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Copa 2018

Sob desconfiança, jovem seleção francesa tenta se provar contra Austrália

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

14/06/2018 14h48Atualizada em 15/06/2018 21h10

Enfim, chegou a hora do Grupo C. Neste sábado (16), às 7 horas (de Brasília), a Austrália será o primeiro desafio de uma França relativamente jovem. A média de idade dos 23 jogadores franceses convocados para a Copa do Mundo de 2018 é de 25,5 anos. Dentre eles, 15 não têm mais que 25; o dono da camisa 10, que um dia foi de Zidane, agora é Mbappé, de 19. Com tanta juventude, a equipe de Didier Deschamps terá neste jogo a primeira chance de superar a desconfiança de seu próprio país.

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Desconfiança que gira principalmente em torno de Pogba. Campeão do mundo com a seleção em 1998, o ex-zagueiro Marcel Desailly afirmou nesta sexta-feira que o jogador do Manchester United não será a estrela do país na Copa da Rússia. Ele disse que o meio-campista precisará ajudar na marcação, algo que pode comprometer o seu potencial no ataque.

O ex-atleta aponta que o fato de a França jogar com três atacantes obrigará Deschamps a adaptar o modo de jogo de Pogba, cujo posicionamento é visto por Desailly como uma incógnita que o técnico francês deverá resolver se quiser triunfar.

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O técnico Didier Deschamps terá que vencer a desconfiança dos franceses
Imagem: Robert Cianflone/Getty Images

O próprio Deschamps admite a tensão para a partida de estreia. O treinador disse que os australianos, apesar de não terem tradição no futebol, são adversários difíceis. "Antes de pensar em chegar à final, há etapas como vencer nossa primeira partida do grupo. O nível deles é alto, vamos jogar com entusiasmo e humildade", comentou.

A afirmação ressoa a tensão entre os jogadores franceses, que esperam por uma partida dura. "A Austrália progrediu, muitos jogadores estão jogando na Europa, especialmente na Inglaterra. Eles são dedicados ao seu país. O mais importante será manter o jogo ofensivo em campo. Vai ser uma luta”, disse o goleiro Lloris.

Os 23 jogadores da seleção francesa entraram em campo nesta sexta-feira (15), em Kazan às 12h (local, 6h de Brasília) e iniciaram os treinos com uma corrida contínua antes de darem alguns piques. Na sequência, teve início o trabalho com bola, momento em que os goleiros Hugo Lloris, Alphonse Areola e Steve Mandanda se separaram do restante do elenco.

Enquanto espera pela bola rolar, o alívio da França vem com a definição do futuro de Griezmann. Após fazer suspense sobre qual clube defenderá na próxima temporada, o atacante anunciou, para surpresa e brincadeira dos companheiros de seleção, que continuará no Atlético de Madri. A outra opção era o Barcelona.

“Nós rimos. É bom que ele se sinta livre dessa pressão”, relatou Lloris. Para Deschamps, a decisão do atacante permite que ele mantenha o foco no Mundial. “É bom que ele tenha o espírito livre antes da estreia na Copa do Mundo", disse o técnico.

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Mais leve após anunciar decisão, Griezmann foi destaque do treino da França
Imagem: Franck Fife/AFP

De fato parece mais leve, já que Griezmann foi o destaque do treinamento desta sexta-feira. O comandante não deu pistas sobre o time titular, mas tudo indica que escolherá o jovem Pavard na lateral direita, no lugar de Sidibé, e Lucas Hernández na esquerda, em vez de Mendy. Griezmann, Mbappé e Dembélé provavelmente formarão o trio de ataque, deixando no banco Giroud, jogador de menor mobilidade.

O técnico da Austrália se mostrou preocupado. "Se nós jogássemos dez vezes contra a França, talvez perdêssemos oito ou nove jogos. Vamos trabalhar duro para chegar a uma situação em que só perderíamos cinco ou seis, com empates ou vitórias nossas. Também é preciso ter um pouco de sorte", disse Bert van Marwijk em coletiva de imprensa. Apesar do amplo favoritismo, a dose de desconfiança ainda preocupa a França.

