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Tite isolado, WhatsApp e 4 horas de reunião: como a convocação foi fechada

O técnico Tite durante convocação da seleção brasileira à Copa da Rússia - REUTERS/Ricardo Moraes
O técnico Tite durante convocação da seleção brasileira à Copa da Rússia
Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes

Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/05/2018 04h00

O relógio marcava 14h07 de segunda-feira (14). Sem atrasos, após breves explicações do coordenador Edu Gaspar sobre a fase de preparação rumo à Rússia, Tite anunciou os 23 nomes que farão parte da seleção brasileira na Copa do Mundo. A lista final era fruto de um trabalho de observações, treinos e jogos iniciado em julho de 2016 e finalizado minutos antes.

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Ao lado de Edu, que também assina a relação revelada naquele momento, Tite fechou a convocação por volta de 13h15. A decisão de passar a convocação para as 14h - fugindo do habitual horário das 11h -, inclusive, passava pela ideia de esticar as análises o maior tempo possível na segunda-feira.

Por ordem do treinador, o expediente da comissão técnica no dia da convocação começou às 9h - uma hora antes do normal. Foram mais de quatro horas de reuniões até que a lista de 35 nomes (23 anunciados e mais os 12 suplentes) fosse definida.

39 nomes: quatro "cortes"

Entre conversas, argumentos e alguns momentos de debates acalorados, quatro cortes foram realizados. Segundo pessoas da comissão técnica ouvidas pela reportagem, uma lista de 39 nomes estava na mesa no início do dia.

"É algo normal. A gente fala, debate, discute, todos são ouvidos, mas o resultado final foi muito bom. Subimos após a convocação e nos abraçamos, comemoramos. Tínhamos a certeza que buscamos o melhor o tempo inteiro. Queríamos ser justos. Agora é trabalhar em campo", pontuou o coordenador de seleções, Edu Gaspar.

Além dos quatro nomes cortados para a chegar à lista final de 35, uma conversa chamou a atenção: a discussão pela última vaga da zaga. Ainda que Geromel fosse apontado por muitos como favorito, Rodrigo Caio brigou por uma ida à Copa até os últimos momentos da reunião e Dedé também foi citado. No fim, Tite se convenceu de que o zagueiro do Grêmio deveria estar entre os 23.

Rodrigo Caio acabou ficando na lista de suplentes, mantida em sigilo pela comissão técnica. "Preferimos não falar. É melhor. Evitamos uma discussão ainda maior, preservamos quem já está no grupo", explicou Edu Gaspar.

"Não precisávamos levantar mais questões. A convocação já foi leve, não teve clima ruim, discussão, nada. Queremos manter essa harmonia até o fim do trabalho. Teve até uma brincadeira ou outra durante a coletiva. A imprensa compreendeu, o Tite procurou responder tudo. Foi bem bacana", completou o coordenador de seleções, sem esconder a preocupação em evitar um conflito entre a seleção e a opinião pública.

Descontraído ao fim da entrevista, Tite esteve nervoso no início. Suas expressões deixavam claro que se tratava de uma ocasião especial. "Não sou super homem", comentou, a ser questionado sobre os medos às vésperas da Copa.

A preocupação nos últimos dias era tão grande que o treinador se isolou. Até mesmo as pessoas mais próximas não conseguiam contato. Ao lado de sua esposa, Rose, optou por ficar em casa e não assistir a debates em programas esportivos e em outras plataformas.

Entre os auxiliares, muita conversa, especialmente pelo WhatsApp. O aplicativo de mensagens instantâneas acabou sendo a principal plataforma de discussões durante o último fim de semana. Comentários de jogos europeus e brasileiros eram compartilhados, bem como imagens de posicionamentos e lances principais.

Um dos momentos mais lembrados foi o gol de cobertura de Gabriel Jesus contra o Southampton no último domingo (13). "Até vibrei em casa. Comentamos demais. É bom ver os meninos bem. Ele já estava consolidado no time, mas é bom vê-lo evoluindo assim", contou o auxiliar técnico Cleber Xavier.

Tite, no entanto, não falava muito. Pessoas ouvidas pela reportagem relataram que o comandante adotou a postura mais reclusa no meio da última semana. Tal isolamento também se fez presente na segunda-feira (14). Após as reuniões, o técnico ficou sozinho em sua sala durante alguns minutos antes da palavra final.

"O fechamento ocorreu nesta manhã. Abriu-se para debate com todo mundo. E, como o Tite falou, o processo é horizontal ali, cada um dá a sua opinião. Ele levou essas informações para tomar sua decisão", comentou o coordenador do departamento de análise, Fernando Lázaro.

Agora, com a lista já definida, a ideia é que não haja mais qualquer tipo de isolamento. "Amanhã [terça, 15] já começamos a pensar no amistoso contra a Croácia, no time titular, nas opções. O dia inteiro. E cada vez mais juntos até o fim da caminhada", finalizou Cleber Xavier.

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