Topo

Copa 2018

Repórter russa conta como se sentiu após brasileiro tentar beijá-la à força

A jornalista russa Barbara Gerneza é correspondente do portal iG - reprodução/iG
A jornalista russa Barbara Gerneza é correspondente do portal iG Imagem: reprodução/iG

Do UOL, em São Paulo

24/06/2018 21h54

Barbara Gerneza mostrou conhecimento da língua portuguesa em entrevista ao Fantástico neste domingo (24), na qual contou como se sentiu quando um brasileiro tentou beijá-la à força na Rússia.

Brasileiros precisam entender que assédio não é brincadeira
Demissão por justa causa ou detenção: o que a lei diz sobre assédio na Copa
Simule os classificados e o mata-mata do Mundial

“Foi isso que me deixou com vergonha, porque eu estava sozinha, estava com o celular, gravando e fazendo o meu trabalho. Eles me cercaram e queriam que eu beijasse um deles. Não é normal a situação”, afirmou a correspondente do portal iG.

O homem que tentou beijar a jornalista russa chama Fred Miranda. Na mesma matéria, sem saber do vídeo que mostrava seu ato, ele fez uma pergunta ao repórter do Fantástico: “Somos pais de família. Ninguém assediou ninguém, nós não tocamos ninguém. Por que ela não se mostra na imagem?”

Ao contrário do que ele insinua, a verdade é que Barbara chega a mostrar o rosto durante a gravação, e é justamente no momento em que Fred tenta beijá-la. “Todos eles são homens, um grupo grande. Pensam que podem fazer tudo”, lamentou a moça.

fred miranda - reprodução/iG - reprodução/iG
O torcedor brasileiro Fred Miranda tentou beijar a jornalista Barbara Gerneza à força
Imagem: reprodução/iG

De acordo com o portal iG, o nome completo do homem em questão é Alfredo Cardoso Daumal Miranda. Outro homem envolvido no vídeo se identifica apenas como Osvaldo e é o que se mostra mais irritado com a repercussão.

“Ser advogado do diabo é fácil. Somos todos homens, ninguém aqui é besta. Todo mundo veio para se divertir. Fizeram uma filmagem errada, não sei quem foi, só que nós vamos pra cima dessa mulher. Ela vai ter que explicar porque nos filmou”, afirmou ao Fantástico.

O repórter da TV Globo questiona se o homem acredita, então, que Barbara seja a culpada pela situação. “Não sei de quem é a culpa, vamos saber de quem é a culpa”, rebate Osvaldo, na defensiva.

Os entrevistados afirmam que a música cantada no vídeo de Barbara era uma provocação aos torcedores da Argentina, e não tinha as mulheres como alvo. “Era para os argentinos, não para uma mulher. Peço desculpa, foi um mal-entendido, uma infelicidade”, disse o engenheiro Rodrigo Santoro, um dos torcedores que aparecem no vídeo.

A reportagem exibida tratou de outros casos de assédio cometidos por brasileiros em solo russo. A repórter Júlia Guimarães, da própria Globo, voltou a dar entrevista sobre o torcedor que tentou beijá-la à força – ela já havia falado ao UOL Esporte neste domingo (24).

“Foi antes de uma entrada ao vivo. Dois minutos antes, chegou um torcedor... Não me lembro se era russo, egípcio ou uruguaio. A minha reação foi de me esquivar, fiquei muito, muito brava”, relatou Julia.

O primeiro caso a vir à tona também foi abordado pelo Fantástico. Dentre os homens brasileiros que fizeram uma mulher russa repetir as palavras “b... rosa”, apenas um concordou em enviar seu depoimento à emissora. Relembre os casos no vídeo abaixo.

“Sei que qualquer coisa que eu falar não vai minimizar a minha atitude. Mas eu reconheço o meu erro e assumo as consequências dos meus atos”, afirmou o advogado Diego Jatobá, o primeiro a ser identificado.

De acordo com a Globo, os outros quatro homens envolvidos no vídeo não responderam ao contato da equipe: Eduardo Nunes, Luciano Gil Mendes Coelho, Leonardo da Silva Junior, e Wallace Prado.

Responsável pela denúncia e por uma petição contra os atos machistas, a jurista russa Alyona Popova foi consultada: “O que mais me revoltou é que aquilo foi feito coletivamente. Esse grupo ficou rindo e pulando ao lado da garota, que nem sabe o que está acontecendo”.

Por outro lado, a socióloga brasileira Jacqueline Pitanguy disse acreditar que a repercussão destes casos é um bom sinal para a sociedade brasileira. “Essa indignação é um sinal de respeito à condição da mulher”, comentou.

“Quando você desconstrói uma mulher, a transforma em uma genitália e ri dela... Isso não é brincadeira. O que eles estão fazendo é um ato de violência, uma agressão”, completou a socióloga ao Fantástico.

Copa 2018