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Xingamentos, explosão e choro: a agonia de James fora do adeus colombiano

Fora de campo, camisa 10 lamentou solitário a derrota nos pênaltis diante da Inglaterra - David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images
Fora de campo, camisa 10 lamentou solitário a derrota nos pênaltis diante da Inglaterra Imagem: David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images

Julio Gomes

Colaboração para o UOL, em Moscou (Rússia)

03/07/2018 18h15

Mateus Uribe caminha só, lentamente, para fora do campo, chorando copiosamente. Foi ele quem perdeu o pênalti que deixaria a Colômbia quase classificada para as quartas de final da Copa do Mundo. James Rodríguez vem ao encontro do companheiro, lhe dá um forte abraço, diz algumas palavras, ambos se sentam no banco de reservas da Colômbia e ficam lá por alguns segundos.

Saem todos, sobra James. É a hora dele desabar. Sozinho, chora. Recebe os cumprimentos de Henderson, da Inglaterra. Segue ali por mais alguns minutos. E vai embora - de vez.

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O choro parecia estar contido durante as três horas em que a disputa ocorria no estádio do Spartak de Moscou. A agonia de um craque que sabe do tamanho de sua importância para a seleção colombiana.

Lesionado, James não ficou nem no banco de reservas. Sentou-se na primeira fileira da tribuna reservada para a imprensa no estádio, a exatas oito cadeiras da reportagem do UOL Esporte, que também estava na fila número um, a poucos metros do gramado. Do lado direito dele, Borja, outro machucado, mas que naturalmente já veria o jogo do banco. Do lado esquerdo, Cambiasso, ex-jogador da seleção argentina, hoje auxiliar do técnico José Pekerman.

O que seria da Colômbia sem James, seu principal jogador, o craque do time?

Um time agoniado, sem ideias, assim como James na arquibancada. Era possível sentir o olhar de uma pessoa inconformada por estar fora de um jogo deste tamanho.

No primeiro tempo, em um jogo em que quase nada aconteceu, James Rodríguez mostrou tranquilidade. Chegou a mostrar algumas vezes algo em seu celular para Borja. Riram. Sabendo que as câmeras estão sempre de olho, conversam com a mão na boca para evitar leitura labial. Um cuidado que seria deixado de lado depois.

O primeiro momento de estresse veio em uma falta perigosa para a Inglaterra. Foi a primeira vez - de muitas - que o craque colombiano se levantou para xingar o juiz.

Vieram o pênalti para a Inglaterra e outros lances de cartão amarelo - a Colômbia levou seis. James Rodríguez sobe na mureta, se segura na proteção de vidro que separa a tribuna do campo. Xinga, gesticula, cospe marimbondos. É contido por um dos auxiliares da seleção colombiana. A estas alturas, o gomo inteiro da arquibancada ao lado, esta sim cheia de colombianos, já havia notado que ele estava por lá.

“Hijo de p…! Cabrón! Siempre así!”, grita, batendo a mão espalmada ao vidro. Borja, por outro lado, se mantém quase sempre com a mesma expressão, olhos fixos no jogo. Em algum momento, o atacante do Palmeiras também desfere um soco na cadeira ao lado.

Coração partido de James Rodriguez - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Com 25min do segundo tempo, apesar do frio, James tira o casaco. Aos 38min, já está assistindo ao jogo em pé. O duelo esquenta, a Colômbia aperta, Uribe quase marca um golaço, chute defendido por Pickford. Escanteio. Saio o gol de empate, de Mina, e James e Borja explodem.

Sobem na cadeira, gritam, braços levantados, são abraçados por Cambiasso, auxiliares e algum torcedor colombiano que invade a área reservada. Explosão no Spartak, com arquibancadas com quantidade muito maior de colombianos do que de ingleses.

Na prorrogação, é Borja quem está mais ativo, gritando palavras de apoio aos companheiros. James fica a maior parte do tempo sentado, com as mãos sobre o vidro de proteção e a boca encostada nele. Às vezes, murmura alguma coisa, talvez uma prece. Encosta de novo na cadeira, mexe no celular, escreve alguma mensagem.

Sempre que há um intervalo no jogo, eles descem ao gramado. James participa da roda dos jogadores antes do pênaltis, Mina é quem mais fala. O craque precisa voltar ao seu lugar na arquibancada, troca olhares com o goleiro Ospina, cerra o punho em um gesto de apoio.

A nova explosão vem com a defesa de Ospina no pênalti de Henderson. Colômbia na frente. A agonia está quase acabando, falta pouco para a classificação.

Mas Uribe erra. E Pickford para Bacca. Quando Dier marca o gol decisivo para a Inglaterra, James e Borja se levantam e caminham para apoiar os companheiros. James caminha com as mãos sobre a cabeça.

A agonia acabou. Começam a tristeza e o choro

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