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Absoluto em Copas, Ochoa viu sonho europeu parar em estigma e burocracia

Guillermo Ochoa agarra a bola no ar no duelo entre México e Suécia - José Méndez/EFE
Guillermo Ochoa agarra a bola no ar no duelo entre México e Suécia Imagem: José Méndez/EFE

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

29/06/2018 04h00

Quando veste a camisa da seleção mexicana, Guillermo Ochoa tem fama de ser uma muralha. Os números na Copa de 2018 corroboram o rótulo, com a liderança em defesas (17) e uma eficiência de mais de 90% nas vezes em que foi acionado. Os brasileiros nem precisam de números, marcados há quatro anos por uma atuação espetacular no empate por 0 a 0 no Mundial de 2014. O brilho pelo México, entretanto, esconde a sombra de uma carreira perseguindo o sonho que nunca veio de atuar por um time de ponta europeu.

O plano de carreira de Ochoa se construiu assistindo às defesas do dinamarquês Peter Schmeichel, ex-Manchester United. “Ele era espetacular. Conseguia defender tudo que ia em sua direção, sempre foi alguém que quis imitar. O engraçado, porém, é que me tornei um goleiro bastante diferente dele”. Diferentes também foram os caminhos profissionais. Burocracia com a falta de um passaporte europeu, estigma por um escândalo de doping que terminou em absolvição e convicções de treinadores deixaram pelo caminho a possibilidade de Memo, como é chamado pelos mexicanos, seguir os passos do ídolo.

Ochoa ganhou espaço na seleção do México com a conquista da Copa Ouro Concacaf em 2009. Repetiu o título em 2011, mas caiu no antidoping com outros quatro jogadores pelo esteroide clembuterol. A alegação da defesa, de contaminação em carne consumida pelos atletas, foi aceita, e o processo terminou em absolvição. O estigma, entretanto, permaneceu. Conversas com Manchester United e Fullham, da Inglaterra, desapareceram, e sonhada transferência para a Europa se deu por um contrato com o modesto Ajaccio, da França.

“Os resultados foram anunciados logo antes da janela de transferências, enfrentávamos risco de uma suspensão de uma ou duas temporadas. Todos os contatos com clubes desapareceram, o Ajaccio foi o único time que continuou conversando comigo”, disse Memo, em 2013.

Na França, foram três temporadas repletas de rumores de negociação com clubes maiores que esbarravam na falta de um passaporte europeu. Atuando por um time que lutava contra o rebaixamento, Ochoa foi generosamente vazado, mas se tornou uma das referências. Quando a degola finalmente veio, em 2014, deixou o Ajaccio recebendo uma emotiva carta de despedida intitulada “Adios, amigo”. Chegou à Copa no Brasil sem clube.

A excelente atuação na fase de grupos, apesar da eliminação, sinalizou a virada da chave. Não foi a transferência dos sonhos, mas, depois do Mundial, Memo finalmente conseguiu chegar a uma das principais ligas europeias, fechando com o Málaga, da Espanha. Livre do estigma do doping e na esteira de grandes atuações pela seleção, o mexicano encontrou no técnico Javi Gracia um novo obstáculo. Ao longo de dois anos, o camaronês Carlos Kameni foi o titular. Uma passagem paradoxal pelo Granada, sendo o goleiro com mais defesas nas cinco maiores ligas europeias (162), e o mais vazado da história do clube na elite espanhola (82 gols sofridos), terminou em novo rebaixamento e encerrou a aventura espanhola.

O mexicano chega à Copa de 2018 atuando pelo Standard Liége, da Bélgica. A decisão, um esforço para se manter na Europa, mas foi duramente criticada pelo compatriota Carlos Hermosillo, que atuou no clube belga na década de 90. “Ele vai passar pela mesma coisa, é um retrocesso. Ele atua por equipes que lutam contra o rebaixamento, e me parece uma má decisão. Respeito, mas me parece muito má decisão, também sob o ponto de vista da seleção nacional”.

O Mundial na Rússia pode ser a última chance de Ochoa alcançar o sonho de defender um grande clube europeu. O goleiro tem trabalhado pelo passaporte, e suas atuações na competição tem sido novamente seguras. Desta vez, entretanto, o obstáculo pode ser ainda maior do que os fantasmas do passado, no Brasil de Tite.

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