Estreia põe à prova "cheque em branco" da CBF para Tite em caos político
Em junho de 2016, Tite teve uma conversa objetiva com Marco Polo Del Nero. Disse ao dirigente que só aceitaria assumir o comando da seleção brasileira se tivesse autonomia nas decisões relativas à equipe. Dois anos depois, ele estreia com o Brasil na Copa do Mundo, contra a Suíça, neste domingo, às 15h, em Rostov-on-Do, e ninguém poderá dizer que a entidade não cumpriu a promessa. Auxiliada pela fragilidade política de Del Nero, a comissão técnica ganhou um "cheque em branco" na busca pelo hexa.
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O então presidente da CBF estava acuado por denúncias de corrupção em processo aberto pela Justiça americana enquanto a seleção cambaleava nas Eliminatórias. Contratar o técnico mais popular do Brasil era uma forma de o cartola conseguir respirar um pouco e diminuir as críticas contra ele. Principalmente depois que o então comandante do Corinthians, por duas ocasiões, já havia recusado sondagens da entidade em respeito a Dunga, que ocupava o cargo.
Neste cenário, Del Nero não tinha poder de barganha com Tite. Era aceitar as exigências ou procurar outro técnico que provavelmente não seria um escudo tão eficiente. O dirigente, hoje banido do futebol pela Fifa, se curvou diante das solicitações do técnico - ele nega as acusações e recorre contra a punição.
Para começo de conversa, Tite escolheu seu chefe, Edu Gaspar. Depois, ampliou a comissão técnica da seleção de maneira nunca vista. Ele conseguiu dois preparadores físicos, três auxiliares, sendo que um deles é seu filho, Matheus Bachi, quatro analistas de desempenho (dois deles são exclusivos da seleção) e quatro fisioterapeutas. A CBF contratou, por exemplo, o preparador Fábio Mahseredjian em tempo integral, algo incomum na história da seleção.
Em termos comparativos, Luiz Felipe Scolari, quando montou sua comissão para disputar a Copa de 2014, contava com um assistente, dois preparadores físicos, dois fisioterapeutas, um analista de desempenho e dois observadores. A comissão mais enxuta, porém, foi opção do próprio treinador, cujo principal pedido no último Mundial foi a contratação de Roque Júnior para analisar adversários.
Milhas aéreas
Os carimbos no passaporte de Tite e seus auxiliares, porém, confirmam que essa comissão conseguiu mais do que outras, com um treinador que não mede esforços para realizar convocações com a menor margem de erro possível, principalmente nos aspectos físico e tático. A equipe de auxiliares e analistas percorreu a Europa e foi até a China para observar jogadores, em demonstração de que a CBF não poupou dinheiro para satisfazer o treinador.
Só entre o começo de abril e o início de maio, período crucial para a convocação final da Copa do Mundo, mais de 20 partidas foram vistas in loco. Tite, por exemplo, teve a companhia do coordenador Edu Gaspar nas semifinais da Liga dos Campeões.
Outra prova dessa liberdade para observação foi dada no espaço aéreo britânico. A confederação disponibilizou um helicóptero para o técnico sair do CT do Tottenham, em Londres, e assistir em, Leeds, ao amistoso entre Inglaterra e Costa Rica, adversária do Brasil na primeira fase do Mundial, na semana retrasada.
Os jogadores convocados para a Copa também desfrutaram da comodidade. Para aqueles que atuam na Europa, em algumas convocações, a CBF disponibilizou aviões fretados para viagens menos desgastantes, um novo procedimento. Além disso, para se deslocar do Rio até Teresópolis, onde fica a Granja Comary, helicópteros foram alugados. Em 2014, para efeito de comparação, os atletas que disputaram o Mundial de 2014 repetiram o trajeto de ônibus seguidas vezes.
Agrados para as famílias e um Centro de Excelência
Outro conforto que os jogadores de Felipão não tiveram e os atuais puderam contar é a ajuda da CBF para montar a logística dos familiares que irão assistir aos jogos na Rússia. A entidade não vai cobrir as despesas, mas o coordenador de seleções, Edu Gaspar, cuidou da operação relacionada aos parentes. Até o fretamento de um avião foi viabilizado, cuja conta será paga pelos jogadores.
Na Copa no Brasil, parentes e amigos de atletas reclamaram de falta de apoio da CBF para realizarem suas viagens pelo país. A confederação sempre entendeu que não podia se envolver com os parentes para evitar o risco de ser responsabilizada em caso de acidentes ou outros problemas.
Mais um exemplo de toda a carta branca da confederação à comissão técnica de Tite foi a criação do centro de excelência na Granja Comary, uma obra que consumiu cerca de R$ 17 milhões em aquisição de materiais ultramodernos de academia e reforma do alojamento em Teresópolis.
“O Fábio [Mahseredjian, preparador físico] tinha uma ideia, nós pensamos, sonhamos alto, orçamos os melhores equipamentos e levamos ao Rogério [Caboclo]. Levamos sem nem saber o que seria possível, era difícil. E logo recebemos o ok. Ele nem questionou. Entendeu que era importante para a seleção. Ainda voltei na semana seguinte. Ele me falou ‘já autorizei, o que foi?’ [risos]. Eu fiquei sem acreditar. Mas é assim. Temos todo o suporte e faremos o possível para ter a melhor preparação para a Copa”, contou o coordenador de seleções, Edu Gaspar.
Com toda essa estrutura é natural que Tite e seu turbinado estafe sejam ainda mais cobrados na confederação para conquistar o hexa.
FICHA TÉCNICA
BRASIL X SUÍÇA
Data: 17 de junho, domingo
Local: Arena Rostov, em Rostov-on-Don (Rússia)
Horário: 15h (de Brasília)
Árbitro: Cesar Ramos (México)
Assistentes: Marvin Torrentera e Miguel Hernandez (ambos do México)
BRASIL: Alisson; Danilo, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro; Willian, Paulinho, Coutinho e Neymar; Gabriel Jesus
Técnico: Tite
SUÍÇA: Sommer; Lichtsteiner, Schar, Akanji, Rodriguez; Xhaka, Behrami; Shaqiri, Dzemaili, Zuber; Seferovic
Técnico: Vladimir Petkovic
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