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Copa 2018

Sim, Pelé já foi apresentado como promessa em álbum de Copa do Mundo

Álbum da Copa do Mundo de 1958: Pelé é a promessa que estreou no Santos aos 15 anos e Zagalo (sem o segundo L), o ídolo do Flamengo - Daniel Lisboa/UOL
Álbum da Copa do Mundo de 1958: Pelé é a promessa que estreou no Santos aos 15 anos e Zagalo (sem o segundo L), o ídolo do Flamengo Imagem: Daniel Lisboa/UOL

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/06/2018 04h00

“Fatos ou coisas dignas de memória”; “fatos ou coisas que suscitam memórias, lembranças”; eis as definições de “memorabilia” que você encontrará em dicionários, e dificilmente alguém que gosta de futebol discordaria delas ontem (23) no Pacaembu, em São Paulo.

A primeira edição da “Feira Foot” reuniu 28 expositores no Museu do Futebol, espaço já consagrado que funciona no estádio paulistano. Eles trouxeram camisas, álbuns de figurinhas, revistas, ingressos, fotografias, tabelas e mais uma extensa variedade de artigos antigos, raros ou exóticos relacionados ao futebol.

Em tempo de Copa do Mundo, o evento foi também uma oportunidade para mergulhar na memória do torneio.

Quem parava diante da coleção de Ricardo Lopes não tinha como escapar da nostalgia. Álbuns de figurinhas são sua especialidade, e ele trouxe verdadeiras preciosidades. Tem pelo menos um álbum de cada uma das Copas desde 1930.

Lopes mostra o álbum “Ases do Futebol”, da Copa de 1950 no Brasil. Bem diferentes dos sofisticados cromos de hoje, as figurinhas são basicamente fotos 3X4 grosseiramente coladas nas páginas. Em um álbum de 1958, Pelé é apresentado, em uma figurinha que precisava ser recortada, como uma “promessa”.

“O pessoal começou a valorizar muito essa coisa de colecionismo depois que alguns programas de TV começaram a tratar do assunto”, diz Lopes. “Estive em um programa de TV semana passada e pedi para minha esposa tapar os ouvidos quando contei isso, mas já peguei cinco mil reais em um álbum.”

Feira 03 - Daniel Lisboa/UOL - Daniel Lisboa/UOL
Paulo Pires e sua réplica da Jules Rimet
Imagem: Daniel Lisboa/UOL
Quando o carioca Paulo Pires começa a falar sobre os itens que levou à exposição, é impossível não pensar em tudo o que a Copa já envolveu e significou ao longo da história. Lá está, por exemplo, um par de chuteiras igual ao usado por algumas seleções na Copa de 54. Caixinhas de fósforos com os rostos dos jogadores brasileiros campeões em 58. Ingressos dos jogos de despedida de Garrincha e Pelé da seleção. Uma das réplicas oficiais da taça Jules Rimet que a Fifa entregou aos campeões de 70.

“Só de ingressos devo ter uns 10 mil”, diz Pires. “A coleção inteira, então, deve chegar fácil a uns 20 mil itens”, calcula o vascaíno fanático. “Achei a réplica da Jules Rimet numa loja de quinquilharia no centro do Rio. Paguei 70 reais, e hoje venderia facilmente por cinco mil reais, caso quisesse.”

Dono de uma coleção de nada menos que 720 camisas, Adriano Lou é um especialista em seleções e times ingleses. Por seleções, porém, entenda não apenas estas que normalmente frequentam as Copas. O bancário diz que faltam uniformes de apenas dois países para completar seu armário: Iêmen e Somália.

“A camisa do Iêmen já está prometida. A da Somália eu já tentei de diversas vezes, é muito difícil”, diz Lou. Ele explica que, em muitos países, não se compra uma camisa da seleção simplesmente entrando em uma loja esportiva. É preciso pedir diretamente para a federação local ou o fornecedor de material esportivo. Mas, no caso da Somália, mesmo esse expediente não funciona ainda: a seleção do país sequer tem um fornecedor oficial de uniformes. Precisa encomendá-los toda vez que joga.

“Já com a federações, o que acontece é que não dá para pedir uma camisa só. Precisa ser um pedido grande, às vezes de 100 camisas, para toparem o envio”, diz o colecionador. Como ele tem muitos amigos colecionadores também, isso nem sempre é um problema porque eles podem dividir o “lote” entre eles.

O maior porém, explica Lou, são os impostos que o produto invariavelmente paga ao chegar ao país. “A Receita entende que é material esportivo. Já cheguei a pagar 300 reais em impostos.”

Além de conhecer os expositores, quem foi à “Feira Foot” teve também a oportunidade de acompanhar uma programação paralela variada. O evento promoveu três debates no auditório do Museu do Futebol. “Memória do futebol e? coisa de mulher!”, com Roberta Nina Cardoso, do Dibradoras, e Analu Tomé, integrante do Movimento Toda Poderosa Corinthiana; Racismo na Copa, com Moisés da Rocha, radialista e apresentador do programa O Samba Pede Passagem, e o jornalista Fabio Mendes, autor do livro recém-lançado Campeões da Raça – Os Heróis Negros da Copa de 1958; e “Publicações sobre futebol: como será? o futuro delas?”, coordenado por Fernando Martinho, editor da revista Corner.

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