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Copa 2018

Italianos se desinteressam pela Copa após fiasco, mas torcem pelo Brasil

Italianos choram após perder vaga na Copa da Rússia para a Suécia na repescagem - AFP PHOTO / Miguel MEDINA
Italianos choram após perder vaga na Copa da Rússia para a Suécia na repescagem Imagem: AFP PHOTO / Miguel MEDINA

Eduardo Carneiro e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

28/06/2018 04h00

A Itália é considerada um dos países mais apaixonados por futebol do mundo. Mas o fiasco da seleção em não conseguir a classificação para a Copa da Rússia fez o interesse dos torcedores locais pelo celebrado torneio diminuir drasticamente.

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“A palavra mais justa em dizer é desinteressada. A Itália não está no Mundial, e eu percebo que os italianos não estão vendo muito os jogos. Os jornais trazem informações, a televisão fala, mas tem muito desinteresse por parte do público italiano”, diz José João Altafini, o Mazzola.

Hoje com 79 anos e vivendo em Milão, o ex-jogador foi campeão mundial pelo Brasil em 1958, coincidentemente o último ano em que a “Azzurra” não havia participado da maior festa do futebol. Já em 1962, preterido pelo país natal (que não convocava atletas que atuam no exterior), Mazzola disputou a competição pela nação que o acolheu.

Desta forma, o ex-atacante do Milan e Palmeiras e quarto maior artilheiro da Serie A se acostumou a ver a Itália parar a cada quatro anos para assistir à Copa. Algo que, lamenta, não aconteceu em 2018. “Os bares e restaurantes aqui em Milão não estão lotados, naquele clima de Copa. Nada disso. Se a Itália estivesse, com certeza isso estaria acontecendo”, afirma.

Mazzola durante festa do centenário do Palmeiras, em 2014 - Zé Carlos Barretta/Folhapress - Zé Carlos Barretta/Folhapress
Mazzola durante festa do centenário do Palmeiras, em 2014
Imagem: Zé Carlos Barretta/Folhapress

“Uma coisa interessante é que quando tem a Eurocopa, por exemplo, é impressionante o número de vendas de aparelhos de televisão. Mas neste mês eles não estão vendendo nada. Então o povo está desinteressado. Quando jogam Brasil, Espanha e Argentina, aí chama um pouco mais de atenção”.

A cerca de mil quilômetros ao sul de Milão, em Lecce, outro brasileiro radicado na Itália endossa o relato de Mazzola. “O clima aqui de Copa do Mundo está muito devagar. É um fracasso total sem a seleção italiana. O pessoal está desanimado, você não vê as pessoas nas ruas. É muito difícil você ver falar de futebol. O Mundial para eles acabou, uma tristeza total”, conta Francisco Govinho Lima, ou simplesmente Lima, ex-volante com passagens por Lecce, Roma, Bologna, entre outros times do “Calcio”, além do São Paulo.

“Agora é verão na Itália, então eles preferem ir para a praia a ficar assistindo aos jogos. Se a seleção italiana estivesse no Mundial aí seria diferente, estaria tendo festa aqui na cidade, nos bares e restaurantes”, completa o ex-jogador.

Ex-volante Lima em ação pela Roma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ex-volante Lima em ação pela Roma
Imagem: Arquivo pessoal

E para quem os italianos torcem?

Em meio ao desânimo, será que os italianos têm alguma preferência em relação às seleções que disputam o Mundial? Mazzola e Lima dizem que sim – um país sul-americano que os dois conhecem muito bem.

“O italiano torceu para o Brasil até em 1982, quando a seleção deles era criticada, mas foi campeã”, brinca o ex-atacante, lembrando que a “Azzurra” eliminou a festejada geração brasileira na edição daquele ano. 

“Quando tem jogo do Brasil eles torcem, ficam mais animados. O italiano tem, assim, um pouco de amor pela seleção brasileira”, concorda Lima, 47 anos, recém-anunciado como técnico fo Uggiano, da terceira divisão do país.

Mazzola cita outro fator que atenua o desinteresse italiano pela Copa. “Às vezes eles torcem para os jogadores que atuam no time deles. Tem muito estrangeiro por aqui, cada um de um país diferente”, explica.

Se os italianos não estão acompanhando muito o Mundial, isso não se aplica a Mazzola, que segue os jogos de perto. E será que o campeão de 1958 acha que Neymar e companhia repetirão o feito 60 anos depois?

“Se o Brasil jogar o que jogou no começo do jogo contra a Suíça, não tenho medo de nada. Mas depois fiquei chateado, porque jogou mal. Fez muita firula, muita papagaiada. Tem que ter primeiro o resultado. O espetáculo e o resto vem depois”, alerta.

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