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Tite deu carinho e respaldo a Neymar, que não evitou Copa de problemas

Tite e sua comissão escolheram "abraçar" Neymar, que ainda assim deu sinais de imaturidade - Andrew Boyers/Action Images via Reuters
Tite e sua comissão escolheram "abraçar" Neymar, que ainda assim deu sinais de imaturidade Imagem: Andrew Boyers/Action Images via Reuters

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Petersburgo (Rússia)

07/07/2018 20h13

As palavras complacentes do coordenador Edu Gaspar, que chegou a dizer neste sábado (7) que tem pena do que Neymar vive na seleção brasileira e que ele é um menino, são um novo ponto na relação que Tite e ele apostaram para tentar ter o melhor do camisa 10.

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Nos últimos dois anos, desde que o Brasil passou por uma mudança no comando técnico, a estratégia dos novos comandantes foi fazer o possível para proteger e dar conforto a ele. O Mundial da Rússia mostrou que o plano não foi suficiente, diante de novos sinais de imaturidade do craque aos 26 anos.  

Depois de uma relação que acabou turbulenta com Dunga, Neymar encontrou em Tite e Edu pessoas dispostas a tirar o foco dele externamente, ao mesmo tempo que, internamente, ofereceram carinho e respaldo. A maior comissão técnica do Brasil na história das Copas recebeu dois profissionais do estafe pessoal do craque: Ricardo Rosa, auxiliar de preparação física, e Rafael Martini, o quarto fisioterapeuta para 23 jogadores na Rússia.

A rotina da dupla, porém, era diferente dos demais. Neymar, conforme mostrou o UOL Esporte, só era cuidado pelos dois profissionais que trabalham para ele desde os tempos do Santos. O médico Rodrigo Lasmar, responsável por sua cirurgia em março, também foi disponibilizado pela CBF, que o enviou à França, comprou briga com o Paris Saint-Germain para centralizar sua recuperação no Brasil e chegou a visitá-lo em Mangaratiba, onde tem casa, para avaliar a operação e retirar pontos.

Proteção pública ao craque

Tite consola Neymar durante coletiva emocionada do jogador, após a vitória do Brasil sobre o Japão - Pedro Martins/ MoWa Press - Pedro Martins/ MoWa Press
Imagem: Pedro Martins/ MoWa Press

Tite e Edu também fizeram o mesmo roteiro de Lasmar, para dar respaldo, e reforçaram uma postura de proteger o jogador. Temas como a pouca vontade de Neymar em participar do rodízio de capitães, suas discussões com arbitragem e excessos de individualidade em alguns momentos de partidas nunca foram abordados de forma crítica pela CBF ao longo do período.

Em seu momento de maior dificuldade na França, Neymar teve Tite a seu lado em uma entrevista coletiva em Lille. Enquanto o craque chorou diante da imprensa por se sentir vítima das críticas após um entrevero com o uruguaio Cavani, o treinador fez, no ambiente da seleção, uma defesa pública do atleta por um problema vivido no clube.

A mesma cena se repetiria, meses depois, em Samara. Neymar foi alvo de críticas de Juan Carlos Osorio e, sentado ao lado de Tite para uma entrevista obrigatória pelo protocolo Fifa, acabou impedido de responder. O treinador da seleção brasileira tomou a palavra e, novamente diante da opinião pública, colocou sua reputação a favor do principal nome do time.

A saia-justa gerada pelo pai de Neymar

Tite, que admitiu a pessoas próximas antes da Copa que tem reservas e preocupações pela influência do pai sobre Neymar, precisou lidar com uma saia-justa durante a primeira fase do Mundial. Enquanto todas as famílias de atletas se submeteram à logística e hospedagem fornecida pela CBF, Neymar pai agiu por conta própria e foi para perto do filho, no mesmo hotel onde o Brasil estava concentrado, durante o Mundial.

O pai de Neymar, em um primeiro momento, havia recebido a sinalização de que o camisa 10, animado após os amistosos pré-Copa, gostaria de ficar voltado aos demais jogadores e à seleção. A estreia com empate, pisões no pé operado e críticas mudaram os planos: assim, o pai foi com seu estafe e se hospedou no local para dar respaldo e maior atenção. O incômodo com Moscou foi o motivo oficial de Neymar pai para se mudar para Sochi, cidade base da seleção. Não houve qualquer proibição da CBF à proximidade, mas alguns familiares de outros atletas manifestaram desconforto.

Dias depois, parentes de Douglas Costa também se tornaram hóspedes do mesmo hotel, mas não foram os únicos. A mãe Nadine, a irmã Rafaela, o filho Davi Lucca e outros familiares também repetiram esse mesmo roteiro – a namorada Bruna Marquezine também chegou a passar um dia próxima. A presença dos familiares, para as pessoas próximas a Neymar, foi visto como uma das razões para que ele se tranquilizasse a partir do terceiro jogo e mostrasse um semblante de felicidade em alguns momentos.

A conclusão: Neymar não evitou problemas antigos

Neymar passou em branco na partida com a Bélgica nas quartas de final - AFP PHOTO / Manan VATSYAYANA - AFP PHOTO / Manan VATSYAYANA
Imagem: AFP PHOTO / Manan VATSYAYANA

Encerrado o ciclo brasileiro no Mundial da Rússia, o desempenho de Neymar e os problemas que mais uma vez envolveram sua participação mostram que a estratégia de Edu e Tite não surtiu o efeito esperado. O craque oscilou bons momentos e outros nem tanto, mas mostrou dificuldades emocionais, viu seu comportamento virar tema na imprensa mundial e, em alguns casos, até se tornou chacota por quedas exageradas.

Em entrevista ao UOL Esporte, concedida ao fim da primeira fase, o treinador Dorival Júnior chegou a abordar as discussões em torno de Neymar. Comandante que perdeu o emprego no Santos por uma desavença com o craque, Dorival teve uma relação intensa com ele, mas passa longe de ter se tornado um desafeto. Ele defendeu o jogador, em linha semelhante à de Edu Gaspar.

“O nível de cobrança é altíssimo com uma pessoa como ele. Querem às vezes que você como ser humano tenha as mesmas reações que cada um de nós. Cada um tem suas particularidades e têm que ser respeitadas. Dentro de campo, que seja coletivo, como o Tite tenho certeza cobra dele. No mais, ninguém é perfeito, as pessoas não são semelhantes em todos os aspectos, têm sua maneira de encarar, responder, de se posicionar, e isso precisa ser respeitado desde que não interfira na vida do próximo”, avaliou Dorival.

Na melhor temporada da carreira, 2014/15, Neymar teve o comando de outro treinador com quem teve relação intensa, substituições que causaram irritação e cobranças. Foi o espanhol Luis Enrique quem extraiu o melhor dele no Barcelona, com direito a gols em todos os duelos eliminatórios da Liga dos Campeões e título na ocasião.