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Copa 2018

Vale algo? Criticada, disputa por 3º tem muitos gols e é rentável para Fifa

Holandeses Robben e De Vrij saíram da Copa de 2014 com a medalha de bronze - REUTERS/Dominic Ebenbichler
Holandeses Robben e De Vrij saíram da Copa de 2014 com a medalha de bronze Imagem: REUTERS/Dominic Ebenbichler

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

13/07/2018 04h00

A disputa pelo terceiro lugar há muito tempo é tema de discussão na Copa do Mundo. De um lado está a decepção de não estar na final, de outro a chance de deixar boa imagem após eliminação. Não à toa, ao longo da história a partida já foi motivo de orgulho e alvo de críticas. Entre o sofrimento prolongado e a chance de levar uma medalha, Bélgica e Inglaterra se despedem do Mundial de 2018 em jogo que vale medalha neste sábado (14).

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A partida foi introduzida pela primeira vez na Copa em 1934, na Itália. Os alemães venceram a Áustria, algo que então foi bastante comemorado. O simbolismo do terceiro lugar foi grande por muito tempo, período em que ainda era tratado como honroso e não como apenas ‘um dos perdedores’. Atualmente tem valor esportivo discutível, mas é valorizado pela Fifa, que lucra com a exposição de seus patrocinadores, a atenção reunida em uma semana de Copa com poucos jogos e principalmente com a venda de ingressos – no Brasil x Holanda de 2014, por exemplo, havia 68 mil pessoas no Estádio Mané Garrincha.

A seleção brasileira já esteve envolvida nesta disputa em quatro oportunidades. Em 1938, o Brasil foi terceiro ao bater a Suécia com grande atuação de Leônidas, que dias antes havia ficado fora da semifinal contra a Itália por lesão – o que foi apontado como motivo principal do fracasso. Depois, em 1974, a seleção foi eliminada levando um baile da Holanda e reagiu mal: no jogo pelo terceiro lugar, o desequilíbrio do grupo ficou claro em uma discussão acintosa entre o goleiro Emerson Leão e o lateral Marinho Chagas. Não deu outra, novo revés, por 1 a 0 para a Polônia de Lato e cia.

Em 1974, Lato (à esq.) fez o gol da vitória polonesa sobre o Brasil de Marinho Chagas (á dir.) - Reprodução - Reprodução
Em 1974, Lato (à esq.) fez o gol da vitória polonesa sobre o Brasil de Marinho Chagas (á dir.)
Imagem: Reprodução

A seleção canarinho voltou à disputa pelo terceiro lugar quatro anos depois, em uma Copa para lá de polêmica na Argentina. O Brasil acabou eliminado por uma combinação de resultados que à época cheirou a armação para beneficiar a seleção da casa. Após sua equipe bater a Itália e despedir-se do Mundial invicta, o técnico Claudio Coutinho disse frase célebre. “Somos os campeões morais da Copa”, afirmou. O time foi recebido com festa ao voltar para casa.

Na participação mais recente, na última Copa do Mundo, a seleção chegou à partida emocionalmente devastada quatro dias após o 7 a 1 sofrido na semifinal. Tanto que cometeu um pênalti com um minuto e meio de jogo e acabou derrotada pela Holanda por 3 a 0.

O confronto em questão ampliou a crise na seleção brasileira e também não amenizou a eliminação holandesa, que na semifinal havia caído nos pênaltis. O próprio técnico Louis Van Gaal havia dito na véspera da partida que “este jogo nunca deveria ser jogado” porque expõe as seleções. “Em qualquer torneio não se deveria ter que passar por isso. Só há um prêmio, que é a taça”.

Estádio Mané Garrincha, em 2014 - REUTERS/Ruben Sprich - REUTERS/Ruben Sprich
Há quatro anos, confronto pela medalha de bronze encheu o estádio apenas quatro dias após o 7 a 1
Imagem: REUTERS/Ruben Sprich
Luiz Felipe Scolari tem opinião parecida. Antes da Copa de 2014, ele já tinha passado pela disputa do terceiro lugar no Mundial de 2006, com Portugal. Na época, mostrou descontentamento com o compromisso. “Este jogo representa sofrimento, não é um jogo que você está feliz em disputar”, falou, alegando ser “muito difícil motivar os jogadores” neste tipo de partida. Não à toa a seleção portuguesa foi atropelada em 2006 pela Alemanha, que com o terceiro lugar deu fim honroso ao Mundial que sediou.

Ao longo da história, os jogos pelo terceiro lugar têm sido movimentados. Em 19 partidas (não houve tal disputa em 1930 e 1950), foram 71 gols, com média de 3,73 gols por jogo. A média da final é de 3,55 gols, mas é sustentada essencialmente por Copas antigas, tanto que a última decisão com três ou mais gols foi ainda em 1998 – já entre as partidas da medalha de bronze, a última com menos de três gols foi há 44 anos. No geral, portanto, a partida da medalha de bronze funciona como uma ‘preliminar’ da final da Copa, que naturalmente é muito mais aguardada.

Tradição na Copa do Mundo, a disputa pelo terceiro lugar é menos popular no âmbito continental. A Eurocopa aboliu a partida ainda nos anos 80, enquanto a Copa Ouro da Concacaf e a Copa da Ásia seguiram o exemplo recentemente. Já a Copa América e a Copa das Nações Africanas mantêm a disputa, quase sempre na véspera da final.

Neste sábado, Bélgica e Inglaterra se enfrentam às 11 horas (de Brasília), no estádio de São Petersburgo. Se esportivamente não houver grande inspiração pela vitória, financeiramente há. A premiação paga pela Fifa ao terceiro colocado deste Mundial é R$ 8 milhões maior que a do quarto (R$ 93 mi contra R$ 85 mi).

Belgica e Inglaterra - Marko Djurica/Reuters - Marko Djurica/Reuters
Na primeira fase, a Bélgica venceu a Inglaterra em um jogo de pouca emoção e reservas em campo
Imagem: Marko Djurica/Reuters

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