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Técnico da Colômbia teve oposição de Osorio e já ignorou Messi em Copa

José Pekerman, técnico da Colômbia - Julian Finney/Getty Images
José Pekerman, técnico da Colômbia
Imagem: Julian Finney/Getty Images

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/06/2018 21h00

José Pekerman tem 68 anos e vai para a terceira Copa do Mundo de uma carreira moldada para dirigir seleções. É nessa experiência e em sua capacidade de controlar os jogadores sem qualquer rastro autoritário que a Colômbia, pela segunda vez consecutiva, ignora as reclamações nacionalistas e sonha alto no Mundial.

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Os colombianos estreiam nesta terça-feira, às 9h, diante do Japão. A partida marca a abertura do Grupo H e a renovação das esperanças de um time que foi sensação em 2014. Com futebol alegre e James Rodríguez como artilheiro da Copa com seis gols, a seleção dirigida por Pekerman só parou nas quartas de final, em jogo equilibrado contra o Brasil.

José Pekerman, técnico da Colômbia, antes de amistoso - Gabriel Aponte/Getty Images - Gabriel Aponte/Getty Images
Boa relação com os jogadores é um dos trunfos de José Pekerman como treinador
Imagem: Gabriel Aponte/Getty Images

Embora esse embate com os brasileiros, que incluiu a forte entrada de Camilo Zuñiga que tirou Neymar do restante do Mundial, tenha dado a impressão de uma Colômbia de jogo físico e violento, a imagem criada por Pekerman para sua seleção é justamente a oposta. O país sofria com largo histórico de indisciplina dentro e fora de campo, mas o treinador conseguiu mudar tudo, como já havia feito nas categorias de base da Argentina na década de 1990.

A Colômbia voltou a praticar um futebol mais vistoso, como era visto nos tempos de Valderrama e companhia, mas apagou as marcas de ingenuidade de quem atacava sem pudor. Aprendeu a marcar, mas sem deixar marcas de maldade, fruto de instantes de fúria de seus jogadores. Não à toa, foi o time de Pekerman o escolhido pela Fifa para receber o prêmio Fair Play na Copa de 2014.

Nem bilardista, nem menotista

Na Argentina, técnicos não conseguem fugir de uma pergunta: você é bilardista ou menotista? As expressões são referências a Carlos Bilardo, campeão do mundo em 1986, e Cesar Luis Menotti, campeão do mundial de 1978. O primeiro formou um time voluntarioso que girava em torno de Diego Maradona e não tinha, digamos, escrúpulos. Se necessário, apelava para a violência para chegar aos objetivos traçados.

Já a equipe de Menotti pregava mais por um futebol bonito, de toque de bola e atletas elegantes, como Mario Kempes. Pekerman é visto na Argentina como um dos poucos técnicos que conseguiu encontrar o ponto de equilíbrio entre essas duas escolas. Tem apreço à defesa, mas prega pela lealdade e não deixa de tentar jogar de forma mais plástica.

Pekerman mostrou cordialidade com Tite no amistoso em homenagem à Chapecoense - Buda Mendes/Getty Images - Buda Mendes/Getty Images
Pekerman mostrou cordialidade com Tite no amistoso em homenagem à Chapecoense
Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Padrinho de Riquelme e gerações de ouro

Pekerman se tornou técnico em 1994, quando aceitou proposta para reformular as seleções de base da Argentina. Os times sub-17 e sub-20 estavam sob seu controle, logo após uma suspensão da Fifa causada por recorrentes casos de agressões e anti-jogo. O bilardismo havia sido extrapolado e contaminava a formação dos jovens. Então com 44 anos, Pekerman tinha carta branca para mudar tudo. Criou novas regras disciplinares, se mostrava durão, mas tomava cuidado para não implantar uma gestão autoritária.

Pekerman e o volante Cambiasso levantam o troféu do Sul-Americano Sub-20 de 1999 - Enrique Marcarian REUTERS - Enrique Marcarian REUTERS
Pekerman e o volante Cambiasso levantam o troféu do Sul-Americano Sub-20 de 1999
Imagem: Enrique Marcarian REUTERS

Ele queria que seus garotos entendessem as vantagens de um jogo limpo. Uma forma de atingir isso foi sempre valorizar os jogadores mais técnicos. Assim, ajudou a formar nomes como Juan Pablo Sorín, Estebán Cambiasso, Andrés D'Alessandro, Pablo Aimar, Javier Saviola e, principalmente, Juan Román Riquelme. O lendário meia do Boca Juniors teve a carreira marcada por problemas com treinadores e confusões geradas por seu temperamento forte. Pekerman foi quem mais o entendeu e o que mais confiou que o camisa 10 poderia ser útil à seleção. Seus pupilos levaram o Mundial Sub-20 de 1995 e 1997 e alguns foram base das conquistas olímpicas da Argentina em 2004 e 2008.

