Topo

Copa 2018

Russo já foi um dos melhores do mundo, mas está longe de jogar Copa em casa

Arshavin comemora gol da Rússia contra a Holanda na Eurocopa de 2008 - Alex Livesey/Getty Images
Arshavin comemora gol da Rússia contra a Holanda na Eurocopa de 2008 Imagem: Alex Livesey/Getty Images

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

08/04/2018 04h00

Em junho de 2008, um russo surpreendia o mundo do futebol ao literalmente calar a seleção holandesa e classificar a Rússia para as semifinais da Eurocopa. Quase dez anos depois de viver o auge e se destacar no futebol mundial, Andrey Arshavin vive os últimos anos de sua carreira no Cazaquistão, distante do sonho de disputar a Copa do Mundo em seu país.

Nascido em maio de 1981, Arshavin só conseguiu destaque em 2008, meses antes da Eurocopa. O atacante, então com 27 anos, era o principal jogador do Zenit, que foi campeão da Copa da Uefa (atual Liga Europa), goleando equipes como Bayer Leverkusen e Bayern de Munique.

Mas foi pela seleção que o atacante entrou em definitivo no rol de grandes jogadores. Camisa 10 da Rússia, Arshavin deu uma assistência e fez o último dos 2 gols da Rússia na prorrogação contra a Holanda, nas quartas de final do torneio. Mesmo com a equipe sendo eliminada nas semis para a futura campeã Espanha, o jogador sairia do torneio como um dos principais atletas da competição continental.

Apesar de ter recebido propostas de Barcelona, Newcastle e Tottenham, o Zenit não cedeu e segurou Arshavin. Seu desempenho foi tão chamativo que o atacante ficou na 11ª posição entre os melhores jogadores do mundo pela Fifa daquele ano.

No entanto, a vontade do jogador prevaleceu na janela de transferências seguinte, e o clube de São Petersburgo vendeu o atacante por cerca de 11 milhões de euros ao Arsenal.

Seu início na equipe foi extremamente animador para a torcida dos Gunners. Em apenas 6 meses de Inglaterra, o russo fez 6 gols e deu 7 assistências em 12 jogos. Sua partida mais emblemática certamente foi no empate com o Liverpool de 4 a 4, em que Arshavin fez os quatro gols do time londrino.

Auge e queda

No entanto, foi no ano de sua afirmação que se iniciou sua queda de rendimento. Em novembro, quando a Rússia ainda gozava de prestígio pela campanha na Europa do ano anterior, a seleção sofreu um grande baque ao não conseguir sua classificação para a Copa do Mundo de 2010.

A eliminação foi chocante para Arshavin, que chegou a ficar fora de alguns jogos do Arsenal por não estar boas condições psicológicas para atuar. Recuperado no ano seguinte, o meia chegou a participar do evento que confirmou a Rússia como sede da Copa de 2018, mas nem isso fez com que o ânimo de outrora voltasse.

Titular em 2010, Arshavin perdeu espaço de vez na equipe no ano seguinte também por sua má forma física. Em entrevista ao jornal russo Sport Express, o atacante, que voltou ao Zenit por empréstimo em janeiro de 2012, afirmou que a reserva na Inglaterra quase teve consequências mais graves.

Arshavin - AFP PHOTO/GLYN KIRK - AFP PHOTO/GLYN KIRK
Imagem: AFP PHOTO/GLYN KIRK

"Foi uma punição sentar no banco. Treinar mesmo sabendo que você não vai jogar é psicologicamente difícil", disse. "Quase sofri de depressão. A monotonia da vida estava me esmagando."

Capitão da Rússia na Eurocopa de 2012, Arshavin irritou os torcedores locais logo após a eliminação da seleção ainda na fase de grupos. "O fato de que nós não atendemos às expectativas dos torcedores não é problema dos jogadores, é um problema dos torcedores."

Adeus à seleção

Apesar disso, o clube de São Petersburgo optou por contratá-lo em definitivo. Mas nem a volta para casa fez com que o atacante tivesse ânimo para voltar a brilhar. Suas atuações, que renderam até vaias dos russos, fizeram com que o técnico Fabio Capello o deixasse de levar à seleção. Antes capitão da equipe, o atacante, que não joga pela seleção desde 2012, sequer foi cogitado para voltar nas vésperas da Copa do Mundo de 2014.

Desde então, sua carreira não para de ir por água abaixo. Em 2015, o jogador foi contratado pelo Kuban Krasnodar, mas deixou o clube 8 meses depois, tendo feito apenas oito jogos, e nenhum gol.

Quando era esperado que Arshavin finalmente se aposentasse, o jogador acertou sua ida para o Kairat, do Cazaquistão, em março de 2016. Apesar de ter ganhado a Copa local e feito gols bonitos, seu nome não voltou a ser cogitado na Rússia pelo técnico Stanislav Cherchesov.

Com 36 anos, Arshavin foi de astro e capitão a jogador preterido pela Rússia. Enquanto ex-companheiros de 2008 como Akinfeev e Zhirkov provavelmente disputarão o Mundial em casa, a grande estrela daquela equipe possivelmente verá os jogos de longe, por não ter sabido lidar com a fama e as decepções profissionais.

Copa 2018