Pivô de vexame, 'Coronel das gafes' virou presidente em manobra de Del Nero
Antônio Carlos Nunes nunca teve relações das mais íntimas com o futebol. Ao sentar na cadeira da presidência da Federação Paraense de Futebol, notabilizou-se mais por escândalos do que propriamente pelo desenvolvimento do esporte no estado. Capitão da Polícia Militar e prefeito – escolhido pelo Governo Militar – da natal Monte Alegre (PA) entre 1977 e 1980, sempre deixou clara a vocação para manobras políticas a serviço de uma escalada na hierarquia.
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E assim foi na CBF, onde chegou ao posto mais alto do futebol brasileiro após articulação de Marco Polo Del Nero para que seu grupo não deixasse o comando da entidade. A manobra defensiva cobrou seu preço nesta semana. Na última terça, Coronel Nunes representava o Brasil na votação para a escolha das sedes da Copa de 2026 e quebrou o pacto de apoio da Conmebol à candidatura de EUA, México e Canadá, apoiando Marrocos. O episódio gerou um incidente diplomático na cartolagem e colocou a CBF em maus lençóis.
Toda essa história começou em 2015, com a prisão de José Maria Marin, quando Del Nero se viu diante de situação delicada. Igualmente investigado, poderia ser punido a qualquer momento e assistir a seu desafeto Delfim Peixoto assumir sua vaga, uma vez que era ele o vice-presidente mais velho e herdeiro direto da presidência. Para evitar a derrocada, elegeu, às pressas, em dezembro de 2015, o Coronel Nunes como substituto de Marin.
Com 77 anos à época, o controverso político-militar se juntava a outros quatro vices e se tornava o substituto imediato de Del Nero em caso de problemas com as investigações de corrupção na Fifa e nos Estados Unidos. Era o cenário ideal. Preocupado apenas em manter o status de alto dirigente do futebol, o paraense não atrapalharia os planos do grupo de Marco Polo.
O gostinho do poder maior veio logo na sequência. Em janeiro de 2016, Nunes se tornou presidente interino após pedido de licença de Del Nero. Pressionado, o chefe do grupo se dedicaria à defesa nos processos que respondia. Figura decorativa, o Coronel começava a chamar mais a atenção pelas gafes nos bastidores do que pelo desempenho no comando da entidade.
De início, disse que o então técnico do Paysandu, Dado Cavalcanti, era o melhor do país e poderia substituir o pressionado Dunga. Em outras ocasiões, quando algum assessor o deixava sozinho, trocava informações e gerava apreensão nos bastidores.
Coronel chamou Tite de Dunga em estreia
No jogo de estreia de Tite, no Equador, em agosto de 2016, disse que a “vitória de Dunga” tinha sido boa. Imediatamente um truculento assessor empurrou a imprensa impedindo perguntas que gerassem novas respostas desconexas da realidade.
Diante de tantos problemas, passou a ser isolado e pouco era visto. A intenção era blindar um dirigente que causava vergonha nos corredores da sede da Barra da Tijuca. Em 2017, uma doença grave o isolou de maneira mais séria. Nunes passou mais de dois meses internado em um hospital da zona sul do Rio de Janeiro e as sequelas estão presentes até hoje. O cartola anda com muita dificuldade e tem sempre a companhia de uma cuidadora.
Com a temida punição a Del Nero confirmada pela Fifa, o Coronel voltou aos holofotes, agora sempre com uma cuidadora e um assessor por perto. A intenção era minimizar as chances de situações constrangedoras.
Cartola vira "peso" para CBF
Na Rússia, no entanto, não foi possível. Em Sochi, mesmo acompanhado por um funcionário da CBF, o Coronel Nunes teve uma passagem rápida, porém avassaladora pela concentração da seleção. Na última terça-feira (12), com seu estilo boleiro, acompanhou de dentro do campo o treino aberto da seleção e disse que, na Rússia, o Brasil seria o primeiro sul-americano a vencer um Mundial na Europa, esquecendo-se que o Brasil obteve o feito em 1958, na Suécia. De lambuja, também chamou o Mar Negro de Mar Vermelho.
Pior aconteceu no dia seguinte – quarta (13). Em Moscou, no congresso da Fifa, o coronel votou no Marrocos como sede da Copa de 2026. A CBF tinha se comprometido a votar em bloco com a Conmebol na candidatura de Estados Unidos, Canadá e México. Desde o episódio, ele é visto como traidor na entidade sul-americana. Na quinta (14), optou por não ir a evento da confederação sul-americana.
Em tal cenário, um vice-presidente que deveria apenas decorar a cadeira na ausência do presidente se destacou de maneira pouco convencional, criando mais uma crise no futebol sul-americano. De quebra, ainda aumentou o “peso” que se tornou para a CBF, entidade que ainda comandará até abril de 2019. Até lá, seus pares se esforçam para evitar novas gafes.
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