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Inimiga nº 1 dos clubes, Gislaine Nunes prepara livro sobre os podres no futebol

Com 2 seguranças e carro blindado, advogada defende Zé Elias, Cristian, entre outros - Arquivo Pessoal/Gislaine Nunes
Com 2 seguranças e carro blindado, advogada defende Zé Elias, Cristian, entre outros Imagem: Arquivo Pessoal/Gislaine Nunes

Bruno Thadeu

Em São Paulo

19/08/2011 07h00

Gislaine Nunes se afastou de polêmicas, mas segue como a maior inimiga dos clubes. Apoiada na Lei Pelé, a advogada protagonizou revolução na relação contratual entre jogador e clube, peitando dirigentes na Justiça e recebendo ameaças de morte. Vivendo sob a escolta de dois seguranças e com carro blindado, Gislaine prepara um livro em que promete dissecar várias mazelas nos bastidores do futebol.

O livro a princípio se chamaria “Vi, Vim e Venci”, mas deverá ter outro nome, diz Gislaine. O mote será mantido: uma mulher que passou a infância na favela e que desafiou medalhões do futebol. A advogada negocia com editoras e crê que o livro comece a ser vendido no primeiro semestre de 2012.

Dirigentes questionam a relação estreita de Gislaine com Kia Joorabchian, ex-comandante da MSI no Corinthians. Kia deixou o país com diversas denúncias de lavagem de dinheiro. A advogada também é classificada por dirigentes como oportunista, aproveitando a pouca instrução de alguns jogadores para ganhar dinheiro deles. 

GISLAINE NUNES COMENTA ALGUMAS PERSONALIDADES DO FUTEBOL

Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos: "Ele é um cara de pau". "Ele pensa que é muito espertinho"Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo: "Ele diz que não tem nada contra mim, mas eu sei que ele me odeia"Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians: "O Dualib não sabia, mas entrei nas reuniões com gravador"

O Marcelo Teixeira é um cara de pau. Eu soube que ele processou o Santos, mas não aceitou a Vila como penhora, bloqueando as contas. Mas quando eu entrei com ação contra o Santos, a primeira coisa que ele fazia era oferecer a Vila como penhora. Quando era comigo, a Vila era importante para ele. Agora mudou. Muito espertinho

Gislaine diz sobre o ex-dirigente santista

Gislaine tem evitado conflitos, segundo ela por uma razão pessoal, mas segue cuidando de casos espinhosos, entre os quais a defesa de Zé Elias, preso por não pagar pensão alimentícia à ex-esposa, e o pedido de indenização de Cristian contra o Corinthians.

Gislaine promete que o livro vai tirar o sono de muitos cartolas e empresários.

“Esse livro vai dar problema para muitos dirigentes. Vai dar dor de cabeça também para mim, porque eu serei ameaçada e processada. Mas é uma coisa que eu preciso dizer, uma obrigação que tenho comigo. Tudo que direi é verdade, como tentativas de subornos dos clubes. Eu tenho provas disso tudo”, revela Gislaine, que afirma ter recebido uma encomenda com um rato morto em uma caixa.

A lista de desafetos de Gislaine é gigante. Os ex-presidentes de clubes Alberto Dualib, Eurico Miranda e Marcelo Teixeira são alguns de seus adversários. Juvenal Juvêncio e Arnaldo Tirone também figuram no grupo.

ADVOGADA RELATA AMEAÇAS DE MORTE E TENTATIVA DE AGRESSÃO

"Meu celular tocou dentro do aeroporto do Rio. Quando atendi, uma voz dizia que estava me vendo, descreveu como eu estava vestida e que só sobraria minha arcada dentária. Imagine o meu desespero"

"Não faz muito tempo uns torcedores do Palmeiras me reconheceram no Shopping Bourbon, ao lado do Palestra Itália, dirigindo a mim dizendo que eu queria levar o Marcos para o Corinthians. Fui ameaçada, fiquei dentro de uma loja e fui protegida pelo meu segurança e por mais um segurança do local", relata Gislaine, que negou ter tentado transferir o goleiro para o Corinthians. "O Kia adorava o Marcos, mas jamais negociei. O Kia sabia que não haveria negociação".

“O Dualib não sabia, mas eu entrei nas reuniões para discutir a dívida do clube com o Luizão munida com gravador. Eu registrei tudo o que o Dualib falou. Vai estar tudo no livro”, revelou a advogada sobre o ex-presidente do Corinthians.

Depois, falou sobre o ex-mandatário do Santos. “O Marcelo Teixeira estava vendo o Jô [Soares] e viu uma entrevista de uma mulher que ele pensou que era eu. A esposa dele disse que não era. Mesmo assim ele ficou vendo o Jô morrendo de medo de que a mulher pudesse falar alguma coisa. Ele foi até tomar leite quente antes de dormir e não dormiu antes de terminar a entrevista”.

Por fim, citou os outros grandes clubes paulistas. “Dirigentes do Palmeiras me olham e viram a cara. O Juvenal [presidente do São Paulo] vai dizer que não, mas ele me odeia”.

CENI X MILLY LACOMBE

  • Juca Varella/Folhapress

    Gislaine defendeu Rogério Ceni em processo contra a jornalista Milly Lacombe, que acusou o goleiro em 2006 de falsificar assinatura de um suposto contrato do Arsenal com o intuito de forçar o São Paulo a aumentar seu salário. A Justiça ordenou que Lacombe indenizasse Ceni no valor de R$ 35 mil.

Gislaine ganhou projeção nos primeiros anos da Lei Pelé (sancionada em 1998), mas os clubes tiveram três anos para se adequarem às novas exigências.

A advogada se classifica como “desbravadora” no ramo do Direito no futebol, citando Pelé como um de seus principais incentivadores. Ela travou disputas com agremiações na Justiça acusando dirigentes de não obedecerem diversas cláusulas contratuais com os jogadores, como direito de imagem, direito de arena, fundo de garantia, entre outros. 

Em seu currículo, Gislaine defendeu Fábio Costa, Marcelinho Carioca, Luizão, Rogério Ceni, entre outros. Ainda ajudou Juninho Pernambucano a sair rompido com o Vasco, o mesmo ocorrendo com Ricardo Oliveira na Portuguesa.

O enfrentamento com clubes e cartolas atingia os torcedores, que também viraram inimigos da advogada. “Os torcedores da Portuguesa tentaram cassar minha carteira na OAB”, relembra.

Advogada critica falta de união dos jogadores

Gislaine passou os últimos anos brigando com clubes e dirigentes em defesa de seus clientes. Para ela, houve uma melhora mascarada nos contratos entre jogador e clube. Mas em sua opinião, os atletas também são culpados pelos atritos.  

“Eu incomodava e enfrentava os dirigentes. Fui chamada de tudo quanto é nome. Os jogadores me procuravam, mas muitos aceitavam o que o outro lado dizia. Quando eu falava que era para eles cobrarem 20% do direito de arena, era para saírem da reunião com os 20%, e não com 5%. Mas os jogadores pensam no individual, não estão preocupados com a classe. Eles não sabem o poder que têm. Se eles quiserem parar por 15 minutos eles conseguem. Mas aceitam a redução dos direitos de arena, aceitam tudo. Muitos nem sabem o que sabem”.