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Copa 2018

Sem ídolo belga, Hazard torceu pela França e por Zidane antes de ser craque

Eden Hazard (à direita) com os irmãos quando criança: ele adorava a França - Arquivo Pessoal
Eden Hazard (à direita) com os irmãos quando criança: ele adorava a França Imagem: Arquivo Pessoal

Dassler Marques, Marcel Rizzo e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Petersburgo (Rússia)

10/07/2018 04h00

A primeira Copa do Mundo da qual Eden Hazard se lembra é 1998. Ele tinha somente sete anos quando Zidane fez dois gols de cabeça sobre o Brasil e deu o primeiro título mundial aos franceses. Em um período muito diferente ao atual, de sucesso da Bélgica no futebol, se ressentia de ídolos locais e, naquele momento, não teve dúvidas para qual seleção iria torcer com seus três irmãos.

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Nesta terça-feira, em São Petersburgo, uma mistura de emoções deve tomar conta do atacante de maior sucesso da Bélgica nos últimos anos. Hazard lidera seu país em uma semifinal inédita desde 1986 justamente diante da França de Zidane para a qual escolheu torcer e foi responsável também pela maior parte de sua formação como jogador.

“Meus irmãos e eu sempre fomos mais torcedores da França que da Bélgica, porque crescemos com aquilo de 1998”, lembrou Hazard em entrevista recente. “Naquele momento, não existia o uniforme da Bélgica. É por isso que sempre usamos um da França”, explicou ainda sobre a foto que se espalhou na internet e que mostra Eden com uma camisa 10 azul.

Hazard teve o cuidado de não ofender as gerações que vestiram o uniforme belga entre o fim da era Scifo, que guiou a Bélgica até a semi de 86, a liderada por ele e outros jogadores de destaque nos últimos anos. “Não quero denegrir o time belga daquele momento, eram jogadores muito bons, mas naquele momento eu era França”.

Em um país de diversas etnias e idiomas, Hazard teve mais razões para adotar a França. Ele cresceu em Braine-le-Comte, região da Bélgica onde a língua predominante é o francês. A paixão pelo futebol também ocorreu de forma natural, já que os pais Thierry e Carine foram jogadores profissionais em ligas belgas. Aos quatro anos, ele já dava os primeiros passos com a bola em um pequeno clube. E para a família, morar próximo a um campo onde os meninos pudessem praticar era critério fundamental.

O crescimento como jogador veio na França

Hazard foi campeão francês como destaque do Lille, clube em que cresceu - /Vincent Kessler/Reuters - /Vincent Kessler/Reuters
Hazard foi campeão francês como destaque do Lille, clube em que cresceu
Imagem: /Vincent Kessler/Reuters

Com esse tipo de envolvimento, as coisas aconteceram da melhor forma que o menino poderia imaginar. Aos 14 anos, Eden e seu pai aceitaram um convite do Lille, que o viram em ação durante um torneio para garotos na Bélgica. O convite para jogar no norte da França foi aceito e permitiu que Hazard crescesse em um clube com tradição em revelar jogadores e em um país melhor estruturado naquele momento.

“Eles permaneceram perto de casa e, ao mesmo tempo, foram integrados a estruturas em que eles puderam crescer, porque na Bélgica, infelizmente, é um pouco vazio em treinamentos para os jovens”, disse o pai Thierry em entrevista.

Antes de ser rival em semifinal de Copa e depois de ser a seleção da infância de Hazard, a França foi o berço para seu crescimento como jogador. Foram sete anos no Lille, sendo quatro como profissional da equipe principal. Pela associação de atletas franceses, em três anos, foi duas vezes eleito o melhor jogador jovem e duas vezes o melhor jogador do país. Comandou o modesto time ao título nacional antes de ser vendido ao Chelsea por 32 milhões de libras.

"O Hazard é um dos três melhores jogadores com que joguei na minha carreira. Eu o considero quase um francês”, brincou Giroud, colega de equipe e rival na semifinal. “Temos uma ótima convivência no Chelsea, nos entendemos bem, nos divertimos. Tem uma capacidade enorme de criação no meio de campo, de romper as linhas", descreveu.

Se faltavam ídolos em 1998, hoje isso deixou de ser problema. Entre os vários talentos belgas, Hazard se destaca pela faixa de capitão que carrega na seleção, pelo sucesso no futebol inglês, pelos 24 gols e também pelos dribles.

Contra o Brasil, nas quartas de final, ele acertou 10 em 10 tentativas e quebrou um recorde recente das Copas com Fagner como sua maior vítima. Sinal de que o apelido que deu a si mesmo em homenagem a Ronaldinho (Hazardinho), caiu muito bem. 

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