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Copa 2018

Duas horas pareciam 20: Tricampeão lembra tensão antes de uma final de Copa

Jogadores da seleção brasileira posam para a foto durante Copa de 1970. Clodoaldo é o primeiro à direita do goleiro Félix - Divulgação/CBF
Jogadores da seleção brasileira posam para a foto durante Copa de 1970. Clodoaldo é o primeiro à direita do goleiro Félix Imagem: Divulgação/CBF

Clodoaldo, campeão do mundo em 1970

Em depoimento para o UOL Esporte

15/07/2018 04h00

Antes dos jogos, o Pelé sempre fazia a mesma coisa. Ele dobrava a camiseta e colocava embaixo da cabeça como se fosse um travesseiro e deitava. Dali em diante, ninguém mais fala com ele. Era sempre o mesmo ritual, em todos os jogos.

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Eu não tinha um ritual específico. Chegava ao vestiário, recebia o material e ficava sentado. Minha cabeça já ia pensando em tudo que tinha para fazer em campo. Não costumava ficar nervoso antes de jogos assim. Acho que me acostumei por ter começado a carreira na maior equipe do mundo, que era o Santos. Isso me fazia pensar: “pô, jogo no melhor time do mundo, jogo na seleção brasileira. Não tem motivo para ficar com medo”.

O único momento em que fiquei nervoso foi na noite anterior à Final da Copa de 70, contra a Itália. Eu era muito jovem, tinha 20 anos, e dei sorte de ficar no mesmo quarto do Carlos Alberto Torres, que era o capitão da nossa equipe.

Aquela noite foi longa, muito longa. Ficamos conversando até altas horas. O Capita estava com a corda toda. Ele ficava falando “vamos ganhar, pô, vamos ganhar!”. Eu até cheguei a retrucar: “não é fácil, Capita, é uma final com a Itália, é um baita time”.

“Nosso time é melhor, vamos arrebentar com eles amanhã”, ele respondia. Então está bom, né. Se o Capita está falando, vamos ganhar mesmo. Quando acordei de manhã, já estava tudo normal. A fome no café da manhã era a mesma e a batucada no ônibus também.

Como eu não era do samba, eu só ficava escutando. O Jairzinho, o Brito, o Paulo Cézar e o Edu que eram os caras que comandavam a batucada. A gente teve essa rotina em todos os jogos, não podia quebrar na final, né?

Chegamos no estádio faltando duas horas para a partida, mas pareciam 20. Uma eternidade, não passava nunca.

Mas o alto-astral da equipe estava lá em cima. A preleção do Zagallo foi maravilhosa, motivadora para caramba. Ele falou do orgulho do país, da garra que nós tínhamos que ter. Foi uma coisa sensacional, de arrepiar.

Quando subimos para ouvir o hino nacional, nossa... Você viaja, sua cabeça sai daquele lugar e você começa a pensar que seu país inteiro está com os olhares voltado para você. Aquele momento é de arrepiar...

*Em depoimento a Brunno Carvalho, do UOL, em São Paulo

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