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O "palavrão" de Chicharito que virou lema dos mexicanos

Chicharito Hernández, durante o jogo México contra a Coreia do Sul na Copa do Mundo 2018 - Clive Mason/Getty Images
Chicharito Hernández, durante o jogo México contra a Coreia do Sul na Copa do Mundo 2018 Imagem: Clive Mason/Getty Images

Julio Gomes

Do UOL, em Ekaterimburgo (México)

26/06/2018 21h00

Por que não podemos fazer coisas “chingonas”?

A frase de Javier “Chicharito” Hernández em uma entrevista semanas antes da Copa, em tom desafiador, pegou seu interlocutor desprevenido. Ele riu. “Vamos falar sério, a Alemanha tem o grupo assegurado”. Chicharito insistiu. “Por que não? Por que não?”

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Desde então, a frase virou meme e lema. Como que se transformou em um convite para os mexicanos pensarem grande. “Cosas chingonas”. É o que eles querem na Rússia.

O México ganhou a primeira contra a Alemanha. A segunda, contra a Coreia. E agora só precisa de um empate contra a Suécia, nesta quarta (27), em Ekaterimburgo, para se classificar para as oitavas de final em primeiro lugar. É um das sensações da Copa da Rússia.

“Chingón” não chega a ser um palavrão no espanhol falado no México. Mas é uma palavra considerada “feia”, que não se usa, por exemplo, em meios de comunicação, jornais ou novelas - ainda que seja para lá de normal nas conversas de dia a dia entre as pessoas. Antes, se um jogador usasse o termo em uma entrevista, possivelmente teria de ser utilizado aquele famoso efeito sonoro para que a palavra não fosse ouvida.

“Desde aquela entrevista, meus chefes não falaram mais nada e agora em todos os lugares estamos ouvindo todo mundo falar abertamente”, contou um jornalista da ESPN mexicana - foi o canal que veiculou a famosa entrevista.

Nesta terça, véspera da partida contra a Suécia, Chicharito Hernández usou pelo menos cinco vezes a palavra. E, em algum momento, um jornalista a usou, de forma constrangida, até, para fazer uma pergunta ao técnico, Osorio.

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“Queremos fazer coisas chingonas”, repetia Chicharito.

O “quase palavrão” tem, na maioria das vezes, uma conotação positiva. Mas, dependendo do uso, como em nosso português coloquial, pode se transformar em algo para lá de negativo. Talvez a tradução literal que mais se aproxime do que queira falar Chicharito seja “fazer coisas do cacete”. Chegar longe, onde o México nunca chegou.

O atacante, que pode se transformar isoladamente no maior goleador mexicano em Copas do Mundo caso marque mais um gol, adotou um tom ora bem humorado ora desafiador durante a entrevista.

Quando questionado sobre a proximidade com o feito histórico, disse. “Eu posso conseguir o que for, outros jogadores virão depois de mim. Mas o importante é o país que representamos, o grupo, o time, as conquistas individuais serão consequência. Temos aqui um corpo técnico de classe mundial e ainda se critica. Estamos a ponto de fazer história e se critica. É parte do show. Prefiro ficar ao lado da maioria das pessoas, que está feliz, acreditando em nós, com a reação do estádio, com as pessoas que acreditam em coisas legais (chingonas)”.

Quando questionado sobre o que seria “chingón” para o México nesta Copa, o técnico Osorio não usou o termo uma vez sequer.

“O melhor para o futebol mexicano será competir com nossas virtudes, nosso tipo de jogo. Nos impor através do jogo, ganhar da Suécia e passar de fase”, respondeu.

Mas fica claro que, para jogadores, técnico e torcedores mexicanos, as oitavas de final não são o limite. A confiança transborda.

“O único questionado era eu, não a seleção. É uma grande seleção, temos jogadores muito importantes, talvez a melhor geração do futebol mexicano. Construímos um time que é capaz de competir nas duas partes, a coragem para jogar e a coragem de disputar cada bola. Com o grupo que temos, esperamos dar um passo a mais e mostrar ao mundo que o futebol mexicano pode chegar longe”.

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