Ignorar Messi em 2006 virou pecado capital

Foi justamente após a medalha de ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, que Pekerman foi chamado para nova emergência. Marcelo Bielsa, El Loco, decidira abandonar a seleção principal. O sucesso na base sustentou a escolha da Associação de Futebol Argentino (AFA) e Pekerman fez trabalho elogiado, até chegar como um dos favoritos ao título da Copa do Mundo de 2006. Era a chance de encerrar o jejum de títulos dos argentinos, que já dura desde a Copa América de 1993.

Pekerman é considerado um dos mentores da carreira do ídolo Riquelme  - REUTERS/Enrique Marcarian - REUTERS/Enrique Marcarian
Pekerman é considerado um dos mentores da carreira de Riquelme
Imagem: REUTERS/Enrique Marcarian

Na primeira fase, os comandados de Pekerman empolgaram a torcida. A vitória por 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro foi o ápice daquele time, extremamente técnico e organizado. Além de titulares consolidados e badalados, o técnico tinha reservas de alto nível, como Carlos Tévez e, simplesmente, Lionel Messi. Um banco de luxo que ajudava a decidir jogos, mas que foi ignorado no momento mais crucial. Em vantagem no placar contra a anfitriã Alemanha nas quartas de final, o treinador trocou Riquelme por Cambiasso, recuando mais ainda a equipe, e Hernán Crespo por Julio Cruz, deixando o ataque ainda mais lento e sem técnica.

Um pecado que abalou Pekerman, irritou jornalistas e torcedores e encerrou a passagem do técnico, mesmo que contrariando a opinião do elenco.

Hoje no México, Osorio já condenou Pekerman na Colômbia

A federação colombiana se baseou nesse histórico de Pekerman na hora de organizar a bagunça de casa e traçar um planejamento a longo prazo. Mas não havia argumento que evitasse reclamações de outros técnicos do país, incomodados com a presença de um estrangeiro à frente da seleção. Até Juan Carlos Osorio, que hoje dirige o México, chegou a fazer cara feia para Pekerman, sempre ressaltando que a Colômbia devia valorizar mais os bons treinadores que possuía. O nacionalismo exacerbado foi diminuindo conforme os resultados melhoravam.

Sede única para a seleção virou trunfo

Uma das medidas de Pekerman para mudar a Colômbia de patamar foi aproximar a seleção dos torcedores. Como uma ordem sua, a federação definiu Barranquilla como sede única para os jogos de Eliminatórias. O clima quente e uma torcida mais vibrante e otimista do que as de outras regiões eram vistos como trunfos. É uma visão semelhante a que se tinha sobre o Brasil jogar mais vezes no Nordeste, evitando estádios mais ao Sul, onde a seleção sempre encontrou mais resistência.

James Rodríguez é consolado por Pekerman após eliminação na Copa de 2014 - Alex Livesey - FIFA/FIFA via Getty Images - Alex Livesey - FIFA/FIFA via Getty Images
James Rodríguez é consolado por Pekerman após eliminação na Copa de 2014
Imagem: Alex Livesey - FIFA/FIFA via Getty Images

James é o novo Riquelme

Camisa 10, de habilidade, mas acusado de muitas vezes desaparecer em campo ou de ser indolente. A descrição servia para Riquelme e foi encontrada por Pekerman em James Rodríguez. O meia canhoto fez excelentes temporadas por Porto e Monaco até explodir de vez na Copa de 2014, quando foi artilheiro. Nos últimos quatro anos, entretanto, esteve aquém das expectativas. A camisa do Real Madrid pesou e um empréstimo ao Bayern de Munique surgiu como solução. O técnico Carlo Ancelotti pediu sua contratação, só que foi demitido meses depois. Poderia ser um sinal de mais uma temporada de baixa, mas James reagiu. E a presença de Pekerman, sempre pronto para apoiá-lo em mensagens e ligações, fez toda diferença.

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