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Clebão diz que Luxa e Felipão seguraram egos do Palmeiras na década de 90

Apesar de jogar por outros times, Clebão teve suas principais conquistas no Palmeiras - Arquivo
Apesar de jogar por outros times, Clebão teve suas principais conquistas no Palmeiras Imagem: Arquivo

Paula Almeida

Em São Paulo

28/06/2011 07h01

Juntar um punhado de astros e achar que isso será suficiente para conquistar títulos já se mostrou uma tática furada no futebol. Os ‘galácticos’ do Real Madrid, o ‘melhor ataque do mundo’ do Flamengo, a seleção brasileira de 2006 são algumas provas disso. Mas houve uma equipe repleta de grandes jogadores que conseguiu contrariar esta regra e fez história em uma das fases mais gloriosas do Palmeiras. Cléber, o gigante ex-zagueiro Clebão, estava lá, conquistou quase tudo que podia nos times da década de 90.

Mas hoje, com a mesma calma que demonstrava em campo, o agora técnico lembra: aquele grupo tinha tudo para dar errado, não fosse o pulso forte de Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari.

OS CLUBES DE CLEBÃO

COMO JOGADOR: Atlético-MG, Logronés (ESP), Palmeiras, Cruzeiro, Santos, Yverdon (SUI), Figueirense e São Caetano.
COMO TÉCNICO: Rio Claro (SP), Metropolitano (SC) e Araxá (MG).

Titular absoluto da defesa alviverde entre o segundo semestre de 1993 e o fim de 1999, Clebão não era um dos jogadores mais badalados do Palmeiras na ‘era Parmalat’, mas conviveu de perto com astros como Evair, Edmundo, César Sampaio, Paulo Nunes, Edílson, Müller, Viola, Luizão, Djalminha, Marcos e Arce, entre outros. E recorda que era difícil segurar o ego e a vaidade de tantas estrelas.

“Dentro de campo era maravilhoso, mas fora de campo o convívio não era tão harmonioso. Fora de campo, a gente não era o que a gente esperava e o que se necessita, não era uma família. Mas dentro do campo, era vibração, respeito, carinho, entrega”, declarou o ex-zagueiro em entrevista ao UOL Esporte, fazendo questão de atribuir a Luxa e Felipão o controle daquela equipe.

“A questão de vaidades é natural mesmo de um grupo, mas o Vanderlei e o Felipão tinham muita sabedoria para contornar essa situação. Se fosse outro técnico, não seguraria de maneira alguma. Eram atletas reconhecidos no Brasil e internacionalmente, seria muito difícil”.

De fato, naqueles seis anos de glória do Palmeiras, nenhum outro treinador conseguiu se firmar no clube nem levantar alguma taça. E passaram por lá Márcio Araújo, Carlos Alberto Silva, Sebastião Lapola e Valdir Espinoza.

FOTOS DE CLEBÃO NO PALMEIRAS

  • Eduardo Knapp/Folhapress

    Ao longo de seis anos no Palmeiras, Cléber jogou com astros badalados como Cafu, Luizão, Rivaldo e Djalminha (todos nesta foto de 1996)

  • Arquivo/Folhapress

    Em 1999, aquela geração conquistou o único título de Libertadores do Palmeiras, mas a vitória sobre o Corinthians nas quartas emocionou mais que a final

  • Arquivo/Folhapress

    Com Scolari, o Palmeiras deu sequência a uma fase de sucesso que havia se iniciado com Luxemburgo nos anos 1990, e Cleber estava lá

“O Vanderlei, e depois o Felipão, foram felizes na montagem dessa equipe. Esse foi o diferencial. Foi um trabalho de conjunto e esse era o objetivo, o foco, porque o Palmeiras estava na fila de Paulista e Brasileiro e nunca tinha conquistado a Libertadores. Foi um investimento muito alto”, completou.

Clebão participou da conquista de dois Paulistas (93 e 94), dois Brasileiros (93 e 94), uma Mercosul (98), uma Copa do Brasil (98) e uma Libertadores (99), além de outros torneios e amistosos internacionais.

De todas aquelas conquistas, embora o primeiro Estadual tenha tirado o Palmeiras de um jejum de quase 17 anos sem títulos, a Libertadores foi a mais comemorada. Mas apesar de levantar o troféu após uma final dramática contra o Deportivo Cáli, o time realmente se emocionou nas quartas de final. O motivo é muito simples. O eliminado da vez foi o arquirrival Corinthians, com direito a uma disputa de pênaltis inesquecível, com os erros de Dinei e Vampeta.

