994, mas nunca foi a uma Copa do Mundo
Imagem: Al Bello/Allsport/Getty Images

Revelado pelo Atlético Nacional em 1985, Jhon Jairo Tréllez defendeu a seleção entre 1989 e 1994. Ao longo deste período, fez amizade com o zagueiro Andrés Escobar, seu companheiro no time de Medellín no fim da década de 1980 e na seleção colombiana.

Escobar ficou conhecido pelo gol contra no jogo EUA 2 x 1 Colômbia, em 22 de junho de 1994, durante a Copa do Mundo. Poucos dias depois, na madrugada de 2 julho, o zagueiro foi assassinado no estacionamento de um bar de Medellín. Tinha 27 anos.

No dia 13 de março de 2018, Andrés Escobar faria 51 anos. Em sua conta no Twitter, Jhon Jairo Tréllez publicou uma foto na qual ajuda o ex-zagueiro a se alongar. “Um feliz aniversário a meu parceiro Andrés lá no céu. Algum dia voltaremos a estar juntos. Sinto sua falta, amigo”, escreveu o ex-atacante.

À reportagem, o colombiano relembrou o ex-zagueiro de maneira elogiosa.

“Andrés era meu amigo, era amigo de todos, uma pessoa incrível. Era um excelente jogador – técnico, inteligente, rápido. Como pessoa, era impecável, um cavalheiro dentro e fora de campo. Sua morte foi um dos golpes mais duros que eu me lembro, e também foi muito duro para o país. Ninguém podia acreditar”, conta o ex-atacante.

”Ainda hoje os torcedores e seus ex-companheiros lembramos muito dele. No estádio, a cada partida, há bandeiras com seu rosto ou com o número 2 (a camisa do ex-jogador) em honra a sua memória. Tomara que o futebol não volte a viver uma injustiça como essa”, lamentou.

No Brasil, passagem pelo RS e elogios ao "jogadoraço" Alex Alves

Nascido em 29 de abril de 1968, Jhon Jairo Tréllez Valencia se destacou no fim da década de 1980 pelo Atlético Nacional, pelo qual foi campeão da Copa Libertadores da América de 1989. Nos anos seguintes, passou por clubes como FC Zürich e Boca Juniors.

No fim de 1995, teve a única chance de atuar por um clube brasileiro ao ser contratado pelo Juventude como reforço para o ano seguinte. Pelo clube, foi vice-campeão gaúcho, além de ter disputado o Campeonato Brasileiro. Hoje, passadas mais de duas décadas, é só elogios aos torcedores e à cidade de Caxias do Sul.

“Minha experiência no Juventude foi excelente, perfeita. Só vivi coisas boas lá. A cidade é charmosa, o povo é muito agradável, a torcida era incrível e gostava muito de mim. Guardo apenas agradecimentos e boas lembranças da equipe e da cidade. Sempre me trataram muito, muito bem”, conta Tréllez, que também guarda boas lembranças dos ex-companheiros.

“Dos jogadores, o que mais me lembro é Alex Alves (ex-Vitória e Cruzeiro). Era um craque, um jogadoraço e uma grande pessoa. Éramos muito amigos. Me doeu muito quando soube de sua morte (em 2012, de leucemia). Não nos falávamos havia muito tempo, mas lembrava dele com muito carinho. Também lembro de Fábio Baiano, um grande jogador, e do professor Geninho, excelentes pessoas. Mas perdi o contato com meus ex-companheiros e com a equipe, embora eu quisesse muito voltar a falar com eles. Tomara que eu possa voltar a visitar a cidade e a equipe. Fui muito feliz ali e tenho um grande apreço por todos”, completou.

Ao deixar o Juventude no fim de 1996, Jhon Jairo Tréllez passou por clubes de Arábia Saudita, Estados Unidos e China. Aposentou-se em 2006 na Colômbia, atuando pelo Bajo Cauca (atual Rionegro Águilas).

De racismo à ‘dedada’: as polêmicas do filho no Vitória

Quando se aposentou, seu filho Santiago tinha 16 anos e já atuava pelas categorias de base do Independiente Medellín. Chegou a passar pela base do Flamengo em 2007, mas problemas de documentação abreviaram sua passagem pela Gávea. Em 2008, foi para a Argentina, onde atuou nas equipes inferiores do Vélez Sarsfield.

Em 2017, o filho de Jhon Jairo Tréllez chegou de vez ao futebol brasileiro, agora como reforço do Vitória. Destaque da equipe, marcou dez gols no Campeonato Brasileiro e foi contratado pelo São Paulo – com as bênçãos do pai.

“Trato de ver todas as partidas de Santiago. Me alegra que ele tenha ido bem com o Vitória e que agora esteja em uma equipe tão grande como o São Paulo. Dou a ele conselhos - digo muito que seja disciplinado, que aproveite a juventude e sua carreira, que trate de aprender sempre e conserve a humildade. Ele sabe que está em um dos melhores campeonatos do mundo. Que aproveite essa experiência ao máximo porque a carreira de jogador de futebol é curta; quando menos perceber, já terá acabado”, descreveu o hoje pai coruja.

Mas antes de chegar ao São Paulo, Tréllez ficou nacionalmente marcado por dois incidentes pelo Vitória. O primeiro, em clássico contra o Bahia pelo Brasileirão, em outubro. Na ocasião, foi acusado por Renê Júnior, volante tricolor e que hoje veste a camisa do Corinthians, de tê-lo chamado de “macaco”. Nas redes sociais, o jogador publicou uma foto justamente ao lado do pai e pediu desculpas por ter sido interpretado “de forma diferente” pela declaração.

Trellez e pai post racismo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Acusado de racismo, Tréllez publicou uma foto nas redes sociais ao lado do pai para se defender
Imagem: Reprodução/Instagram

“Sinceramente, eu não acredito nisso. É que não tem sentido dizer que Santiago seja racista se eu, seu pai, sou negro”, diz Jhon Jairo. “Além disso, somos de um povo em que quase toda a população é negra. Minha família é negra, a maioria de meus amigos são negros. Como Santiago vai ser racista se corre sangue negro em suas veias? Creio que isso foi um mal-entendido e não deve passar disso. Santiago é uma boa pessoa.”

Mais tarde, em 26 de novembro, Tréllez foi vítima de uma provocação incomum: diante da Ponte Preta, pela 38ª rodada do Brasileiro, levou uma “dedada indiscreta” do zagueiro Rodrigo, que acabou expulso. A Ponte terminou derrotada em casa por 3 a 2 e foi rebaixada à Série B de 2018.

Trellez x Rodrigo - Reprodução - Reprodução
Trellez levou 'dedada' de Rodrigo em Ponte x Vitória; para pai de colombiano, provocação é comum
Imagem: Reprodução

Para o pai do atacante, provocações como a de Rodrigo são “coisas do futebol”. “São coisas que alguns jogadores fazem para provocar outros. Isso sempre aconteceu. O importante é que Santiago não caiu na pilha, soube se controlar, não respondeu à provocação. Por isso, o outro jogador foi expulso e Santiago terminou se destacando. Isso demonstra que é um jogador maduro e que não se deixa tirar tão fácil da partida”, afirmou também.

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