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Estreia põe à prova "cheque em branco" da CBF para Tite em caos político

Tite gesticula durante treino da seleção brasileira: ele teve tudo o que pediu - Pedro Martins / MoWA Press
Tite gesticula durante treino da seleção brasileira: ele teve tudo o que pediu
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Sochi e Rostov-on-Don (Rússia)

17/06/2018 04h00

Em junho de 2016, Tite teve uma conversa objetiva com Marco Polo Del Nero. Disse ao dirigente que só aceitaria assumir o comando da seleção brasileira se tivesse autonomia nas decisões relativas à equipe. Dois anos depois, ele estreia com o Brasil na Copa do Mundo, contra a Suíça, neste domingo, às 15h, em Rostov-on-Do, e ninguém poderá dizer que a entidade não cumpriu a promessa. Auxiliada pela fragilidade política de Del Nero, a comissão técnica ganhou um "cheque em branco" na busca pelo hexa.

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O então presidente da CBF estava acuado por denúncias de corrupção em processo aberto pela Justiça americana enquanto a seleção cambaleava nas Eliminatórias. Contratar o técnico mais popular do Brasil era uma forma de o cartola conseguir respirar um pouco e diminuir as críticas contra ele. Principalmente depois que o então comandante do Corinthians, por duas ocasiões, já havia recusado sondagens da entidade em respeito a Dunga, que ocupava o cargo. 

Neste cenário, Del Nero não tinha poder de barganha com Tite. Era aceitar as exigências ou procurar outro técnico que provavelmente não seria um escudo tão eficiente. O dirigente, hoje banido do futebol pela Fifa, se curvou diante das solicitações do técnico - ele nega as acusações e recorre contra a punição.

Para começo de conversa, Tite escolheu seu chefe, Edu Gaspar. Depois, ampliou a comissão técnica da seleção de maneira nunca vista. Ele conseguiu dois preparadores físicos, três auxiliares, sendo que um deles é seu filho, Matheus Bachi, quatro analistas de desempenho (dois deles são exclusivos da seleção) e quatro fisioterapeutas. A CBF contratou, por exemplo, o preparador Fábio Mahseredjian em tempo integral, algo incomum na história da seleção. 

Em termos comparativos, Luiz Felipe Scolari, quando montou sua comissão para disputar a Copa de 2014, contava com um assistente, dois preparadores físicos, dois fisioterapeutas, um analista de desempenho e dois observadores. A comissão mais enxuta, porém, foi opção do próprio treinador, cujo principal pedido no último Mundial foi a contratação de Roque Júnior para analisar adversários. 

Milhas aéreas 

Neymar, Douglas Costa e Thiago Silva desembarcam na Granja Comary para a Copa do Mundo - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Neymar, Douglas Costa e Thiago Silva desembarcam na Granja Comary para a Copa do Mundo
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Os carimbos no passaporte de Tite e seus auxiliares, porém, confirmam que essa comissão conseguiu mais do que outras, com um treinador que não mede esforços para realizar convocações com a menor margem de erro possível, principalmente nos aspectos físico e tático. A equipe de auxiliares e analistas percorreu a Europa e foi até a China para observar jogadores, em demonstração de que a CBF não poupou dinheiro para satisfazer o treinador.

Só entre o começo de abril e o início de maio, período crucial para a convocação final da Copa do Mundo, mais de 20 partidas foram vistas in loco. Tite, por exemplo, teve a companhia do coordenador Edu Gaspar nas semifinais da Liga dos Campeões.  

Outra prova dessa liberdade para observação foi dada no espaço aéreo britânico. A confederação disponibilizou um helicóptero para o técnico sair do CT do Tottenham, em Londres, e assistir em, Leeds, ao amistoso entre Inglaterra e Costa Rica, adversária do Brasil na primeira fase do Mundial, na semana retrasada. 

Os jogadores convocados para a Copa também desfrutaram da comodidade. Para aqueles que atuam na Europa, em algumas convocações, a CBF disponibilizou aviões fretados para viagens menos desgastantes, um novo procedimento. Além disso, para se deslocar do Rio até Teresópolis, onde fica a Granja Comary, helicópteros foram alugados. Em 2014, para efeito de comparação, os atletas que disputaram o Mundial de 2014 repetiram o trajeto de ônibus seguidas vezes.

Agrados para as famílias e um Centro de Excelência

Centro de Excelência foi utilizado na primeira semana de preparação - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Centro de Excelência foi utilizado na primeira semana de preparação
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Outro conforto que os jogadores de Felipão não tiveram e os atuais puderam contar é a ajuda da CBF para montar a logística dos familiares que irão assistir aos jogos na Rússia. A entidade não vai cobrir as despesas, mas o coordenador de seleções, Edu Gaspar, cuidou da operação relacionada aos parentes. Até o fretamento de um avião foi viabilizado, cuja conta será paga pelos jogadores.

Na Copa no Brasil, parentes e amigos de atletas reclamaram de falta de apoio da CBF para realizarem suas viagens pelo país. A confederação sempre entendeu que não podia se envolver com os parentes para evitar o risco de ser responsabilizada em caso de acidentes ou outros problemas.

Mais um exemplo de toda a carta branca da confederação à comissão técnica de Tite foi a criação do centro de excelência na Granja Comary, uma obra que consumiu cerca de R$ 17 milhões em aquisição de materiais ultramodernos de academia e reforma do alojamento em Teresópolis.

“O Fábio [Mahseredjian, preparador físico] tinha uma ideia, nós pensamos, sonhamos alto, orçamos os melhores equipamentos e levamos ao Rogério [Caboclo]. Levamos sem nem saber o que seria possível, era difícil. E logo recebemos o ok. Ele nem questionou. Entendeu que era importante para a seleção. Ainda voltei na semana seguinte. Ele me falou ‘já autorizei, o que foi?’ [risos]. Eu fiquei sem acreditar. Mas é assim. Temos todo o suporte e faremos o possível para ter a melhor preparação para a Copa”, contou o coordenador de seleções, Edu Gaspar.

Com toda essa estrutura é natural que Tite e seu turbinado estafe sejam ainda mais cobrados na confederação para conquistar o hexa.

FICHA TÉCNICA
BRASIL X SUÍÇA

Data:
 17 de junho, domingo
Local: Arena Rostov, em Rostov-on-Don (Rússia)
Horário: 15h (de Brasília)
Árbitro: Cesar Ramos (México)
Assistentes: Marvin Torrentera e Miguel Hernandez (ambos do México)

BRASIL: Alisson; Danilo, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro; Willian, Paulinho, Coutinho e Neymar; Gabriel Jesus
Técnico: Tite

SUÍÇA: Sommer; Lichtsteiner, Schar, Akanji, Rodriguez; Xhaka, Behrami; Shaqiri, Dzemaili, Zuber; Seferovic
Técnico: Vladimir Petkovic