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Copa 2018

Mesmo sem ver jogo, torcida fecha rua e faz "carnaval" na Vila Madalena

Torcida do Brasil na Vila Madalena em São Paulo - Adriano Wilkson/UOL
Torcida do Brasil na Vila Madalena em São Paulo Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

17/06/2018 19h13

Os donos dos bares colocaram bandeiras e adereços para impedir que quem estivesse na rua pudesse ver o jogo nos telões internos. Alguns cobraram ingresso e instalaram grades para separar o público de dentro de quem passava na calçada. Na quadra mais movimentada, o estacionamento foi proibido para evitar vendedores ambulantes. Moradores queriam que o bairro vivesse um domingo comum na estreia do Brasil na Copa.

Mesmo assim, milhares de torcedores foram à Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, fecharam ruas, soltaram fogos de artifício e fizeram um carnaval fora de época na região que foi palco do encontro das torcidas na Copa de 2014.

Torcida - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Ambulantes vendiam cerveja e churrasquinho na calçada ou no meio das ruas fechadas para carros.

Diferentemente do que aconteceu há quatro anos, não houve exibição pública da estreia do Brasil, que empatou com a Suíça (1 a 1) neste domingo. Mas isso não impediu que milhares de torcedores (em estimativa da reportagem – a PM não divulgou dado oficial) aparecessem com fantasias, adereços, cânticos e fizessem festa nas ruas do bairro.

Madalena - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

“Ver o jogo ou não é o de menos”, disse o designer e arquiteto Marcos Paulo Chagas, que vestia uma fantasia insólita: um roupão todo vermelho colado ao corpo, com esparadrapos em formato de cruz nas costas para simular uma bandeira da Suíça. Ao ser abordado, fingia não falar português. “O povo acha que eu sou gringo”, se divertia ele. Um amigo vestido da mesma forma, mas nas cores brasileiras, atuava como tradutor.

Além de gringos fake, marcaram presença também estrangeiros de verdade, já que a região é conhecida por reunir hostels descolados e estabelecimentos ao gosto do público internacional. Mexicanos, alemães e ingleses cantaram junto com os brasileiros.

Alemães - Adriano Wilkson - Adriano Wilkson
Imagem: Adriano Wilkson

“Acho que os brasileiros são um pouco mais loucos que os alemães quando se fala de futebol”, disse o alemão Ulrich Garvert, que vive em São Paulo há dois anos.

Torcida organizada da seleção provoca argentinos

Até uma torcida organizada da seleção brasileira esteve no cruzamento da Fradique Coutinho com a Azpicuelta, o epicentro da festa. A torcida “Núcleo BR”, formada por torcedores organizados de clubes brasileiros, acendeu sinalizadores, tocou bumbos e tambores, e ergueu um bandeirão para apoiar o time de Tite.

Seu cântico com maior adesão dizia, ao som de “Seven Nation Army”, da banda “The White Stripes”:

Nós queremos respeito
Cinco estrelas no peito
Eu não sou argentino
Eu sou brasileiro

“Na nossa torcida tem gente de todos os clubes, mas nos unimos sem rivalidade em prol de torcer pro Brasil, em qualquer esporte”, disse Carlos Madeira, presidente e fundador da organizada. Segundo ele, a agremiação reúne cerca de 400 membros em todo o país. “Os bares bloquearam a visão do jogo, e isso afasta muita gente, mas para nós o que importa é fazer essa festa”, afirmou.

Festa - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Sem poder ver o jogo, muitos torcedores só souberam das mudanças no placar por uma espécie de “rádio peão”, que circulava informações de dentro dos bares para a rua. “Gol dos caras”, anunciou um organizado do “Núcleo BR” ao resto da torcida quando a Suíça empatou a partida em Rostov.

Alguns torcedores se esforçavam para encontrar uma fresta entre as cortinas dos bares para ver a partida. Outros não se davam ao trabalho.

Cortinas - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Torcedores tentam ver jogo entre cortinas instaladas pelos bares do bairro
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

A associação de moradores da Vila Madalena (Savima) estava por trás das medidas que visavam deixar o trânsito livre nas ruas do bairro. O presidente Cássio Calazans, porém, não esperava que, mesmo sem a possibilidade de ver o jogo da rua, tantas pessoas ficassem no bairro durante o jogo. “Infelizmente não se pode fazer nada para conter a multidão”, disse ele, que calculou em três mil o número de torcedores que permaneciam na Vila Madalena duas horas após o fim da partida.

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