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Wilson Mano diz que Neto não corria: "ele só dava carrinho para fazer média com a torcida"

Wilson Mano (e), Paulo Sérgio e Biro-Biro durante evento do Corinthians em 2006 - Mário Ângelo/Folha Imagem
Wilson Mano (e), Paulo Sérgio e Biro-Biro durante evento do Corinthians em 2006 Imagem: Mário Ângelo/Folha Imagem

Renan Prates

Em São Paulo

16/06/2011 07h00

Um dos ícones de polivalência no Corinthians na década de 1990, Wilson Mano tem muitas histórias para contar sobre sua passagem pelo clube. Uma delas é a respeito do seu parceiro Neto. Hoje dono de um posto de gasolina na cidade de Bariri (SP) e com 47 anos, ele relembrou o sedentarismo do colega de equipe e explicou o porquê de ele ter ‘rachado’ o grupo em 1991, um ano depois da inédita conquista do Campeonato Brasileiro.

MÃO NO PESCOÇO DE MARCELINHO

  • Folha Imagem/Arquivo

    Wilson Mano relembrou um episódio dos bastidores do Corinthians que pouca gente conhece. Segundo o ex-jogador, houve uma discussão com Marcelinho Carioca em que ele se descontrolou. "Em 94 teve um jogo que eu acabei falhando, ele reclamou e eu acabei pegando no pescoço dele no vestiário. Depois ele pediu desculpa, pois viu que errou".

    Mano disse que o episódio foi esclarecido e que os dois são amigos hoje em dia. "Fui treinador do Mixto-MT e tentei levar ele para lá. Só não levei porque ele quis ganhar mais".

Segundo Wilson Mano, o técnico Nelsinho Baptista decidiu que iria colocar Neto isolado na frente, sem ter a obrigação de marcar. Em contrapartida, caberia a ele a missão de ser o ‘homem-gol’ do Corinthians.

“Para ele foi ótimo, pois como meia teria que acompanhar o volante. Como não tinha condição física, só jogava no ataque. De vez em quando vinha fazer média e dar carrinho só para a torcida gritar”, disse ao UOL Esporte.

Só que a estratégia caiu por terra quando Neto atravessou um mau momento técnico em 1991, e os jogadores do Corinthians passaram a questionar os seus privilégios. “Em 90, que ele estava em estado de graça, o grupo todo aceitou isso, com exceção de um ou outro que ficou com o nariz torcido. Em 91 começou a Libertadores e o Brasileiro, e aí ele, além de não correr, pegou uma fase ruim e o grupo começou a chiar, dizer que era f... começar sempre com um jogador a menos. É aquele velho ditado: quando o filho fica rico, todo mundo quer ser pai”.

Mas Wilson Mano estava entre os que apoiaram a iniciativa de que Neto deveria ficar na frente e não ajudar na marcação. “Tem que entender que se falasse que o Paulo Sérgio não iria correr eu iria brigar, pois o homem corria pra caramba”.

BOICOTADO POR PARREIRA NA SELEÇÃO

  • Antonio Gaudério/Folhapress

    Wilson Mano teve uma breve, porém inesquecível para ele, passagem na seleção brasileira. Ele foi convocado para dois amistosos em 1992 (EUA e Finlândia) e atuou por volta de cinco minutos com a camisa amarelinha. Mas a história que ele ficou magoado é justamente a da não convocação do então técnico Parreira no jogo contra a Argentina.

    "O Parreira mandou me chamar dentro do avião e disse: acompanho a sua carreira há muito tempo, você nunca teve oportunidade de jogar. Esse jogo contra a Argentina vai ser sua oportunidade. Você vai ter que provar se tem condição ou não de seguir. Para minha surpresa, nem convocado fui".

Wilson Mano e Neto foram dois dos principais nomes da conquista do título brasileiro de 1990, que ficou marcado na história dos torcedores do Corinthians por ter sido o primeiro (de um total de quatro). Hoje, os dois são amigos, e reeditam a parceria nos jogos do time corintiano de masters.

Mas a amizade de hoje não impede Mano de ‘cornetar’ o ídolo corintiano e seu preparo físico ruim da época. “Ele era um jogador sedentário, não era culpa dele, e sim do condicionamento físico que ele tinha...o Neto não era preguiçoso, mas o biotipo não permitia que ele fizesse uma caminhada para acompanhar a gente. No linear, enquanto a gente fazia 12 km o dele era de 5, 6 km/h no máximo”.

Neto conhecia as suas fracas condições físicas e por isso focava os treinos no que mais sabia fazer e o que o consagrou: cobrar faltas. “Ele pegava um saco com 20 bolas, botava barreira, pegava o terceiro ou o quarto goleiro, ficava batendo falta, todo dia aperfeiçoava bem. O que ele não tinha na parte física, compensava na parte técnica”.

Mano revelou outra característica curiosa de Neto na época: a sorte que ele tinha na hora de balançar as redes. “Era um jogador largo. Estava sempre na área, a bola sobrava e ele fazia”, brincou. “Sempre zoei com ele pra caramba. Ele falava: sou f... mesmo, que se f... corre aí que eu penso [risos]”.

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‘Esquecido’ pelos torcedores

NA ÉPOCA DO TECO-TECO

Divulgação/TV Record
Vou falar uma coisa para você. Sempre teve maria chuteira. Na nossa época, 90% era feia que ia atrás da gente. Não é igual a hoje não, que tem o Dentinho saindo com a Mulher Samambaia. Hoje é só avião, na nossa época era teco-teco

“Dificilmente [é reconhecido]. Vou ao shopping, ando, como, bebo, e de vez em quando 1% das vezes aparece um cara e pergunta: você é o Wilson Mano, né? Mas só isso. Não tem mais aquele negócio. Às vezes no interior, talvez pela divulgação do masters do Corinthians, os mais velhos vem, tiram fotos, explicam para os filhos que eu joguei no Corinthians”.

Marias chuteiras mais feias

“Vou falar uma coisa para você. Sempre teve maria chuteira. Na nossa época, 90% era feia, que ia atrás da gente. Não é igual a hoje não, que tem o Dentinho saindo com a Mulher Samambaia. Hoje é só avião, na nossa época era teco-teco”.

“Titularíssimo” no Corinthians de Tite

“Acredito que com certeza absoluta [seria titular]. Joguei muito tempo de lateral, segundo volante, várias vezes de quarto zagueiro. Seria tranquilíssimo ser titular do Corinthians em qualquer uma dessas três posições”.

Longe do futebol

“Trabalhei como treinador até o início do ano retrasado, depois parei. Faz dois anos que não estou mais. Dei uma parada, até porque andei rodando dez anos pelo Brasil afora e não teve oportunidade de aparecer coisa melhor. Quero continuar trabalhando, mas se aparecer coisa boa em São Paulo. Pode ser até em outro Estado. Mas você parado dificilmente vai aparecer”.