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Copa 2018

Tensão com a Rússia faz europeus jogarem a Copa "fora de casa"

Mesmo diantes da Rússia, tunisianos se fizeram presentes contra os ingleses - Gleb Garanich/Reuters
Mesmo diantes da Rússia, tunisianos se fizeram presentes contra os ingleses Imagem: Gleb Garanich/Reuters

Julio Gomes

Do UOL, em Volgogrado (Rússia)

19/06/2018 04h00

Parece um cenário inimaginável. Mas, em um jogo de Copa do Mundo na Europa, a Inglaterra tinha menos torcida do que a Tunísia.

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Talvez pela crise diplomática envolvendo a Rússia e a Europa Ocidental nesta década (o que gera, por exemplo, a necessidade de visto para cidadãos europeus entrarem no país), o fato é que as seleções mais fortes do velho continente estão enfrentando uma situação inédita.

Nunca na história das Copas jogadas na Europa os europeus estiveram em minoria nas arquibancadas. “Isso é resultado de propaganda. De uma publicidade negativa levada a cabo pela mídia desde que a Inglaterra perdeu para a Rússia o direito de sediar a Copa”, comentou Howard Askew, 59.

A reportagem do UOL Esporte conheceu Askew no trem, indo de uma cidade interiorana chamada Saratov para Volgogrado. Ele estava com a camisa vermelha da Inglaterra, a mesma usada pela seleção no jogo contra a Tunísia, em um vagão de terceira classe, cercado de russos – e interagindo com eles.

“Meus amigos acham que sou louco por estar aqui, foi isso que conseguiram lá na Inglaterra. As pessoas acham que isso aqui é perigoso, que eles serão roubados, que vão apanhar nas ruas, que não será divertido”, continua. Askew é casado com uma russa, mas não obteve sucesso ao tentar convencer alguns amigos a virem.

Em jogos da Inglaterra de Copa do Mundo e Eurocopa, geralmente toda a grade que separa anéis inferiores do superior nos estádios é tomada por bandeiras da Inglaterra. É tradição. Nesta segunda, somente o fundo de um dos gols tinha bandeiras inglesas.

Volgogrado, antes Stalingrado, foi o local da batalha mais sangrenta e decisiva da Segunda Guerra Mundial, quando o Exército Vermelho soviético finalmente impôs a primeira derrota significativa a Hitler. A polícia russa esperava outra Batalha de Stalingrado, com as promessas mútuas de hooligans ingleses e russos.

Não houve nada nem parecido. Com segurança ainda mais reforçada do que o que já se vê na Rússia por causa da Copa, os hooligans ingleses não apareceram, os russos tampouco, e o dia transcorreu com tranquilidade.

Em vez da tradicional imagem de beberrões causando confusão em bares, era mais comum ver ingleses passeando pela cidade e conhecendo, por exemplo, o monumento que homenageia os milhões de mortos na Guerra – uma imponente estátua de 85 metros de altura, que se pode ver de qualquer lugar da cidade, batizada “A Mãe-Pátria Chamando”.

“Foi uma batalha importante para todos nós. Realmente, hoje as relações estão estranhas com a Rússia. Mas está tudo bem por aqui, não sei por que tanta gente deixou de vir”, contou Martin Epgreen, estudante.

Torcida do México - AP Photo/Eduardo Verdugo - AP Photo/Eduardo Verdugo
Diante de alemão, torcida mexicana fez barulho
Imagem: AP Photo/Eduardo Verdugo

Alemães também eram minoria no jogo contra o México. Franceses, suecos, enfim, os europeus ocidentais parecem estar simplesmente ignorando a Copa – a exceção fica para a Sérvia, um país “amigo” da Rússia e com idioma parecido. Domingo, em Samara, os sérvios eram maioria nas arquibancadas no jogo contra a Costa Rica. E ainda tiveram nítido apoio dos russos, o que não aconteceu em Volgogrado.

No jogo de Saransk, sábado, havia pouco mais de mil dinamarqueses contra uma maré de mais de 30 mil peruanos.

“Está claro que as pessoas não quiseram vir para a Rússia. Há um boicote. Um estresse por algumas atitudes de Putin. E só vieram para a Copa pessoas com realmente muito amor pelo futebol. Era necessário visto, então para quem não tinha ingresso não era trivial vir. As pessoas preferiram simplesmente gastar o dinheiro em algum outro tipo de viagem, como ir para a praia”, contou um jornalista dinamarquês que não quis se identificar.

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