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Copa 2018

Após longa espera e batalha por Guerrero, êxtase peruano chega à Rússia

Treino aberto do Peru foi o primeiro de uma seleção sul-americana na Rússia - UOL
Treino aberto do Peru foi o primeiro de uma seleção sul-americana na Rússia Imagem: UOL

Julio Gomes

Do UOL, em Moscou

11/06/2018 07h10

“A festa começou”. A definição quase perfeita é de Peter Grankin, russo de 34 anos, nascido na pequena cidade de Khimki (se pronuncia rímiki), na grande Moscou. Foi na moderna Arena Khimki que o Peru fez seu treino aberto para a Copa do Mundo – a Fifa obriga todas as seleções a fazerem uma sessão aberta ao público antes da estreia.

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O Peru foi a primeira seleção sul-americana a fazê-lo. Ainda nesta segunda, Argentina e Uruguai farão o mesmo em suas bases, que, no entanto, ficam mais distantes da capital. Na terça, será a vez do Brasil. Na quinta, da Colômbia.

E foi em grande estilo. Os peruanos carregaram para a arquibancada a comoção dos últimos meses, com a luta para que Paolo Guerrero pudesse jogar o Mundial – o atacante participou normalmente do treino, mas não chamou tanta a atenção dos russos quanto seus compatriotas menos famosos.

A mistura nas arquibancadas foi curiosa. Era muito fácil saber quem era peruano e quem era russo, seja pela fisionomia física, seja pelo grau de empolgação. A maioria local observava à distância algo que talvez nunca tenha visto nos estádios do país. Alguns até tentaram se enturmar, mas o idioma é uma clara barreira.

Grankin, que fala inglês e conseguiu se comunicar com alguns dos visitantes, tirou fotos e mais fotos dele mesmo e de seus filhos, Leonard, 5, e Laisa, 7, com o jovem Julio, 16, que veio de Lima e trouxe na bagagem uma fantasia que é uma espécie de asa ornamentada com as cores do Peru e as bandeiras dos países da Copa.

Peruanos treino - UOL - UOL
Peruanos fantasiados fazem a alegria de torcedor russo
Imagem: UOL
Julio e o pai dele, Julián, vieram de Lima à Rússia para “cumprir o sonho de ver o Peru no Mundial”. Ausente desde 1982 das Copas, o Peru é um dos países que mais compraram ingressos para os jogos da primeira fase. A longa espera acaba o sábado, quando o time entrará em campo contra a Dinamarca. É possível ver turistas passeando com a camisa do Peru na Praça Vermelha, por exemplo, o coração de Moscou.

O treino aberto em Khimki recebeu um grupo de aproximadamente 100 peruanos. E algumas outras centenas de russos, que se misturavam entre a curiosidade de ver o que os jogadores estavam fazendo no treino e o espanto pelo barulho e a empolgação dos peruanos na arquibancada.

“Eu amo o futebol e é a primeira vez que vejo jogadores profissionais de perto. É muito legal a festa que eles (peruanos) fazem, tudo muito colorido, muito bonito. Quis trazer meu filho por isso, acho que a Rússia ficará marcada por toda essa mistura de povos”, falou Grankin.

Enquanto isso, no meio dos russos, o grupo de peruanos, a maioria com camisetas de Paolo Guerrero, entoava tradicionais cânticos dos estádios sul-americanos.

“Soy, soy peruaaaano... de la Francia, tenemos que gañar...”

O tom subiu quando um jornalista francês (a França é adversária do Peru no Grupo C) chegou para conversar com os torcedores.

“Queremos agradecer muito aos franceses e todos os nossos adversários pelo fair play e por defenderem a causa justa”, disse Mauricio Castro, 26, ao repórter francês.

Torcedor peruano Mauricio Castro agradeceu jornalista francês - UOL - UOL
Torcedor peruano Mauricio Castro agradeceu jornalista francês
Imagem: UOL
Ele se referia à carta conjunta assinada pelos capitães de França, Austrália e Dinamarca defendendo a presença de Paolo Guerrero na Copa. O atacante jogará a Copa sob efeito suspensivo após receber punição de um ano e quatro meses por doping.

Castro mora na Califórnia, onde acaba de se formar em economia. Virou motorista de aplicativos para juntar dinheiro e comprar uma passagem a Madri. Da capital espanhola, começou a aventura de 25 dias para chegar a Moscou, pegando caronas, dormindo em acampamentos, estações de trem e ônibus.

“É meu sonho de criança. Sou um louco do futebol. Nunca achei que esse momento fosse chegar”, falou. “E que bom que conseguimos colocar Guerrero no Mundial! Apelamos ao TAS, aos direitos humanos, até ao Papa. A alegria é imensa. E agora sinto que podemos passar da fase de grupos”.

A mistura entre peruanos e russos foi a grande notícia do treino – uma sessão com muitas finalizações e movimentação tática em campo reduzido. Ao final, dois jogadores falaram. Tapia e Santamaría destacaram o retorno de Guerrero ao grupo e o impulso recebido por ver a empolgação dos torcedores peruanos.

“Estamos muito felizes, foi tanta espera do povo peruano..”, comentou Tapia. “O público peruano é muito carinhoso, isso nos motiva a trabalhar em dobro para conseguir os resultados”, falou Santamaría. “Sabemos o que Paolo representa e foi muito emocionante seu retorno. Ele está muito motivado e isso nos motiva também. Estamos aqui para ajudá-lo”.

Torcida peruana - UOL - UOL
Imagem: UOL

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