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Espanha quis dominar o mundo, mas viu reinado ruir com Brasil de Felipão

Espanha lamenta eliminação na Copa do Mundo para a Rússia, nas oitavas de final - REUTERS/Carl Recine
Espanha lamenta eliminação na Copa do Mundo para a Rússia, nas oitavas de final Imagem: REUTERS/Carl Recine

Bruno Freitas e Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

01/07/2018 21h00

Bicampeã continental, em 2008 e 2012, e campeã mundial em 2010, a Espanha apresentou ao futebol uma fórmula que parecia mágica e infalível. Com controle da posse de bola, os adversários atacavam pouco, e o talento do meio de campo ditava o ritmo. A troca incessante de passes abria espaços, e os gols surgiam. Virou referência, um modelo a ser copiado. Mas, em nível global, o reinado dos europeus durou menos do que eles esperavam.

- Veja os gols da partida entre Rússia e Espanha

A eliminação nos pênaltis para a Rússia na Copa deste ano, após empate por 1 a 1 em 120 minutos de bola rolando, enterrou de vez o projeto de dinastia espanhola. Mas os primeiros abalos dessa estrutura, que parecia sólida, foram sentidos há cinco anos no Maracanã, exatamente no dia 30 de junho de 2013. Naquela data, a seleção brasileira treinada por Luiz Felipe Scolari apoiou-se na força da torcida e em contra-ataques letais para aplicar um sonoro 3 a 0 na Espanha, fora o baile, na final da Copa das Confederações, com dois gols de Fred e outro de Neymar.

Na véspera do jogo, o comentarista Julio Maldonado, um dos mais prestigiados da Espanha, disse ao UOL Esporte que seria “um choque tremendo” o domínio que a seleção de seu país imporia ao Brasil no Maracanã. “Isso pode machucar do ponto de vista do ego dos brasileiros, não?", provocou. Ledo engano. Ao som de “olé” vindo das arquibancadas, os então campeões mundiais foram engolidos por uma equipe que, no ano seguinte, levaria 7 a 1 dos alemães. Era o fim de uma invencibilidade de 29 partidas de La Roja.

A surra sofrida na Copa das Confederações expôs fragilidades defensivas de um esquema antes visto como revolucionário e escancarou feridas que não foram abertas pelo futebol. A tensão entre madrilenhos e catalães, antes controlada por uma trégua costurada por lideranças do elenco, o goleiro Casillas e o meia Xavi Hernandéz, ficou evidente e implodiu o grupo ano a ano. Neste cenário, os duelos quentes entre Barcelona e Real Madrid em campo não ajudaram em nada a contornar os problemas.

Brasil x Espanha 2013 - Ronald Martinez/Getty Images - Ronald Martinez/Getty Images
Neymar marca diante da Espanha na final da Copa das Confederações de 2013
Imagem: Ronald Martinez/Getty Images

Desmoralizada e desunida, a Espanha foi presa fácil na Copa do Mundo no Brasil, no ano seguinte. Na estreia, em Salvador, levou um humilhante 5 a 1 da Holanda, que atuou de forma muito semelhante à seleção de Felipão, explorando contra-ataques. A derrota por 2 a 0 para o Chile, na rodada seguinte, selou a eliminação precoce ainda na fase de grupos.

Renovação não manteve o nível de excelência

O vexame na Copa provocou a aposentadoria de ícones dessa geração vencedora, como Casillas, Xavi e o volante Xabi Alonso, mas o rejuvenescimento do grupo com qualidade era dado como certo, já que a Espanha também era bicampeã europeia sub-21 (2011 e 2013), revelando nomes como o goleiro De Gea, os zagueiros Bartra e Javi Martínez, os meias Juan Mata, Thiago Alcântara e Isco, além do atacante Morata. Acreditava-se que a supremacia continuaria com essa geração.

Fora de campo, coube a dois jogadores de personalidade forte, símbolos dos extremos que representam a Espanha atual, os zagueiros Sergio Ramos e Piqué, tentar estabelecer o mínimo de paz no jogo de egos da seleção. O que aconteceu na prática foi uma extensão da rivalidade Barça x Real no elenco.

A eliminação para a Itália nas oitavas de final da Eurocopa de 2016 culminou na saída de Vicente Del Bosque, o técnico que capitaneou essa era de ouro da seleção espanhola. O desafio de renovar o elenco, aparar arestas e recuperar o alto nível para a Copa da Rússia foi confiado a Julen Lopetegui, que classificou o país à Copa da Rússia com tranquilidade, em campanha invicta com nove vitórias e um empate.

Espanha x Argentina - Javier Barbancho/Reuters - Javier Barbancho/Reuters
Diego Costa marca para Espanha na goleada por 6 a 1 sobre a Argentina antes da Copa da Rússia
Imagem: Javier Barbancho/Reuters

A goleada por 6 a 1 sobre a Argentina, em amistoso disputado em Madri, passou a impressão de força para a Copa, mas os pilares espanhóis estavam mais estremecidos do que aparentavam. A dois dias da estreia no Mundial, Lopetegui avisou à Real Federação Espanhola de Futebol que trabalharia no Real Madrid após a competição. O técnico, que semanas antes havia renovado contrato até 2020, fechou com o clube sem aviso prévio à entidade e acabou demitido.

A postura do treinador, mais uma vez, dividiu o elenco da Espanha. Com um interino no comando, Fernando Hierro, e sem sintonia em campo, os europeus se despediram da Copa da Rússia com três empates e apenas uma vitória, eliminados pelos donos da casa nas oitavas de final e nos pênaltis. Com bola rolando, a Fúria 79% de posse de bola e finalizou 24 vezes, mas apenas nove foram na direção da meta defendida por Akinfeev.

Os números, que tanto ajudaram a reforçar o estilo de jogo de espanhol na última década, agora são cruéis. Escancaram como a posse de bola e troca de passes se tornam inúteis quando não há nenhuma objetividade e sintonia entre os jogadores.

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