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Plano B do Brasil ganha força na Copa e abre leque para Jesus e Neymar

Tite orienta Neymar durante a partida entre Brasil e México: mudança tática - AP Photo/Thanassis Stavrakis
Tite orienta Neymar durante a partida entre Brasil e México: mudança tática
Imagem: AP Photo/Thanassis Stavrakis

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Sochi (Rússia)

04/07/2018 04h00

A vitória sobre o México, na última segunda-feira (2), abriu para a seleção brasileira uma perspectiva de variação tática que a Era Tite, em mais de dois anos, ainda não havia experimentado. Para enfrentar a Bélgica na próxima sexta, e para os dois jogos seguintes caso conquiste a classificação, o Brasil viu se confirmar uma alternativa de um novo sistema.

Para reagir em uma partida em que o controle era dos mexicanos nos 30 minutos iniciais, Tite colocou em prática um novo sistema. Essa mudança já havia sido mencionada de passagem por Thiago Silva na véspera do jogo, mas foi confirmada quando foi ordenada a troca do 4-1-4-1 para uma tática, em tese, mais simples: o 4-4-2. 

Como o desenho alternativo impacta a equipe 

Com uso do 4-4-2, Brasil teve Neymar e Jesus juntos perto da área - Clive Rose/Getty Images - Clive Rose/Getty Images
Com uso do 4-4-2, Brasil teve Neymar e Jesus juntos perto da área
Imagem: Clive Rose/Getty Images

Um dos pontos do novo sistema é dar maior proteção para a área. Assim, o time passou a ter dois jogadores posicionados, de fato, como volantes. Casemiro, que joga mais recuado, recebeu a companhia de Paulinho. Essa mudança é feita por Tite para controlar momentos de pressão dos adversários e já havia sido colocada em prática contra a Sérvia. Naquele jogo, foi Fernandinho quem entrou para jogar próximo de Casemiro.

Na mexida desta vez, no entanto, Tite trocou ainda mais posicionamentos. Philippe Coutinho saiu do meio para jogar pela ponta esquerda, e assim se formou uma linha com quatro meio-campistas: Willian pela direita, Paulinho e Casemiro como volantes e o próprio Coutinho. Com os quatro defensores e mais quatro jogadores próximos, o Brasil ainda protegeu Fagner e Filipe Luís, até então muito expostos ao mano a mano.

A afirmação dessa nova tática ainda beneficiou Neymar, que com maior liberdade de movimentação construiu os dois gols da vitória. Ele virou atacante de verdade, pelo centro, do lado de Gabriel Jesus. Como o UOL Esporte mostrou no começo da preparação para a Copa, esse já era um plano da comissão técnica como alternativa, mas nunca havia sido tão efetivo e emblemático em um jogo da era Tite como agora.

Nessa dança de peças de uma posição para outra, Gabriel Jesus também reencontrou uma forma de ser útil. Cada vez mais camisa 9, como atua com o Manchester City e com a seleção, ele voltou no segundo tempo a ser ponta esquerda, como foi no Palmeiras e na seleção olímpica. Nesta segunda etapa da alteração tática, Coutinho é que foi jogar próximo de Neymar, e Filipe Luís ganhou um marcador implacável para o ajudar naquele setor.

A comissão técnica do Brasil ainda enxerga nessa mudança a possibilidade de aproveitar o melhor de Firmino. O atacante, que cada vez mais se notabiliza como talismã do time e aspirante à titularidade, é visto como um híbrido de número 10 e número 9. Com uma dupla de jogadores mais avançados como no 4-4-2, ele procura espaços às costas dos volantes rivais e joga sempre próximo da área. Exatamente assim, foi fundamental para furar a retranca de Costa Rica e anotou o segundo gol sobre o México.  

Choque de 2013 fez Tite se mexer de olho na seleção

Tite em 2013 - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
Tite buscou aperfeiçoamento profissional depois de segundo semestre ruim em 2013
Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Ao deixar o Corinthians no fim de 2013, por opção do próprio clube, Tite diagnosticou que o repertório ofensivo era algo que precisava aprimorar para dar um salto na carreira. Então, no ano seguinte, ele traçou um plano de carreira que tinha dois pontos em especial: buscar aperfeiçoamento no exterior, o que fez com o Real Madrid de Carlo Ancelotti, campeão europeu, como base; acompanhar a Copa 2014 com enorme atenção e se candidatar à seleção brasileira. 

Não por acaso, o treinador admite que a escolha da CBF por Dunga para a vaga de Luiz Felipe Scolari após o Mundial no Brasil foi uma decepção grande, só curada quando recebeu o convite dois anos depois. Já familiarizado ao 4-1-4-1 como sistema de jogo, focou o trabalho na seleção inicialmente em afirmar essa ideia, conquistar resultados rápidos e colocar o Brasil próximo da Copa da Rússia.  

Com a vaga encaminhada em março do ano passado, deu início a um segundo estágio de seu trabalho a partir de amistosos na Austrália, em junho. Ali, começou a arquitetar Philippe Coutinho como meio-campista, um dos segredos do sucesso brasileiro nesta Copa, e a buscar alternativas como o 4-4-2, que ajudou a mudar a história da partida contra o México.