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Kanté: 4º mais baixo da Copa é o maior jogador de meio-campo do torneio

Ngolo Kanté, volante da França - Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images
Ngolo Kanté, volante da França Imagem: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Marcel Rizzo

Do UOL, em Istra (Rússia)

09/07/2018 04h00

Somente quatro dos 11 titulares da França na Copa do Mundo da Rússia não passaram por Clairefontaine, o centro de treinamento da federação francesa fundado para formar jovens atletas: o goleiro Lloris, cria de uma escolinha de futebol em Nice, o lateral Lucas Hernández e o meia-atacante Griezmann, que foram cedo para a Espanha, e o volante Kanté.

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No caso de N'golo Kanté, o motivo de não ter aparecido por Clairefontaine foi o mesmo usado por clubes, como Paris Saint-Germain, Rennes e Bordeaux, para rejeitarem o jogador, hoje com 27 anos: era muito baixo, todos concordavam.

Com 1,68m, poucos acreditavam que Kanté, filho de imigrantes do Mali, na África, pudesse um dia se tornar um jogador de ponta em um futebol que exige cada vez mais força física e alta estatura (vide a importância atualmente de bolas alçadas na área). Ele não só se tornou atleta profissional, como é essencial para a França justamente no maior torneio de todos, a Copa do Mundo.

Kanté, da França, marca Messi, da Argentina - Catherine Ivill/Getty Images - Catherine Ivill/Getty Images
Kanté marca Messi: francês não apareceu muito em campo, mas argentino teve dificuldades
Imagem: Catherine Ivill/Getty Images

Kanté é o maior ladrão de bolas do Mundial da Rússia. Já foram 53 recuperações, segundo a Fifa. O segundo colocado no quesito, o russo/brasileiro Mário Fernandes, terminou sua participação com 43 - a Rússia foi eliminada nas quartas de final para a Croácia. Em terceiro, e ainda ativo com a Inglaterra na semifinal, está Maguire, com 38. Improvável que em dois jogos passe Kanté.

A altura era um problema talvez se precisasse marcar grandalhões na área, mas dava uma agilidade para roubar bolas. E isso foi identificado por um treinador de uma equipe semiamadora chamada Suresnes, que resolveu dar uma chance a ele ainda com nove anos. "Clubes diziam ter melhores jogadores que ele, mas na verdade eles tinham jogadores maiores que ele. Não melhores”, afirmou Pierre Ville à imprensa francesa há alguns meses. Ville era dirigente e treinador do Suresnes.

Kanté tinha outro "problema": a timidez. Pouco fala, tanto que é difícil achar alguma frase dele na Copa do Mundo, apesar da ótima performance. Talvez por ter nascido em uma região violenta de Paris, e por ter perdido o pai cedo, aos 11 anos, tenha se transformado em uma pessoa com o pé atrás com todos. Os nãos que recebeu no início da carreira também não ajudaram com certeza.

 Do Suresnes ele foi, ainda na base, ao Boulogne, clube que chegou à terceira divisão francesa, onde se profissionalizou. Ali chamou a atenção de olheiros do Caen, este, sim, um clube de primeira divisão, que se assustaram ao saber que ele já havia sido rejeitado... pelo próprio Caen.

Foi uma das revelações da primeira divisão em 2013/2014 e, em 2015, foi parar Leicester City, clube de pequeno porte da Inglaterra, que apostou no volante baixinho para formar o meio de campo do time que surpreenderia a Inglaterra e seria campeão inglês batendo os milionários Manchester United, Manchester City, Arsenal, Liverpool e Chelsea. Foi este último que abriu o cofre para levar Kanté, em 2016.

Com seus 1,68m, é um dos mais baixos da Copa. Somente três atletas que foram inscritos mediam menos: o argentino Salvio (1,67m), o mexicano Guardado (1,67m) e o saudita Al Shehri (1,66m). Pergunte, porém, a Messi se foi fácil dormir depois de ser marcado por Kanté na eliminação da Argentina para a França, nas oitavas de final da Copa.

Nesta terça, contra a Bélgica, ele deverá se posicionar perto de Hazard. Azar do belga.

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