Topo

"Escondido" na Rússia, Edu encerra passagem na Copa à la Dona Lúcia

Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF, dá entrevista para jornalistas ainda na Granja Comary; cena não se repetiu na Rússia - Pedro Martins/Mowa Press
Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF, dá entrevista para jornalistas ainda na Granja Comary; cena não se repetiu na Rússia
Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Petersburgo (Rússia)

07/07/2018 17h27

Edu Gaspar foi, ao longo dos dois últimos anos, uma das principais caras da seleção brasileira. Sempre presente, posicionou-se como corresponsável pelo trabalho que parecia ter tirado a camisa verde-amarela de uma enorme crise. Na aventura de Neymar e companhia pela Copa do Mundo, no entanto, o ex-volante pouco foi visto. Distante de microfones e holofotes mesmo nos momentos mais críticos, ele apareceu no último dia da seleção na Rússia somente após pedido dos jornalistas. Em sua primeira grande entrevista, fez lembrar Carlos Alberto Parreira, que há quatro anos, na função de coordenador técnico da seleção, leu a famigerada “carta da dona Lúcia” logo após o 7 a 1.

Clique aqui e veja os gols da partida.

- Por que perdemos? Os fatores que contribuíram para a queda
- Renovação para 2022 ameaça Dani Alves, Marcelo e outros
- Neymar mostra imaturidade e falha em ‘missão Bola de Ouro’

“Não é fácil ser Neymar. É difícil ser Neymar. É um menino... menino não, desculpa o termo, é um atleta, que deixou de ser menino”, disse Edu Gaspar. “Se Neymar dá um sorriso, ele é criticado e elogiado. Se o Neymar chora, é criticado e elogiado. Se o Neymar não dá entrevista, é elogiado e criticado. Procurei estar sempre ao lado dele, confortando. Chega a dar pena em alguns momentos, porque o que esse menino sofre não é fácil”, completou, pouco depois.

A entrevista caiu mal. Edu Gaspar foi um dos termos mais comentados pelo Twitter e direcionou uma nova onda de críticas à seleção e seu principal jogador. A imagem de um “menino” perseguido e que sofre na luta para superar inúmeros obstáculos não condiz com a realidade de um dos maiores atletas do planeta, milionário aos 26 anos de idade. Não condiz, diga-se, nem mesmo com o tratamento dado por Tite, bem mais comedido quando tentou cumprir o mesmo papel de “escudo” para o seu camisa 10.

Em 2014, quando o Brasil ainda vivia o luto do 7 a 1, Parreira encarou os jornalistas na Granja Comary para ler a carta de dona Lúcia, uma torcedora que, a despeito do vexame, defendia o trabalho da comissão técnica de então. Desconectado do momento da seleção e do espírito do torcedor, o texto virou piada, soou como tentativa improvisada de defesa e faria o próprio Parreira se sentir arrependido anos depois.

Edu não leu uma carta da dona Lúcia, mas agiu justamente com a condescendência que faz os críticos de Neymar se exaltarem. É o desfecho mais adequado à Copa do Mundo que ele mesmo viveu.

Coordenador "escondido"

Desde que assumiu a coordenadoria da seleção brasileira, Edu Gaspar virou figurinha carimbada na imprensa. Concedeu entrevistas, esteve acessível e foi presença constante em zonas mistas de jogos do Brasil, quando era um dos últimos a entrar no ônibus da delegação. Na preparação para a Copa do Mundo, porém, tudo mudou.

Quando a seleção brasileira foi pega de surpresa com as datas da Fifa e fez o Palmeiras perder Dudu em um jogo da Copa do Brasil, Edu Gaspar se afastou dos holofotes. Naquela semana, na Granja Comary, ele chegou a anunciar que a pré-lista não afetaria os clubes brasileiros e foi desmentido pelos fatos.

Edu Gaspar chegou a passar dias com o telefone desligado, fora do alcance até dos amigos. Já em Sochi, no ambiente aberto do resort em que se hospedou a seleção brasileira, apareceu menos até do que Tite, que chegou a circular nas áreas comuns.

Edu Gaspar chegou a dar breves entrevistas em dias de jogos e foi o porta-voz da CBF que comunicou à imprensa a intenção da entidade de reclamar com a Fifa após a arbitragem da estreia, contra a Suíça. Seu distanciamento do dia a dia e sua indisposição em aparecer, no entanto, geraram incômodo até dentro do estafe da confederação.

O coordenador também adotou postura diferente do que costumava pregar. Crítico de seu antecessor, Gilmar Rinaldi, ele chegou a dizer que não achava certo o dono do seu cargo estar no banco de reservas durante os jogos. Edu não só esteve como até aproveitou a proximidade para exercer pressão sobre as arbitragens em jogos do Brasil.

Após a eliminação, não havia previsão de que ele atendesse a imprensa antes do embarque do Brasil de volta para casa. Sem nenhum dirigente que pudesse falar pela CBF, no entanto, os jornalistas pressionaram por um pronunciamento de Edu. Com os microfones ligados, ele encerrou sua Copa do Mundo muito longe de brilhar.