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Após empréstimo, Bruno Collaço dá volta por cima: "Nunca desisti do Grêmio"

Bruno Collaço chegou no Grêmio com 9 anos, foi emprestado, mas nunca desistiu  - Bruno Junqueira/TXT Assessoria
Bruno Collaço chegou no Grêmio com 9 anos, foi emprestado, mas nunca desistiu Imagem: Bruno Junqueira/TXT Assessoria

Carmelito Bifano e Marinho Saldanha

Em Porto Alegre

08/02/2011 07h00

Quando criança, todo garoto pensa em ser jogador de futebol. Para atingir este objetivo o pretendente a craque procura primeiro seu clube do coração. A história que pode ser familiar a muitos jovens é o enredo inicial da carreira de Bruno Collaço. Em 1999, com apenas 9 anos, ele teve a chance de deixar a escolinha em que atuava em Sapucaia do Sul e passar por testes no Grêmio. Pelas mãos de Dona Angelica, sua mãe, o menino deu seus primeiros passos no esporte.

As dificuldades financeiras, a distância entre sua cidade e os treinamentos do Grêmio, os problemas normais de adaptação, nada o fez desistir do sonho de jogar no time tricolor. Desde pequeno, Collaço adotou o que seria seu lema anos mais tarde, no profissional: nunca desistir do Grêmio.

A primeira oportunidade no time principal ocorreu em 2009, mas não houve sequência. No ano seguinte as oportunidades, antes abundantes, acabaram. A única alternativa era deixar seu clube predileto. "Só fui jogar na Ponte Preta porque não havia outra saída. Mas queria buscar meu espaço para voltar e jogar aqui", explicou. De volta depois de seis meses, com status de melhor lateral-esquerdo da última Série B, ele conquistou Renato Gaúcho e um lugar no coração da torcida.

Próximo ao Cristal - onde treinava com as escolinhas do Grêmio - Bruno Collaço reside com sua esposa. Casado há dois meses, o jovem de apenas 20 anos ainda comemora o gol no clássico Gre-Nal que abriu de vez as portas no time. Recebendo a reportagem do UOL Esporte em seu apartamento, Bruno contou como o lado torcedor e a identificação com o clube podem ser importantes para seguir conquistando seu espaço. Com mais de 50% de sua vida dedicada ao clube, ele colhe agora os frutos do empenho desde sua chegada.

  • Neco Varella/Agência Freelancer

Collaço: 11 anos de Grêmio

  • Arquivo Pessoal
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UOL Esporte: Como foi o começo da tua carreira? Você chegou a tentar entrar em outro clube sem ser o Grêmio?
Bruno Collaço: Comecei com seis anos na escolinha em Sapucaia do Sul, mas sempre pensava em jogar no Grêmio. Sou gremista desde pequeno e sempre pensei em jogar no Grêmio. Com nove anos apareceu a oportunidade de fazer o teste no clube. Na sede do Cristal (zona Sul de Porto Alegre). Eu vim e fui aprovado. Minha mãe me trazia e me levava de trem (Trensurb, sistema de metrô que liga Porto Alegre as cidades da região metropolitana). Desde lá nunca me passou pela cabeça de fazer teste em outros clubes. Sempre a prioridade foi o Grêmio.

UOL Esporte: Como surgiu a oportunidade de fazer o teste no Grêmio?
Bruno Collaço: Um cônsul (representante oficial do clube na cidade) do Grêmio em Sapucaia que acompanhava os jogos da escolinha que eu jogava. Tinha uma amizade com o meu pai e me conhecia desde pequeno. Como nasci em 90, todo o ano formava a categoria no Grêmio. No ano que formou a minha categoria, ele acabou me trazendo. Entre todos que começaram jogando comigo, eu fui o único que chegou ao profissional. O resto do pessoal acabou trocando de clube ou não chegou.

