Topo

Copa 2018

Da "República de Curitiba" à Polônia: naturalizado sonha encontrar o Brasil

Thiago Cionek durante coletiva da seleção da Polônia - Loic Venance/AFP
Thiago Cionek durante coletiva da seleção da Polônia Imagem: Loic Venance/AFP

José Edgar de Matos e Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo (SP)

13/05/2018 04h00

Não são apenas os 23 brasileiros da seleção de Tite que correrão pelos gramados russos na Copa do Mundo do próximo mês. Já virou tradição para o torcedor acompanhar um Wagner Lopes no Japão, um Francileudo na Tunísia ou até um Cacau na Alemanha. Agora, na Rússia, um Thiago pode representar a Polônia. Mais especificamente Thiago Cionek, zagueiro de origem polonesa, nascido em Curitiba e provável companheiro de Robert Lewandowski no Mundial.

Confira a tabela completa e o calendário de jogos
Simule os classificados e o mata-mata do Mundial
DOC: a Rússia Gay que não pode sair do armário

Zagueiro do Spal, da Itália, Thiago Cionek defende a seleção polonesa desde 2014 e participou de praticamente todo o ciclo de Copa com a equipe europeia; inclusive, esteve no grupo que jogou a Euro 2016 e só parou nas quartas de final contra a campeã Portugal. Dois anos depois, a expectativa para o Mundial cresce a cada dia, assim como as brincadeiras dos amigos na "República de Curitiba", cidade centro da investigação da operação Lava Jato, assunto também comentado pelo defensor nas conversas com parentes e colegas.

O WhatsApp de Cionek não para enquanto a Copa do Mundo se aproxima. A principal pergunta não é sobre a convocação para o Mundial, vai além. Afinal, como o zagueiro reagiria se enfrentasse o Brasil na Rússía?

“Já pensei, sonhei. Primeiramente, ficarei muito feliz se acontecer, porque quer dizer que ao menos nas quartas eu cheguei. Seria uma coisa única na vida de uma pessoa. Tenho sangue polonês e tenho orgulho de ter conseguido o passaporte; fiquei muito orgulhoso, mas nasci no Brasil e vivi muitas Copas como torcedor”, recordou-se o defensor, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Pré-convocado, Cionek se considera "perto" da Copa do Mundo. A confiança vem do período de trabalho com a seleção polonesa. Nas eliminatórias, o defensor atuou em três partidas como titular e acredita que agradou. Para sacramentar um lugar no grupo dos 23, o brasileiro se foca no fim de temporada com o Spal.

São 35 pontos e a 14ª colocação na tabela do campeonato. Restam apenas mais dois jogos, e o Spal depende apenas de si para permanecer na elite do futebol italiano. O clima de tensão, contudo, acaba amenizado pela famosa “resenha” do dia a dia. Obviamente, o vexame da seleção local é assunto recorrente, com o brasileiro liderando o lado ativo nas brincadeiras.

“Sempre damos uma brincada dentro do vestiário, é uma coisa normal do futebol. Mas também fiquei triste. Na última vez, foi a Holanda. Acontece. Mas podem puxar para o lado positivo e tirar lições disso para evoluir”, analisou o zagueiro polonês, que relatou à reportagem o clima com a queda surpreendente da Itália ainda nas eliminatórias europeias.

“O barulho foi muito grande. Eu comparo com o Brasil. A paixão do futebol é muito grande, e mídia e torcida são muito apaixonadas pelo futebol. Eles terem ficado fora foi um baque”, contou.

Política mantém laço com Brasil

Mesmo há dez anos na Europa, Cionek mantém laços fortalecidos com o Brasil. O português sem sotaque, as conversas com a família e até as informações sobre o caos políticos vivido no país mantêm o defensor em contato com a realidade, apesar da separação geográfica de um oceano. A cidade natal Curitiba virou uma “República” com a Lava Jato, e o centro da investigação influencia no dia a dia da família.

“Minha família ainda mora em Curitiba, que é um nicho polonês. Meus pais nasceram no Brasil. Estou sempre conversando com meu irmão sobre isso, e ele me mantém informado sobre tudo o que tem acontecido”, relatou o zagueiro, que, inclusive, já tem o voto definido para as eleições do segundo semestre.

“Sou Bolsonaro, 100%. Faço campanha gratuita para ele. Sou sempre ligado nas coisas que acontecem no Brasil. Toda vez que volto, vejo decadência de nível moral e cultural e corrupção. A gente torce para que o melhor aconteça”, discursou Cionek, com linha de raciocínio parecida a outros atletas como Jadson e Felipe Melo, que já declararam voto no polêmico candidato.

Copa 2018