Defesa ganha título? Como um clichê do esporte explica a França na Copa
“Ataque ganha jogos. Defesa ganha títulos”. A frase é um clichê do esporte, utilizada de forma motivacional, seja por técnicos ou por gurus de autoajuda para exemplificar mentalidades vencedoras. Aplicada à Copa do Mundo da Rússia, a expressão poderia muito bem se encaixar no estilo de jogo que a França aposta para chegar ao título – a final contra a Croácia será neste domingo (15), às 12h (de Brasília), em Moscou.
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Embora tenha um grande potencial ofensivo, com Griezmann e Mbappé como principais armas, passa pelo setor defensivo o equilíbrio que a equipe treinada por Didier Deschamps tenta impor para surpreender adversários. Entre as semifinalistas deste Mundial, a França foi a que menos sofreu gols: quatro. Em seis partidas, o goleiro Lloris deixou o campo sem ser vazado em quatro ocasiões.
O empenho quase obsessivo em saber se defender persegue Deschamps desde os tempos de jogador. Volante com passagens por Juventus e Olympique de Marselha e capitão da seleção francesa campeã mundial em 1998, ele era chamado de "The Water Carrier", que poderia ser traduzido para o português como “Carregador de Piano”.
“Você pode encontrar jogadores como Deschamps em cada esquina. Ele sobrevive porque sempre se doa 100%”, explicou o ex-atacante francês Eric Cantona, que deu o apelido ao compatriota.
A França atual se apoia num trabalho orquestrado de cerco ao adversário quando não se tem a bola. Tudo começa com o atacante Giroud, o camisa 9 que não fez gol nesta Copa, mas é o segundo da seleção francesa que mais cometeu faltas no Mundial (11), uma a mais do que o meia Pogba, de habilidade inegável, mas peça importante na marcação à frente da linha de defesa. O terceiro mais faltoso do time é outro meia, Matuidi, com dez.
O trio diminui os espaços para que entre em ação o guardião da defesa francesa: Kanté. O volante do Chelsea é o jogador que mais desarmou rivais (15 vezes, com eficiência de 93,8%) e interceptou bolas (24) nesta Copa. Desmontar o ataque adversário foi fundamental na vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai, nas quartas de final, em que os europeus acertaram os 12 desarmes que tentaram sobre o ataque sul-americano.
As opções de Deschamps para as laterais também passam pela proteção. Com Pavard pela direita e Hernandez pela esquerda, a seleção ganhou mais equilíbrio defensivo em relação às escalações de Sidibe e Mendy pelos lados.
Ponto forte em toda a competição, a zaga foi ainda mais determinante na semifinal contra a Bélgica. Diante de um rival que manteve 64% de posse e forçou as bolas alçadas na área, a França cortou 24 cruzamentos, 13 deles com Varane e Umtiti, para chegar à final.
A dupla também fez a diferença marcando gols. Varane abriu o caminho para o triunfo contra os uruguaios, enquanto Umtiti garantiu de cabeça a vitória por 1 a 0 sobre os belgas. Neste caso, a melhor defesa foi o ataque.
"Do ponto de vista defensivo, quando se tem Kanté, que controla a bola, é algo que nos ajuda. Também Pogba, fisicamente, nos ajuda muito. Mas é toda uma equipe que faz os esforços. É positivo. Eles nos ajudam a levar poucos gols", analisou Umtiti, jogador de 24 anos do Barcelona.
Defesa ajuda a ganhar títulos, mas não basta
O retrospecto da França na Copa da Rússia ajuda a reforçar a tese, mas priorizar a defesa para ser campeão não é uma regra exata nem deturpada. Dezenas de levantamentos realizados nas ligas esportivas dos Estados Unidos mostram que os níveis de eficiência dos setores defensivo e ofensivo se equiparam nas equipes vencedoras.
Tem origem norte-americana, aliás, a frase que abre essa reportagem. A autoria é creditada a Bear Bryant, técnico seis vezes campeão nacional universitário de futebol americano com o time de Alabama entre as décadas de 1960 e 1970, que disse: “Offense sells tickets, but defense wins championships” (“Ataque vende ingressos, mas defesa ganha títulos”).
Com o passar dos anos, a frase foi incorporada aos discursos motivacionais do esporte e já foi atribuída, com variações de uma ou outra palavra, a ícones como Michael Jordan e Phil Jackson, técnico 11 vezes campeão da NBA.
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