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Copa 2018

Buzinaço, caras pintadas e ruas tomadas. Russos vão do pessimismo a euforia

Felipe Pereira

Do UOL, em São Petrsburgo (Rússia)

19/06/2018 20h59

Em seis dias o patinho feio virou cisne. Candidata a cair na primeira rodada, a Rússia está com um pé nas oitavas de final. Considerados pessoas frias e indiferentes a Copa, os russos tomaram as ruas de São Petersburgo para festejar madrugada a dentro o desempenho de sua equipe.

A comemoração começou no estádio depois da vitória de 3 a 1 sobre o Egito. Ainda nas escadas e corredores da arena os torcedores cantavam, faziam danças folclóricas e tiravam muita foto. A euforia ganhou o metrô e desaguou nas ruas da cidade.

Era uma da madrugada e um homem empunhava uma bandeira do país na faixa que divide as pistas da principal avenida da cidade. Os carros passavam fazendo buzinaço. As calçadas eram território de pedestres que gritavam RÚ-SSI-AA. A surpresa de uma boa campanha virava alegria materializada nas ruas.

Como ocorre em eventos desta magnitude, a coisa se desenrolou de forma espontânea e foi impulsionada pelas redes sociais. Nikita Kasyanov, 28 anos, tinha uma bandeira da Rússia fixada em cada extremidade de sua cadeira de rodas.

“Vi o jogo em casa e logo que acabou um amigo postou um vídeo no Instagram da festa na rua. Quis vir para rua participar assim como meu pai e meu irmão.”

O trio acredita que é possível avançar até as quartas de final mesmo considerando a seleção deles inferior aos concorrentes. “Nossos jogadores estão jogando o que não esperávamos. Agora podemos fazer um ferrolho contra Espanha ou Portugal e atingir a próxima fase. Seria muito mais que sonhávamos antes da Copa”.

Buzinaço - Maxim Shemetov/Reuters - Maxim Shemetov/Reuters
Imagem: Maxim Shemetov/Reuters
Festa em outras cidades

A baixa expectativa se explica porque a Rússia estava a sete partidas sem vencer antes do jogo de estreia no Mundial, quando bateram a Arábia Saudita por 5 a 0. Também é a seleção pior posicionada no ranking da Fifa – 70º lugar – entre todos os participantes do Mundial.

Mas Andreev Gladishev, 19 anos, presta atenção em outros números: duas vitórias, oito gols marcados e um sofrido. Ele sabe que tudo pode acabar, mas não é hora de se preocupar com isto. “Nós estamos tão felizes e surpresos que estamos vivendo o hoje. Nesta noite não estamos preocupados com o futuro, queremos comemorar. E, se perdermos nas oitavas, está bom. Não ficaremos arrasados”.

Karina Okateva, 24 anos, disse que saiu de casa porque sabe que vai ser a única vez que terá tantos motivos para comemorar pela seleção russa. Ela fala que não lembra de tantas pessoas e tanta festa na Avenida principal de São Petersburgo. “Quando o Zenit ganhou a Copa da UEFA(2007/08) foi quase isso. Mas nem naquela vez foi assim”.

E não foi apenas em São Petersburgo, local do contra o Egito. Moscou teve buzinaço e em Sochi ele foi acompanhado de pessoas com bandeiras nas ruas e caras pintadas.

Jogadores freiam a euforia

Lateral-direito da seleção russa, o brasileiro naturalizado Mário Fernandes não se mostrou surpreso com a equipe estar quase classificada para as oitavas. Analisando a campanha na zona mista, depois da partida, disse que o grupo acreditava em um bom desempenho.  “Muita gente não acreditava, mas a gente sabia que podia. Estamos de parabéns, fizemos dois grandes jogos e vamos continuar batalhando”.

Artilheiro da Copa com três gols junto com Cristiano Ronaldo, Cheryshev tratou de colocar os pés no chão. Ele falou que está feliz com a classificação quase encaminhada, mas evita projetar chegar as duas últimas rodadas. O meia atacante afirmou que ir até as quartas de final já seria incrível. Se ele cumprir a palavra, muito russo vai passar a noite gritando e buzinando nas ruas.

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