UOL Esporte: Quais foram as dificuldades no começo de carreira?
Bruno Collaço: Tive bastante incentivo dos meus pais e isso foi essencial. Tinha que pegar um trem e um ônibus para ir até a sede do Cristal (zona sul de Porto Alegre) e voltar para Sapucaia. Como era pequeno, minha mãe me trazia e fica o treino todo comigo. Com chuva, sol, frio e calor. Hoje em dia agradeço à Deus eles terem me dado esta força, se não fossem eles com certeza não iria conseguir.

 

Fábio Barriel/Freelancer
Eu não sei. Me pergunto até hoje. Acho que foi opção do treinador (Silas). De optar por características diferentes. Eu não sei. Muita gente me perguntou isso e até hoje eu não entendo.

Bruno Collaço, lateral-esquerdo do Grêmio

UOL Esporte: Você teve alguma dificuldade no caminho até o profissional? Alguma lesão séria?
Bruno Collaço: Graças a Deus posso falar que eu nunca passei pelo Departamento Médico. Quando eu falo, ninguém acredita, mas é verdade. Desde os nove anos nunca fui para o DM. Dificuldades são aquelas. Dinheiro apertado. Ter que economizar aqui e ali para poder pagar as passagens. Às vezes, meu pai se apertava um pouquinho para comprar uma chuteira. Tudo isso aconteceu, mas na questão de lesão nunca aconteceu nada.

UOL Esporte: A estreia entre os profissionais foi em 2009? Você estava pronto para estrear?
Bruno Collaço: A minha estreia foi contra o Barueri, em São Paulo, e o segundo jogo foi contra o Flamengo no Olímpico. Com certeza, estou melhor preparado agora. Em 2009, estava bem tranquilo e preparado. Joguei quase todo o segundo semestre. O que aconteceu foi no ano passado, quando tive um pouco de falta de oportunidade e sequência de jogos. Isso que friso bem quando dou entrevistas. O que aconteceu em 2009, quando fiz bons jogos, está acontecendo agora de novo. Estou tendo sequência e jogando quase todos os jogos. Isso é essencial para a minha evolução.

UOL Esporte: Porque você acha que teve poucas oportunidades em 2010?
Bruno Collaço: Eu não sei. Me pergunto até hoje. Acho que foi opção do treinador (Silas). De optar por características diferentes. Eu não sei. Muita gente me perguntou isso e até hoje eu não entendo. Não guardo mágoa de ninguém. Pelo contrário, ele sempre me tratou muito bem. Mas em relação dele me colocar para jogar ou não, até hoje buscou essa resposta.

Neco Varella/Freelancer
Cresci no Grêmio. Me criei treinando aqui. Quando fui para a Ponte Preta, meu objetivo era de jogar bem lá e voltar. Agora, jogando a Libertadores, é a realização de um sonho. Olímpico lotado. A torcida gritou o meu nome. Nunca desisti de jogar no Grêmio.

Bruno Collaço, lateral-esquerdo do Grêmio

UOL Esporte: Você acredita que teve uma queda de rendimento naquela época?
Bruno Collaço: Não. Acho que o rendimento foi o mesmo de sempre. Treino sempre dando a vida. Todo mundo, não só eu. A gente sabe que para se manter no grupo, temos que dar a vida nos treinos. Na questão de rendimento, não. Claro, meu rendimento melhorou (em 2009) pela sequência de jogos, mas no treino sempre foi a mesma coisa.

UOL Esporte: Mesmo quando estava na Ponte Preta seguia sonhando em ser titular do Grêmio?
Bruno Collaço: Sim porque é um sonho desde pequeno. Cresci no Grêmio. Me criei treinando aqui. Quando fui para a Ponte Preta, meu objetivo era de jogar bem lá e voltar. Para ter mais sequência e atuar em mais oportunidades. Agora, jogando a Libertadores, é a realização de um sonho. Olímpico lotado. A torcida gritou o meu nome no último jogo. Então, é a realização de um sonho. Nunca desisti de jogar no Grêmio. Sempre persisti, ainda mais quando fui para a Ponte Preta. Pensei em jogar bem lá para voltar para o Grêmio e ser titular.

