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Craque do Showbol, Axel lembra erro fatal no São Paulo e tempos de boemia com Jr. Baiano

Axel foi contratado pelo São Paulo em 94 após conseguir se destacar no Santos  - Toni Pires/Folha Imagem
Axel foi contratado pelo São Paulo em 94 após conseguir se destacar no Santos Imagem: Toni Pires/Folha Imagem

João Henrique Marques

Em Santos (SP)

27/09/2011 07h00

A longa carreira de Axel no futebol, 20 anos, é recheada de momentos marcantes. O ex-volante deu os primeiros passos no profissional sendo chefiado por Sócrates no Santos, disputou um jogo solitário pela seleção brasileira, encarou a pressão de ser reforço de luxo no São Paulo e sofreu no Morumbi após um erro fatal na final da Copa do Brasil de 2000. O bom estado físico lhe permitiu dar a volta por cima com triunfos particulares contra jovens craques como Robinho e Tevez, e ainda o deixa colhendo frutos até hoje. Por dois anos consecutivos, ele foi eleito o melhor jogador de Showbol do país.

Axel recebeu a reportagem do UOL Esporte em sua casa, em Santos, e lembrou de diversos momentos marcantes da carreira. Com 41 anos, e seis filhos, o ex-volante trabalha atualmente como treinador das categorias de base do Jabaquara, que tem parceria com o Santos para formar atletas, e tem muita experiência para passar.

AS BOAS LEMBRANÇAS DO SÃO PAULO

  • Axel (direita) posa ao lado do lateral Cafu com o taça da Recopa conquistada em 1994

  • Elenco do São Paulo contava com Zetti, Rogério Ceni, Vítor, Leonardo, Válber, Juninho Paulista, Euller, Caio, Doriva, Guilherme, entre outros

Revelado pelo Santos, e promovido ao profissional do clube em 89, Axel teve logo de cara a oportunidade de fazer parte do elenco que excursionou ao Chile no fim do ano, e ficou órfão do treinador Marinho Perez, que acertou a transferência para o futebol português em meio a viagem com o alvinegro.

“Tinha dirigente do Santos com a gente no Chile e nos reuniram no hotel para explicar a situação do Marinho. E nos informaram que na viagem o Sócrates seria o nosso chefe, era a ele que tínhamos que obedecer. No hotel, ele podia fazer o que quiser, beber, fumar. Imagina eu, com 19 anos e ainda desconhecido, como ficava? Não tinha o direito de quebrar regras que ele conquistou. Só ficava admirando mesmo”, lembrou Axel.

“Eu chamava ele de doutor, e via outros chamarem de magrão. Era complicado de entrar na cabeça que aquele cara do lado era o Sócrates. Ainda tinha lembranças da minhas peladas de rua, quando ficava dando passe de calcanhar e gritando: ‘Sócrates’. Foram 15 dias de viagem marcantes. E eu só estava nela por ter ganhado isso como luvas antes de assinar meu primeiro contrato como profissional”, complementou.

Daí em diante, o status de Axel no Santos cresceu significantemente. Tanto que em 1992 foi chamado por Carlos Alberto Parreira para integrar a seleção brasileira que se preparava para a Copa do Mundo de 94 nos Estados Unidos. A convocação aconteceu uma única vez, e o amistoso disputado contra a Costa Rica, em Paranavaí, ficou marcado pelos três gols de Raí na vitória por 4 a 2 – Renato Gaúcho fez o outro.

O bom rendimento no Santos ainda despertou a cobiça do São Paulo. O clube havia conquistado os títulos de 92 e 93 da Libertadores, e no projeto montando para o tricampeonato no ano seguinte, Axel veio como reforço de luxo.

“Estava bastante valorizado. O São Paulo teve quer dar o Gilberto, o Dinho e o Macedo, e ainda bastante dinheiro para me contratar. Joguei a final da Libertadores só que infelizmente perdemos nos pênaltis. Tive bons momentos no São Paulo”, disse Axel.