Segundo uma pesquisa conduzida pelo instituto OpinionWay e publicada no dia 7 de junho pelo jornal Le Parisien, 53% da população da França tem uma imagem negativa da seleção que a representará na Rússia – dentre estes 53%, 23% desprezam o time. Apenas 46% se arriscam a dizer que gostam do futebol dos Bleus. Nem mesmo a classificação para a Copa no primeiro lugar do Grupo A das Eliminatórias fez o povo francês se afeiçoar a esta delegação.

A idade da equipe pode ser um fator decisivo nesta questão: há quem acredite que a seleção francesa é, sim, potencialmente perigosa, mas apenas para a Copa de 2022, que será disputada no Qatar. Para estes analistas do futebol, Paul Pogba e companhia ainda não são ameaça real para o Mundial de 2018.

mbappé - Christophe Ena/AP - Christophe Ena/AP
Camisa 10, Mbappé tem apenas 19 anos
Imagem: Christophe Ena/AP

Apenas o capitão Lloris (Tottenham), o goleiro reserva Mandanda e o zagueiro Adil Rami (ambos do Olympique de Marselha), o meio-campista Matuidi (Juventus) e o atacante Giroud (Chelsea) – que, recentemente, igualou Zidane em número de gols pela seleção francesa – têm mais de 30 anos.

Mbappé (19), Dembélé (21), Tolisso (23), Lemar (22), Pogba (25), Mendy (23), Lucas Hernández (22), Sidibé (25), Umtiti (24), Varane (25), Kimpembe (22), Fekir (24), Thauvin (25), Pavard (22) e Areola (25) têm 25 anos ou menos. Apenas três jogadores estão na faixa etária entre 26 e 29: Griezmann (27), Kanté (27) e Nzonzi (29).

Matuidi, um dos que têm mais de 30, minimiza a questão. “É muito bom termos jogadores talentosos, mas nós precisamos de alguns experientes também. Nós temos, incluindo eu mesmo. Temos uma boa mistura. O nosso papel é tentar transmitir calma. Dito isso, apesar de os novos atletas serem jovens, eles já têm uma boa maturidade, como Mbappé. Ele tem apenas 19 anos, mas é muito inteligente”, falou Matuidi, de 31.

Por outro lado, a desconfiança também pode se justificar nas ausências. A não convocação de Rabiot, do PSG, e de Lacazette, do Arsenal, causou estranheza para o público francês. Além disso, Benzema está fora da seleção desde 2015, quando foi acusado pela Justiça de chantagear o colega de seleção Valbuena para não divulgar um vídeo erótico.

Não há qualquer novidade na ausência do atacante do Real Madrid, que já não disputou a Euro ou as Eliminatórias para a Copa. No entanto, se o ataque da França não prosperar em 2018, é possível que os torcedores se lembrem de Benzema, que acaba de conquistar a terceira Liga dos Campeões consecutiva com o clube espanhol.

As cifras em torno da seleção acrescentam dose extra de pressão: Dembélé foi contratado pelo Barcelona por 105 milhões de euros (valor que, atualmente, ultrapassa os R$ 450 milhões), Pogba assinou com o Manchester United pelo mesmo valor, e o PSG deve gastar 180 milhões de euros (R$ 780 milhões) para manter Mbappé após o período de empréstimo.

Griezmann, do Atlético de Madri, quase assinou com o Barça. Quase! Messi declarou que adoraria jogar ao lado dele, mas o francês anunciou, nesta quinta-feira (14), que não trocará de clube. A revelação foi feita ao estilo LeBron James, em um documentário que irritou parte da torcida. O negócio não foi fechado, mas a multa rescisória é de 100 milhões de euros (R$ 430 milhões); ou seja, adicione alguns cifrões a mais no preço de uma seleção que terá de provar seu valor.

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