“Na minha opinião, os jogos mais difíceis foram contra o Vasco [nas oitavas] e contra o Corinthians, mais do que a final. Eu considero os dois jogos mais difíceis que eu fiz na minha carreira”, cravou Clebão, detalhando a comemoração no vestiário pela vitória contra o Corinthians.

“Foi muito choro, muita vibração, o Felipão abraçando todo mundo, Evair chorando, César Sampaio chorando, eu chorando. A gente viu ali que deu um grande passo rumo ao título. Fizemos uma oração de joelhos como nunca eu tinha visto”, contou. “Foi uma lembrança altamente positiva, que a gente vai levar pro resto das nossas vidas”.

Confira abaixo outros momentos da entrevista exclusiva com Clebão. O ex-jogador fala de sua atual fase de treinador, as poucas amizades que guarda dos tempos de boleiro e os motivos especulados para ele não ter disputado as Copas do Mundo de 1994 e 1998.

Derrota no Mundial de Clubes de 1999

“Foi muito triste perder o Mundial, porque por mais que o Palmeiras tenha tido tantas oportunidades, o Manchester chegou só duas vezes e fez um gol. Mas nos saímos de cabeça erguida”.

Ausência na Copa de 1994

“Pelo que falam, o Moraci [Sant’anna, preparador físico da seleção] tinha mais contato com o Ronaldão. Todo mundo esperava que eu fosse convocado. Na época da convocação, eu estava na Colômbia com o Palmeiras e recebi um telefonema do Mustafá [Contursi, então presidente do Palmeiras e chefe da delegação brasileira para a Copa] para eu não ir para Rússia, que eu seria convocado. Eu fiquei aguardando, e o Ronaldão que foi. Não sei se essa histórica é verídica, mas ao mesmo tempo, não tenho nada contra. Isso é comum no futebol. Se fosse alguém que tivesse uma ligação maior comigo, eu que iria. Mas o Ronaldão é uma grande pessoa, e aquele foi um grupo altamente vencedor e qualificado. Eu me sinto um pouco campeão, porque participei daquele grupo”.

NOVA FASE NA CARREIRA

  • Reprodução

    Hoje, Clebão é técnico do Araxá, que disputará no 2º semestre o Módulo II do Campeonato Mineiro

Ausência na Copa de 1998

“Em 98 eu entrei no jogo contra a Argentina, aquele em que o Raí foi vaiado injustamente. O Aldair sentiu uma contusão, eu entrei, e justamente naquele jogo a Argentina acabou fazendo um gol e nós perdemos de 1 a 0. Aí o Zagallo optou por levar outro atleta. Mas são coisas do futebol, não guardei nenhuma mágoa”.

Rápida passagem como dirigente, atual função de treinador

“Fui diretor do Americana e trabalhei como gerente no Mogi Mirim e no Rio Claro [três clubes de São Paulo], mas o que mais me agradou foi ser treinador. Você vai vendo que pode melhorar, todo o tempo que vivi de profissional e amador posso passar para os jogadores agora. Tem sido muito bom. Tenho vivido situações mais próximas do que vivi como jogador”.

Formação para ser técnico

“Meu estilo é um pouco de Telê, um pouco de Felipão, um pouco de Carlos Alberto Silva, Adílson Batista, e o próprio Dorival Junior, um conjunto. Você aprende um pouco com todos. Mas mais o Felipão, pela motivação que ele passa. Na hora do jogo não fico exaltado. Prefiro passar essa motivação, que não é bronca, mas é cobrança, para extrair o máximo dos atletas. No momento certo eu prefiro cobrar, mas com muito respeito, porque esses homens são pais de família. Acho que há um equilíbrio. Não pode ser tão paizão, mas não pode ser um carrasco”.

A inexperiência para comandar um grande time

“No momento eu quero ganhar mais experiência, prefiro esperar um pouco mais. Eu estou aprendendo, crescendo a cada dia. É o início de carreira. Preciso de um pouco mais de tempo. Hoje minha realidade é o Araxá, e eu preciso de um pouco mais de tempo”.

Amigos do futebol

“O mais próximo é o César Sampaio. Joguei no final da minha carreira com o Edmundo, e foi ótimo. O Marcão de vez em quando eu vejo, o Rogério também, mas manter amizade mesmo só com o César”.