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Copa 2018

Como o clube que teve os três centroavantes da Espanha trabalha a base

Iago Aspas concede entrevista coletiva na sede da Federação Espanhola de Futebol - Juan Medina/Reuters
Iago Aspas concede entrevista coletiva na sede da Federação Espanhola de Futebol Imagem: Juan Medina/Reuters

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

03/06/2018 04h00

Quando Julen Lopetegui anunciou a convocação de Iago Aspas para a Copa do Mundo, o Celta de Vigo soube que voltaria a ter um jogador que revelou pela primeira vez desde 1994. Além disso, os brasileiros naturalizados Diego Costa e Rodrigo, outras opções do técnico para a função de 9, também têm passagens pelo clube. Trata-se de uma recompensa para a agremiação, cujo investimento na base, no desenvolvimento de jogadores e na prospecção de talentos pelo mundo não é novidade.

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Aspas fez toda a base pelo Celta de Vigo. Do infantil ao profissional, vestiu a camisa do clube de 1995 a 2013 – chegou a ser emprestado para o Rápido Bouzas na temporada 2004/2005. Depois, passou pelo Liverpool e pelo Sevilla antes de acertar seu retorno para o Celta, que ocorreu em 2015.

Rodrigo, por sua vez, passou pelas categorias de base do Celta entre 2005 e 2009 e deixou o clube rumo ao Real Madrid. Por fim, Diego Costa defendeu a equipe na temporada 2007/2008 por empréstimo – na época, o centroavante pertencia ao Atlético de Madri. Naturalizados espanhóis, os dois dão sequência a uma grande lista de brasileiros que defenderam o clube no século.

Entre eles, está Edu Schimidt, brasileiro que jogou no Celta de 2000 a 2004. Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-atacante afirma que o clube sempre teve preocupação com a qualidade do futebol praticado e que a convocação de três jogadores que passaram por ele não surpreende por isso.

"Quando cheguei ao Celta de Vigo, apesar de conhecer pouco sobre o clube, sabia que era um dos times que melhor praticava o futebol na Espanha naquele momento. Produziam um futebol vistoso, com muita técnica e jogadores qualificados. Evidentemente, com o passar do tempo, o futebol espanhol evolui, transformando essa evolução em títulos importantes, tanto a nível de clubes, como de Seleção, principal e base. O Celta de Vigo não ficou atrás e seguiu essa evolução como todos no futebol espanhol, e de certa forma não me estranha que esses jogadores de qualidade tenham passado por lá, justamente pela linha de pensamento do clube e pela forma com que jogam", disse Edu.

De acordo com o brasileiro, o Celta está inserido em um contexto de investimento na base que é tendência no futebol espanhol. Isso, aliado à tradição que o clube tem na formação e no desenvolvimento de jogadores, ajuda a explicar como a equipe voltou a aparecer em uma convocação da Espanha.

"A reformulação do futebol espanhol em um todo está inserida claramente em um trabalho de base mais qualificado, com profissionais capacitados, que ajudaram na formação de jogadores para atingirem o elenco principal, onde chegam preparados para atuarem com desenvoltura. E o Celta é um dos clubes que procura trabalhar bem e dá importância a isso. Quando lá cheguei, havia dois jogadores que eu tinha enfrentado nas categorias de base da seleção, o Pablo Coira e o Pablo Couñago, que fizeram parte de uma grande geração, que incluía Iker Casillas e Xavi, entre outros. Lembro também do Míchel Salgado, que começou lá e depois fez sucesso no Real Madrid. Avalio de forma positiva, pois seguem revelando jogadores", constatou.

No Celta, Edu não chegou a conhecer Iago Aspas. Mas teve a oportunidade de atuar ao lado de seu irmão, o meia Jonathan, que também foi formado nas categorias de base do clube e marcou três gols pela equipe profissional entre 2003 e 2007.

"Não me lembro muito do Iago Aspas, mas sim de seu irmão, Jonathan Aspas que foi também criado na base do Celta e chegou ao time principal, coincidindo por um tempo comigo. Uma pessoa muito bacana e com muita vontade de evoluir. O tempo nos diz que Iago teve um sucesso maior, chegando a um nível alto. Gosto muito do futebol do Iago, possui uma técnica refinada, se move bem no campo, buscando bem os espaços onde pode desenvolver bem suas qualidades, e com o diferencial de que sabe fazer gols, tendo uma média interessante", avaliou.

O último jogador revelado pelo Celta que disputou uma Copa do Mundo pela Espanha foi o ex-zagueiro Jorge Otero, convocado em 1994.

Olho no Brasil e desenvolvimento

Brasileiro Edu em ação pelo Celta durante jogo contra o Espanyol em 2003 - Firo Foto/Getty Images - Firo Foto/Getty Images
Brasileiro Edu em ação pelo Celta durante jogo contra o Espanyol em 2003
Imagem: Firo Foto/Getty Images

Assim como Edu, Sylvinho, Vágner, Doriva Giovanella e Catanha fazem parte da lista de jogadores nascidos no Brasil que defenderam as cores do Celta de Vigo neste século. Alguns deles deixaram o país rumo à Europa quando ainda eram relativamente desconhecidos. O ex-atacante admite um olhar mais atento para brasileiros.

"O brasileiro quando chega, seja para o clube que for, sempre se cria uma expectativa alta. O mercado brasileiro segue chamando a atenção de clubes europeus e assim seguirá sendo. Entre eles o Celta, que busca oportunidades boas de contratações, com custo benefício bom, seguindo principalmente a política de contratar jogadores jovens, com uma margem de evolução grande para serem negociados depois, deixando resultado positivo tanto no campo como no lado financeiro do clube. A torcida tem um carinho especial quando chegamos, e óbvio que se o rendimento for o esperado, esse carinho e respeito só vem a crescer", descreveu.

Claro que o trabalho de revelar jogadores e de encontrar talento disponível no mercado não bastaria se o Celta não tivesse excelência no desenvolvimento de seus atletas. Entre os atletas que passaram por lá, está David Silva, por exemplo, que se aproveitou dos minutos que recebeu para crescer.

"O Celta, nos últimos anos, tem se utilizado de jogadores que de repente precisam de um clube com condições boas para demonstrarem suas condições e potencial, e muitas vezes tem dado certo. É o caso, por exemplo, de David Silva que por lá passou e depois deu sequência em clubes maiores. Ou seja, além de ter o trabalho na base, buscam no mercado boas opções para fortalecer o time", explicou Edu.

O brasileiro foi para o Celta em 2000, quando se transferiu do São Paulo para a Espanha, e marcou 28 gols pelo clube. O ex-atacante conta como seu desenvolvimento na Galiza ajudou no crescimento de sua carreira.

"Me ajudou muito. Como saí bem jovem, essa maturação e terminação profissional ocorreram lá, e nesse processo agradeço a todos os jogadores e treinadores que me ajudaram a entender e compreender melhor o futebol europeu, além e agregarem coisas positivas no lado humano", exaltou.

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