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Kosovo não está na Copa, mas pode ser "faísca" no duelo Suíça x Sérvia

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Julio Gomes

Do UOL, em Kaliningrado (Rússia)

21/06/2018 21h00

Como pode ser considerado um dérbi um jogo que nunca ocorreu? Por incrível que pareça, será o caso do duelo desta sexta-feira (22), às 15h (de Brasília), entre Sérvia e Suíça, pelo Grupo E da Copa do Mundo – o mesmo do Brasil na Copa do Mundo.

Isso se dá por uma característica que marca a seleção suíça nos últimos anos. Um país que recebe imigrantes e refugiados e viu sua seleção se transformar em uma equipe multiétnica. Três titulares, Xhaka, Behrami e Shaquri, têm origem no Kosovo.

As famílias destes atletas se refugiaram na Suíça justamente para escapar da guerra que atingiu a ex-Iugoslávia nos anos 1990. O Kosovo declarou sua independência da Sérvia de forma unilateral em 2008. É reconhecido por mais de 100 países, mas não pela Sérvia, logicamente, e tampouco por Rússia, China e Brasil.

Shaqiri usou na estreia, no empate contra o Brasil, um par de chuteiras com a bandeira da Suíça no pé esquerdo e a de Kosovo no pé direito. Ele já havia anunciado que faria isso no Mundial em sua conta no Instagram, o que foi considerado uma provocação pelos sérvios e gerou debates acalorados nas redes sociais.

Durante a semana, os jogadores de origem kosovar não quiseram participar de qualquer contato com a imprensa na base suíça, na cidade de Togliatti, a 1000 km de Moscou. O UOL Esporte apurou que Xhaka, jogador do Arsenal, está "irritado" com a conotação política que o jogo vem ganhando.

Um jornal sérvio, por exemplo, publicou que a Fifa irá proibir a entrada de bandeiras do Kosovo e até da Albânia no estádio de Kaliningrado – a maioria da população kosovar tem origem albanesa.

A reportagem indagou a Fifa sobre a veracidade da informação e também se a bandeira de Kosovo no calcanhar de Shaqiri não seria um ato de manifestação política, o que é proibido pela entidade máxima do futebol, mas não obteve resposta até momento da publicação.

"Nós não estamos interessados em política. Nós somos a Suíça. Nós somos um time guerreiro, estão todos orgulhosos de vestir a camisa suíça, inclusive os companheiros com origem estrangeira. Estamos 100% focados na Suíça", disse o zagueiro Fabian Schar, quando questionado sobre o tema.

Dois meses atrás, o técnico da Sérvia, Mladen Krstajic, também deu declarações tentando diminuir a fervura que marca a região dos Balcãs. "Meu pai é montenegrino, minha mãe é sérvia, eu nasci na bósnia, sou uma pessoa internacional. As nacionalidades não são relevantes para mim. A Suíça é um ótimo time – e multicultural também".

Em artigo publicado na semana passada em um jornal sérvio, o atacante Mitrovic disse que não entende a bandeira na chuteira de Shaqiri como uma provocação e que considera o suíço "um grande cara fora do campo". No entanto, questionou: "se eles amam tanto o Kosovo, por que defendem as cores de outro país?".

Suíça e Sérvia nunca se enfrentaram oficialmente em um jogo. Isso sim, correu, ainda na época da existência da Iugoslávia. O último jogo foi disputado em 2001, quando a Suíça ainda não tinha um time multiétnico e apenas dois anos após a retirada das tropas iugoslavas/sérvias do Kosovo para a chegada de uma força internacional da ONU na região.

Antecedentes: drone paralisou jogo Sérvia x Albânia

Em outubro de 2014, um drone sobrevoou o campo que abrigava a partida entre Sérvia e Albânia, em Belgrado, válida pelas eliminatórias da Eurocopa. O artefato carregava uma bandeira albanesa e foi obstruído por um jogador sérvio.

Após o gesto, jogadores albaneses começaram uma briga generalizada com os donos da casa, em desdobramento que acabou com invasão da torcida, bombas e conflito com policiais. A tensão entre os países se deve à questão da independência do Kosovo, região de maioria albanesa, na década de 90.

Na oportunidade, a Uefa puniu as federações dos dois países pelo incidente dentro de campo. 

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