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Após suíços, é a vez de croata criar polêmica ao gritar "Glória à Ucrânia!"

Vida (à dir.) saudou ucranianos após a seleção croata eliminar a Rússia da Copa - Reprodução/YouTube
Vida (à dir.) saudou ucranianos após a seleção croata eliminar a Rússia da Copa Imagem: Reprodução/YouTube

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

08/07/2018 04h00

Domagoj Vida foi o croata mais falado no Brasil no último sábado (7), por ter feito gol importante para a classificação de sua seleção à semifinal da Copa do Mundo e também por ter nome que rende inúmeros trocadilhos em português. Mas um gesto que passou quase despercebido, na intimidade do vestiário, tem um peso político enorme em um contexto de conflito entre Rússia e Ucrânia e despertou outros tipos de comentários sobre o jogador nas redes sociais.

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Em um vídeo gravado logo após a vitória sobre a seleção russa, Vida aparece dizendo “Slava Ukraine”, expressão que quer dizer “glória à Ucrânia”. O termo é centenário, mas voltou à tona ressignificado durante as manifestações de 2014, que derrubou o presidente do país e o fez fugir para a Rússia – era justamente com os russos que o mandatário costurava laços diplomáticos cada vez mais estreitos, o que motivou os protestos. Foi a partir de então que a frase deixou de ser um cumprimento e passou a ser um slogan por uma Ucrânia unida.

A iniciativa de Vida requer explicação. Ele atuou por muitos anos e tornou-se ídolo do Dínamo de Kiev, equipe da capital ucraniana, onde os protestos de quatro anos atrás tiveram mais força. Outro que jogou lá foi Ognjen Vukojevic, que aparece ao lado de Vida no vídeo em questão. “Esta vitória é para o Dínamo e para a Ucrânia”, diz o ex-volante, que está na Copa como integrante da comissão técnica da Croácia. Após a repercussão, Vukojevic tornou seu Instagram privado.

É precipitado afirmar que se trata de uma provocação, mas os indícios são vários e o momento da frase soou muito mal. Uma hora após o vídeo se tornar público, o jornalista russo Philip Papenkov compartilhou cenas do centro de Moscou, onde torcedores locais entoavam cantos anti-Croácia (veja acima).

É uma antipatia que nasce mais ou menos nos termos que envolveram a Sérvia durante a fase de grupos da Copa do Mundo. Daquela vez os jogadores Shaqiri e Xhaka defenderam maior autonomia ao Kosovo, cuja independência não é reconhecida pelos sérvios – a dupla defendeu a Suíça no Mundial, mas tem ascendência kosovar. O episódio foi disfarçado pela Fifa, que aplicou uma multa aos dois por terem feito gestos políticos em comemoração de gols. Não é exatamente o caso de Vida, mas a polêmica geopolítica volta ao Mundial.

Relação delicada entre Rússia e Ucrânia

Aproveitando a fragilidade do país após as manifestações de 2014, soldados russos invadiram a península ucraniana de Crimeia. Em seguida a região foi anexada à Rússia após um referendo feito à revelia de Kiev. Seguiu-se um conflito armado entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-Rússia do leste do país. O conflito já matou mais de dez mil pessoas.

A presença da Rússia na Crimeia foi considerada uma "invasão" por vários países ocidentais. Por isso a União Europeia impõe sanções ao país de Vladimir Putin desde 2014, tanto pela anexação da região quanto por acusação de apoio financeiro e armamentista às forças separatistas.

O termo "Slata Ukraine"

A expressão nasceu ainda durante a Guerra da Independência da Ucrânia, há exatos 100 anos. Era usada como saudação pelos partidários de um dos regimentos do Exército da República Popular da Ucrânia (UNR, na sigla em inglês), uma das forças envolvidas nos conflitos. Desde então a saudação ganhou diversas respostas, mas caiu no esquecimento a partir da década de 1960.

O retorno ao vocabulário se deu justamente em 2014, durante as manifestações contra o governo do presidente Viktor Yanukovych, de política bastante próxima à Rússia. O novo significado deixava de ser uma esperança por futuro melhor para se tornar uma afirmação pela Ucrânia independente (distante dos russos, no caso).

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