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Copa 2018

Müller, um cara comum que pode bater Ronaldo, Pelé e "ser maior das Copas"

Paulo Camilo/UOL
Imagem: Paulo Camilo/UOL

Bruno Doro

Do UOL, em Munique (Alemanha)*

17/05/2018 04h00

Thomas Mueller é um jogador diferente, mas um cara comum. O alemão de 28 anos tem dez gols marcados em duas Copas do Mundo disputadas e, na Rússia, pode se tornar o maior artilheiro da história da competição. Atualmente, o recordista das Copas é o também alemão Miroslav Klose, com 16 gols.

Mesmo se não chegar aos 16, ele ainda pode deixar gente boa para trás. Pelé, por exemplo, tem três títulos mundiais, mas “apenas” 12 gols. Só dois a mais que o alemão. Ronaldo Fenômeno, dois títulos, soma 15. “Eu não penso exatamente no recorde. Mas, é claro, se marcar cinco ou seis vezes, isso significa que meu time está jogando bem e avançando no torneio”, analisa.

É uma resposta padrão, dita com um sorriso irônico. Porque, você deve lembrar, o espírito desse texto é o mostrar o quanto Müller é um cara comum. Não que, em campo, ele seja comum. Em duas Copas do Mundo, foi artilheiro em uma, campeão em outra. E, mesmo assim, não é exatamente o fenômeno de seu time.

Diga, você, em quem são os jogadores alemães mais famosos por aqui. Você pode pensar em Kroos e Özil, os gênios do meio-campo. Ou em Neuer, o melhor goleiro do mundo. Quem sabe lembre de Götze, autor do gol da final de 2014. Müller é o artilheiro desengonçado, com aqueles meiões baixos e que muitas vezes passa despercebido.

Ele não é o mais rápido. Não é o mais forte. Não é o mais habilidoso ou o mais preciso. Olhe o Bayern de Munique. Lewandowski é o artilheiro. Ribery e Robben, os dribladores. James Rodrigues, o fenômeno. Vidal e Thiago Alcântara, os maestros. Müller é capaz de executar a função de cada um deles com qualidade acima da média. Mas sem o mesmo brilho.

“Na Alemanha, o Müller é ídolo. Mas não podemos falar que ele é um Messi, um Ronaldo, um Neymar. Ele é um jogador muito importante para o grupo. E, em uma equipe montada, faz um trabalho muito importante, tanto de marcação quanto ao chegar na frente. Em suas melhores fases, fez muitos gols. Nunca deixou de ser um jogador importante, mas não podemos falar que está no mesmo calibre das grandes estrelas”, explica Paulo Sérgio, tetracampeão com a seleção em 1994, ex-jogador do Bayern de Munique e embaixador da Bundesliga no Brasil.

Quem já teve oportunidade de conversar com ele sabe que Müller brilha mais do que seus rivais, também, nas entrevistas. Em cinco minutos falando com jornalista no lançamento da nova camiseta do Bayern em Munique, na Alemanha, no início de maio, por exemplo, ele provocou jornalistas ingleses, falou sobre dardos profissionais e arrancou risadas ao provocar Klose, seu rival na busca pelo recorde.

“Não sei se Miro estará na Rússia com a seleção, mas aviso: eu tenho muito medo dele. Sei que, se eu começar a chegar muito perto dos 16 gols, ele pode dar um jeito de participar dos treinos e tentar me machucar. Tenho de estar sempre alerta”, provocou. Klose, que se aposentou em 2016, hoje trabalha no Bayern.

Sobre a Inglaterra, a piada veio com ironia. Jornalistas ingleses queriam saber a opinião do alemão sobre a “nova” seleção da Inglaterra. Com a cara séria, ele interrompeu a pergunta para questionar: “Nova Inglaterra? Vamos ver na Copa se é nova mesmo”. Quando os ingleses insistiram na pergunta, ele foi ainda mais longe. “Vamos ver depois da Copa se essa foi uma nova Inglaterra, mesmo”. Tudo com a expressão mais séria do mundo. Antes de abrir o sorriso e deixar claro que estava provocando os interlocutores.

Sobre dardos, o jogador deu uma lição a quem, como este que escreve a reportagem, não tinha muita ideia de como esse é um esporte profissional e organizado. Ao ser perguntado sobre quem era seu jogador de dardos favorito, ele pensou um pouco para disparar: “Mike van Gerwen é muito bom. E Rob Cross foi incrível em Ally Pally”.

Não entendeu? Nós também não. Fomos, então, pesquisar:

Mike van Gerwen é um holandês de 29 anos considerado um dos melhores do planeta no jogo de dardos.

Rob Cross é um ex-eletricista que foi campeão mundial neste ano, após apenas 11 meses competindo no circuito profissional.

E Ally Pally é o apelido do Alexandra Palace, um centro de entretenimento na cidade de Londres conhecido por ser o equivalente do estádio de Wembley para os dardos.

* O repórter viajou a convite da Adidas

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