AXEL LEMBRA DE PARCERIA DE 'BALADAS' COM ZAGUEIRO JÚNIOR BAIANO

  • Axel tem como um dos maiores amigos no futebol Júnior Baiano. A amizade começou em 94 e é cultivada até hoje. A parceria nasceu pela vontade de ambos em aprontar.

    "Fui criado em rua, sempre fui muito de me divertir. O Júnior também tem esse estilo. Nós deixávamos o treino e era feijoada, caipirinha, samba, festejamos por aí. Só que a gente nunca saiu de concentração. Nem precisávamos fazer isso para aprontar", lembrou Axel.

    O ex-volante cansou da vida boemia e se converteu a igreja evangélica pouco depois. "Em 94 entrei em depressão. Não tinha prazer para sair, beber, fazer festa. Era muito baladeiro e isso cansa. O Júnior não é (evangélico), só que a gente se fala por telefone até hoje".

Pelo time do Morumbi, Axel  também amargou o pior momento da carreira. Foi na segunda passagem pelo clube, em 2000, após retornar de empréstimos para o Sevilla-ESP, Bahia e Atlético-PR, onde recuperou o moral sendo capitão do time campeão da seletiva para a Libertadores, em 99, que a mancha foi feita. O ex-volante foi apontado no clube como o culpado pela perda do título da Copa do Brasil.
Axel entrou nos minutos finais da partida decisiva diante do Cruzeiro, no Mineirão, e errou em recuo de bola para o zagueiro Rogério Pinheiro, que fez falta na entrada da área. O volante, presente na barreira, viu Giovanni cobrar a infração por debaixo dos jogadores do São Paulo, e marcar o gol que levou o placar para 2 a 1 para o time de Minas, aos 46 minutos, e garantiu o título.

“Foi horrível. Só que sofri uma falta antes de tocar a bola para trás, por isso passei errado. Depois desse jogo não dava mesmo para continuar no clube. Já sofria com lesão grave no tornozelo e pensei em parar”, contou.

VEJA MAIS SOBRE O EX-JOGADOR AXEL

Nascimento9 de janeiro de 1970
ClubesSantos, São Paulo, Sevilla-ESP, Bahia, Sport, Botafogo-SP, Cerezo Osaka-JAP, Portuguesa Santista, Paraná, Figueirense, Campinense, Pelota e Santacruzense.
Melhor momentoTítullo do Campeonato Paulista com o São Paulo em 2000
ÍdolosRaí, Júnior e César Sampaio
Os mais difícieis de marcarDener, Palinha e Petkovic

A aposentadoria parecia ter chegado mesmo pouco depois, em 2002, aos 32 anos. Axel ficou durante todo o ano sem clube, mas realizou uma cirurgia no tornozelo, e resolveu treinar por conta própria. O Santos o acolheu para a realização de exercícios físicos, e o permitiu treinar  na base. A persistência ainda o deixou com grandes triunfos na carreira.

“Em 2004 joguei o Brasileiro pelo Paraná e tivemos uma vitória marcante contra o Santos de Robinho, sendo que eu tive que marcá-lo...ainda fui o marcador do Tevez defendendo o Figueirense, em 2005, e eliminamos o Corinthians na Copa do Brasil.  Bati bastante nele, não podia dar o mínimo espaço”, relembrou.

A carreira no futebol profissional terminou com uma passagem rápida e frustrante pela Santacruzense em 2008. Nessa época, Axel já dividia o trabalho com performances pelo time do Santos de showbal. Na modalidade, o ex-volante tornou-se “o cara” e em 2008 e 2009 foi o eleito o melhor jogador do país.

“Tenho muita experiência no futebol de salão. Foi assim que comecei a jogar futebol e o showbol é parecido. Agora , por causa do meu trabalho como treinador, tenho participado pouco. Mas o pessoal do time sempre me liga para jogar”, destacou.

Axel soube administrar a carreira e mantém vida de padrão social elevado em Santos. O ex-volante guarda com orgulho os ensinamentos do pai, falecido em 2001.

“Meu pai era operário, comigo são três filhos, mas sempre quis ver um se tornar jogador de futebol. Graças a Deus pude realizar esse sonho que era dele. Esse é a maior emoção que carrego comigo”, finalizou Axel.