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Brasil corta apelidos 60 anos após suecos se perderem com Dida, Didi e Pelé

Pelé, Gylmar e Didi celebram na Copa do Mundo de 1958 - AP Photo/File
Pelé, Gylmar e Didi celebram na Copa do Mundo de 1958 Imagem: AP Photo/File

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Sochi

14/06/2018 04h00

O uso de apelidos em vez de nomes marca a história da seleção brasileira. Mas, na Rússia, a invasão dos nomes e sobrenomes com o marketing cada vez mais presente no futebol prevaleceu definitivamente. Pela primeira vez após 20 Mundiais, o Brasil vai trocar Preguinhos, Didis, Pelés, Zicos e Kakás por Coutinho, Casemiro e Miranda, com no máximo um Paulinho para quebrar a ordem vigente.

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Há exatamente 60 anos, era muito diferente. Na Suécia, em 1958, nove dos 22 jogadores da seleção que conquistou o mundo pela primeira vez não atuavam com o próprio nome. Os apelidos, de acordo com o livro "Bíblia da seleção brasileira de futebol", escrito por Luís Miguel Pereira, causaram confusão em torcedores e jornalistas locais. 

"A imprensa sueca demorou a entender esta forma de tratamento e trocava, frequentemente, alguns nomes. Dida era Dido, Garrincha era Garincha ou Garincho, e por aí vai", contou o livro. A confusão foi de tal ordem que antes da estreia, frente à Áustria, um colunista do jornal sueco Aftonbladet resolveu brincar com o tema.

Nessa história, o citado colunista disse que Dudu era o goleiro, Dada e Dudu os zagueiros, que no meio estavam Dodo, Dudi e Duda, e que na frente jogavam Didi, Dida, Dadi, Deda e Dade. O estranhamento só aumentava com os suecos, porque a sensação no time do Brasil era Pelé, constantemente trocado por "Pelle", um nome típico entre os suecos. 

Como Dario virou o Dadá Maravilha

Dario imortalizou apelido em nome do marketing pessoal nos anos 60 e 70 - Reprodução - Reprodução
Dario imortalizou apelido em nome do marketing pessoal nos anos 60 e 70
Imagem: Reprodução

Quem gostou do apelido de Edson Arantes do Nascimento, anos depois, foi o atacante Dario José dos Santos. Não reconheceu? Sim, Dadá Maravilha. 

"Um dia eu olhei: 'Pelé, o nome é Edson'. 'Garrincha, o nome é Manoel'. Os maiores do mundo usam apelido. Por que eu não uso apelido? Vou colocar um. Peguei e falei... Dadá", relembra, em entrevista ao UOL Esporte, um dos cinco jogadores que, no Mundial de 1970, não eram conhecidos pelo próprio nome.

A escolha desse novo nome, irreverente, não foi fácil. "O Lula [então treinador do Atlético-MG] falou: 'Vão te chamar de veado'. Eu digo :'Não sou, vai ser Dadá'. Fomos jogar com o Cruzeiro, que fazia cinco anos não perdia para nós. Peguei e falei aos jornalistas que a partir daquele dia só atendia como Dadá", recorda. 

"A torcida tinha mais de 120 mil cruzeirenses xingando 'Dadá veado, Dadá veado'. Lula veio e falou no intervalo: 'Você não fez nada, eu avisei'. Falei: 'tenho personalidade'. Um repórter veio e falei 'sou macho'. Tomei uma vaia tremenda, mas no segundo tempo fiz dois gols", recorda Dario, que virou Maravilha ao jogar pelo Flamengo, na Cidade Maravilhosa, e Rei Dario, ao se mudar para o Internacional. 

Os apelidos somem pouco a pouco

Gradativamente, o número de apelidos se reduziu no futebol brasileiro, que ainda não parece rejeitar o diminutivo. Na Copa de 94, por exemplo, a seleção de Parreira tinha Zinho, Dunga, Mazinho, Müller e Viola no elenco do tetra. Já no penta, Dida, Cafu, Vampeta e Kaká, que em 2010 já era o único do elenco ao lado de Grafite. No último Mundial, só Hulk não tinha menção ao próprio nome na camisa. 

Para Dadá Maravilha, um entusiasta dessa prática, antes era muito melhor. "Apelido é muito bom, consagra, é diferente. O povo não gosta de mesmice, gosta quando é diferente. Eu era um jogador comum, tecnicamente fraco, mas eu dava nome aos gols. Fiquei mais famoso pelas frases que pelos gols", recorda.  

No Brasil de Tite, entre nomes e sobrenomes nas camisas, a maior curiosidade envolve Gabriel Jesus. Conhecido como "Tetinha" e "Borel" durante a infância e adolescência, cresceu nas divisões de base como Gabriel Fernando. Mas, ao se profissionalizar no Palmeiras, recebeu uma sugestão e gostou: virar Jesus e vestir a camisa 33 em referência à idade de Cristo porque 'pegaria mais'. A ideia, mesmo sem ser um apelido, não podia dar mais certo.