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Erros táticos de Deschamps contra Austrália envolvem defesa, meio e ataque

Griezmann, Pogba, Mbappé e Dembelé: muito abaixo das expectativas em uma estreia ruim contra a Austrália - Getty Images
Griezmann, Pogba, Mbappé e Dembelé: muito abaixo das expectativas em uma estreia ruim contra a Austrália
Imagem: Getty Images

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

16/06/2018 11h17

A França chegou à Rússia como uma das favoritas para vencer a Copa do Mundo. A projeção se baseava na excelente campanha nas Eliminatórias, em jogos bonitos na última temporada e, principalmente, na consolidação de jovens talentos. Mas a estreia contra a Austrália, na abertura do Grupo C, escondeu todos esses predicados em uma sequência de escolhas erradas.

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Clique aqui para ver os gols de França 2 x 1 Austrália.

A premissa: futebol ofensivo do meio para frente

O técnico Didier Deschamps montou seu time com dois laterais de vocação defensiva (Pavard e Hernández), mas no meio de campo postou Kanté como único marcador fixo. Tolisso e Pogba teriam, então, a liberdade para integrar o ataque com Griezmann, Dembelé e Mbappé, que se revezariam na função de "falso 9" justamente para abrir espaços para a infiltração dos meias. O problema é que quase nada disso foi colocado em prática.

A realidade: trio do meio não soube atacar

O trio ofensivo conseguiu, é verdade, trocar de posição o tempo todo. A cada ataque um jogador diferente passava ao centro e recuava, chamando a atenção de um dos zagueiros. Isso permitiria que Tolisso e Pogba entrassem na área como surpresas. Os meio-campistas, entretanto, não se projetavam. O máximo que faziam era trocar passes com Kanté e acionar os laterais e pontas, mas nunca com ultrapassagens para dar opção.

Então, a tática que serviria para bagunçar a vida dos pesados zagueiros australianos virou pó. A França passou a ter jogadores leves competindo com pouco espaço contra muros. Para explicar melhor, é só pensar no Brasil escalando Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus como trio de ataque, apostando em movimentação para criar espaços, mas com Casemiro, Paulinho e Fernandinho no meio, sem infiltrações na área. Seria um time leve, mas sem espaço para usufruir dessa mobilidade. E ficaria ainda pior se os jogadores resolvessem apelar para cruzamentos, não é?

Didier Deschamps, técnico da França - Laurence Griffiths/Getty Images - Laurence Griffiths/Getty Images
Deschamps não gostou da produção francesa contra a Austrália
Imagem: Laurence Griffiths/Getty Images

Saída errada: chuveirinho para os baixinhos

Parece óbvio que os chuveirinhos nessas circunstâncias não seriam a melhor opção. Mas foi a essa alternativa que os franceses recorreram contra a Austrália. Hernández e Pavard, já sem muitos trejeitos para atacar, chegavam na intermediária e lançavam na área, normalmente habitada só por um dos três baixinhos atacantes de Deschamps.

A solução era simples: Pogba se apresentar mais à frente. E não seria nenhum sacrifício ou invenção. O meio-campista explodiu para o mundo justamente quando se tornou mais ofensivo, na Juventus, com chutes da entrada da área e aparições surpreendentes entre os zagueiros. Só que essa faceta ofensiva minguou com a transferência para o Manchester United. Comparando as duas últimas temporadas na Itália e as duas primeiras na Inglaterra, o placar de gols está em 20 a 15.

O enigma Pogba: limbo posicional

Pogba, inclusive, tem sido muito criticado pelos ingleses por estar em um certo limbo. Não é eficiente como se esperava sendo uma peça criativa no meio de campo e também não dá o combate necessário para jogar mais recuado. O jogo contra a Austrália era um exemplo disso. Tanto é que a primeira ação ofensiva de Pogba foi aos nove minutos do segundo tempo, quando lançou Griezmann, que sofreu e converteu pênalti.

Curiosamente, quase que de forma alheia ao cenário geral do jogo, Pogba participou também do segundo gol francês. E na única vez em que entrou na área. O meio-campista tentou dividir com o zagueiro e a bola espirrou, encobrindo o goleiro. A Fifa computou gol para o astro do United, que saiu como um herói superficial.

O dia de escolhas erradas da França passou ainda pelas decisões individuais do trio ofensivo. Griezmann foi quem menos errou, além de ter feito o gol, mas não teve a agressividade que lhe caracteriza no Atlético de Madrid. Demebelé mostrou a insegurança que pauta sua passagem pelo Barcelona até o momento e Mbappé se limitou a algumas firulas improdutivas pelas pontas. No um contra a um, os três falharam quase sempre.

Diante de tantas falhas no ataque, Deschamps decidiu mudar completamente a forma da França jogar. Griezmann e Dembelé foram sacados e o técnico lançou Giroud, para, enfim, dar sentido aos cruzamentos excessivos, e Fekir, para ter um meia de mais cadência e que arriscasse mais enfiadas de bola. Fekir tabelou, Giroud fez pivô e foi assim que o segundo gol saiu. Alternativa há. Reconhecer o erro foi decisivo.

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