UOL Esporte: Doeu muito sair do Grêmio e ir jogar na Ponte Preta?
Bruno Collaço: Naquele momento, eu vi que eu precisava sair. Para buscar mais ritmo de jogo. Claro, meu desejo era de ficar, mas vi que não tinha outro jeito. Vi que ia ser bom para mim, para pegar mais ritmo de jogo e mais experiência. Mas sempre pensando em voltar. Nunca pensando em me desligar do Grêmio. Graças à Deus, foi o que aconteceu. Fui bem lá e acabei voltando.

UOL Esporte: O Grêmio não pretende contratar um novo lateral-esquerdo como você vê essa decisão?
Bruno Collaço: Estou mais feliz. Mais tranquilo. Todo mundo me perguntava se eu achava que precisava a contratação de um novo lateral e eu dizia que não precisava. Estava defendendo o meu lado. (risos) Acho que está adiantando, principalmente, pelos bons jogos. Pelo trabalho bem feito. Está sendo muito bom para mim e estou muito feliz

Nabor Goulart/Freelancer
Aquele foi um momento complicado. Depois daquele lance, a gente analisou o vídeo e teve uma sequência de vários erros naquela jogada. A bola sai desde lá do meio, veio em direção a área. Claro, errei o tempo da bola, mas foi mais uma falha de comunicação do pessoal que estava em campo

Bruno Collaço, lateral-esquerdo do Grêmio

UOL Esporte: O teu pior momento foi contra o Corinthians?
Bruno Collaço: Foi. Aquele foi um momento complicado. Depois daquele lance, a gente analisou o vídeo e teve uma sequência de vários erros naquela jogada. A bola sai desde lá do meio, veio em direção a área. Claro, errei o tempo da bola, mas foi mais uma falha de comunicação do pessoal que estava em campo. Foi um momento difícil, complicado,  mas depois passou. Duas semanas depois teve jogo contra o Flamengo e contra o Palmeiras, que eu fui muito bem também. Isso acontece. Faz parte.

UOL Esporte: O melhor momento foi o gol no Gre-Nal? Qual foi a primeira imagem que passou na tua cabeça?
Bruno Collaço: Passou um filme. Passou tudo. Desde de pequeno treinando no Cristal. Os momentos difíceis que passei. É a realização de um sonho. Durante muito tempo sonhei com esse gol. Na Ponte Preta, fiz dois gols de falta. Aqui no Grêmio faltava eu marcar um gol. Quando vou fazer esse gol? Nenhum jogo melhor para acontecer do que em um Gre-Nal. O clássico ou leva para o céu, ou leva para o inferno. Numa semana pode decidir muita coisa. Para mim, foi um sonho realizado e fiquei muito feliz mesmo.

UOL Esporte: Chegou a passar pela cabeça como seria a rivalidade que tu vive com os amigos e parentes que torcem pelo Inter?
Bruno Collaço: Com certeza. Desde menino via os Gre-Nais pegarem fogo. Passou tudo pela minha cabeça. A minha família que estava torcendo por mim. Claro que tem uns torcedores do Inter que ficam incomodando, caso nós perdêssemos o jogo. Pensei neles também (risos). Fiquei muito feliz. Pensei também na minha esposa, que estava em casa e que depois me disse que chorou na hora do gol.

UOL Esporte: Qual é o lateral que você se espelha?
Bruno Collaço: Sem dúvida, o meu grande ídolo é o Roberto. Mas um que passou pelo Grêmio, e estou tendo a sorte de trabalhar agora, é o Roger. Ele está me ajudando bastante. Me passando várias dicas de posicionamento e de jogo. Ele é uma grande pessoa. Estou tendo a sorte de trabalhar com ele e isso está me ajudando bastante