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Japão espera rever o Brasil com mesmo técnico que fez milagre há 22 anos

Akira Nishino foi técnico da seleção do Japão olímpica em 1996 e agora principal 2018 - Montagem sobre Reprodução e Toru Hanai/Reuters
Akira Nishino foi técnico da seleção do Japão olímpica em 1996 e agora principal 2018
Imagem: Montagem sobre Reprodução e Toru Hanai/Reuters

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

02/07/2018 04h00

A Bélgica é favorita, mas o Japão sonha em ser azarão nas oitavas de final da Copa do Mundo, nesta segunda-feira, às 15h (de Brasília). A condição de zebra não é exatamente uma novidade para a seleção nipônica e também seu técnico, Akira Nishino. Foi sob o comando dele que o Japão venceu a seleção brasileira pela primeira vez na história, nas Olimpíadas de Atlanta, em episódio que ficou conhecido no país como "O Milagre de Miami". Os japoneses nunca haviam superado o Brasil no futebol até 21 de julho de 1996 e continuaram assim depois desse dia.

A próxima chance pode rolar nas quartas de final do Mundial da Rússia, se o Brasil passar pelo México e o Japão vencer a Bélgica nesta segunda-feira, às 15h, em Rostov.

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Há 22 anos, o Brasil foi escalado por Zagallo com nomes como Dida, Roberto Carlos, Juninho Paulista, Rivaldo, Bebeto e Sávio, e mesmo assim foi derrotado na primeira rodada da Olimpíada pelo Japão, em que apenas três jogadores alcançaram relevância internacional: Kawaguchi, Maezono e Nakata. Em campo, no entanto, foi um gol de Ito aos 27 minutos do segundo tempo, com falha da defesa brasileira, que determinou o placar final em 1 a 0 para os comandados de Akira Nishino.

Seleção brasileira olímpica em 1996 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

O Brasil reagiu nas Olimpíadas. Venceu Hungria, Nigéria e Gana antes de passar vergonha nas semifinais, justamente contra a Nigéria, no inesquecível gol de ouro de Kanu. O único legado agradável desta campanha foi uma propaganda de carro lançada no ano seguinte, que ironizava a forma como o Brasil perdeu do Japão: após lançamento na área, Aldair se preparava para afastar quando Dida saiu do gol de forma estabanada e se chocou com o zagueiro. Na sobra, Ito marcou. O lance se repetiu no jogo contra a Hungria, e a propaganda brincava com isso. Zagallo mandava "Sai do gol, Dida", e o goleiro da seleção permanecia dentro do carro da Volkswagen, recusando-se a sair do gol.

Em razão da vitória sobre o Brasil em 1996, Nishino é tratado pelos japoneses como um grande nome da história do futebol local. Tanto é que não houve dúvida na federação local em nomeá-lo técnico da seleção para a Copa do Mundo da Rússia em abril, a dois meses do torneio, quando decidiu-se pela demissão do bósnio Vahid  Halilhodzic por maus resultados em amistosos. Nishino trabalhava como diretor de seleções, uma espécie de Edu Gaspar do Japão, e topou retomar as funções de técnico que não desempenhava desde 2015.

Na primeira fase, o Japão venceu a Colômbia por 2 a 1, empatou com Senegal por 2 a 2 e foi derrotado pela Polônia por 1 a 0. É uma seleção marcada por números altos de chutes a gol, muita troca de passes e equilíbrio entre defesa e ataque. Mais ou menos como foi há 22 anos, sob comando do mesmo treinador.

"Em 1996 eles se defendiam bastante e saíam no contra-ataque. Eles conseguiram fazer gol em erro nosso, nós tivemos oportunidades e não concluímos, mas eles tinham qualidade também. Hoje também vejo uma equipe organizada, até porque o futebol se desenvolveu muito, principalmente taticamente, o que antes não era a principal virtude das equipes", opina o ex-zagueiro Ronaldo Guiaro, que esteve em campo pela seleção brasileira contra o Japão em 1996 e hoje trabalha como treinador.

Seleção japonesa comemora vitória sobre a Polônia - Xinhua/Chen Cheng - Xinhua/Chen Cheng
Imagem: Xinhua/Chen Cheng

Constrangimento é assunto superado

O Japão avançou com antijogo às oitavas de final da Copa do Mundo. Mesmo sendo derrotado por 1 a 0 pela Polônia na última rodada, a equipe abdicou do ataque e trocou passes na defesa nos minutos finais confiando no novo regulamento do torneio - empatado em todos os critérios de desempate com Senegal, os asiáticos avançariam por ter menos cartões amarelos. A torcida notou a estratégia e vaiou os japoneses em campo. "Não estamos felizes por isso, mas em uma Copa do Mundo estas coisas acontecem, se tomássemos mais um gol estaria acabado", disse o técnico japonês logo após a partida, constrangido pelo pedido feito a seus jogadores minutos antes.

Na imprensa internacional, a decisão foi criticada. Segundo o francês "L'Équipe", o Japão se classificou sem honra, lembrando um valor dos mais importantes para o povo japonês. Passados quatro dias o assunto não tem sido mais abordado por jogadores ou profissionais da comissão técnica. A ideia é tratar como passado e focar nos desafios do jogo contra a Bélgica.

O Japão nunca passou das oitavas de final da Copa do Mundo. Chegou ao mata-mata duas vezes, mas caiu por 1 a 0 para a Turquia em 2002 e nos pênaltis após empate em 0 a 0 com o Paraguai em 2010. Na sexta participação, eliminar a Bélgica e avançar às quartas de final seria outro feito histórico no currículo de Akira Nishino.

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